Publicado em 31 de dezembro de 2019 às 17:43
Aqui foi o primeiro lugar que apareceu. Tenho na memória o cheiro forte daquele líquido preto, que não sabíamos o que era. Os turistas saindo do mar com os corpos pretos", lembra Irenilze Paixão, coordenadora da Defesa Civil de Conde (PB), sobre a chegada da primeira das manchas de petróleo cru na costa brasileira, em 30 de agosto. Quatro meses depois, nesta segunda-feira, 30, ainda havia novos registros de petróleo cru - e há possibilidade de mais avistamentos até março -, mas o balanço é de que a maior parte das praias está limpa, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.>
Ao menos 980 localidades de 129 municípios foram atingidas em 11 Estados até agora, incluindo praias, rios, ilhas, manguezais e áreas de proteção ambiental permanente. Mas o problema vem diminuindo: só em dois locais há manchas, com mais de 10% da praia contaminada. Do total, pouco mais de metade (507) é considerada "limpa" e outra grande parte (471) só tem 10% de contaminação, conforme balanço do dia 28 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).>
Após dois meses, o petróleo cru voltou a poluir o litoral norte do Ceará. Os registros desta segunda foram as praias de Caetanos de Cima, no município de Amontada, e de Apiques, em Itapipoca, no litoral norte cearense, segundo a Marinha. Para o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) Luis Ernesto Bezerra, um efeito chamado swell pode ter sido a causa. "Esse óleo continua no mar e ondas um pouco mais fortes, criadas por ventos mais fortes, acabam trazendo de volta o óleo que estava em alto-mar", explica. Outra hipótese levantada pelo especialista é de que ainda pode haver óleo no fundo do mar, e as ondas mais fortes trazem a substância.>
A Secretaria de Meio Ambiente também considera essas possibilidades - com os ventos fortes, pode haver reaparecimento de óleo no Ceará até março.>
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Até agora, 22 toneladas de resíduos oleados foram recolhidas em 29 praias de 16 municípios cearenses. O mesmo se vê em outros Estados: na última semana, 30 quilos foram retirados da Praia de Tambaba, localizada em área de preservação ambiental e atrativo turístico de Pernambuco. Ele ainda está nas pedras.>
"A sensação que tenho é de que o óleo é uma assombração, sabe? Continuamos fazendo o trabalho de vistoria nas praias, retirando os resquícios que aparecem com a maré", desabafa Irenilze, de Conde.>
A taxa de ocupação dos hotéis e pousadas no município diminuiu 15% em relação ao mesmo período do ano passado. E o impacto ambiental também afeta o comércio local, restaurantes e as empresas de passeios náuticos. Na Associação dos Pescadores da Praia do Amor, Antônio Jerônimo dos Santos, de 60 anos, diz que está "cismado". "Moro aqui há 35 anos e nunca tinha visto isso", afirma.>
O pescador Felipe Montenegro, de 26 anos, lembra que ainda tem óleo colado no convés "É uma tristeza tudo isso. Ficamos assustados, mas agora acredito que vai melhorar.">
Amostras da águas das praias paraibanas atingidas pelas manchas não apontaram contaminação por petróleo, segundo avaliação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Segundo o governo da Paraíba, o óleo não afeta a balneabilidade>
Embora o balanço mais recente aponte a presença de óleo em 473 localidades (cada localidade equivale a até um quilômetro de extensão), não há uma lista específica de praias não adequadas para o banho. Com manchas em Abrolhos e na Praia de Cumuruxatiba e fragmentos em 223 localidades, a Bahia apenas não recomenda que banhistas toquem ou recolham petróleo e avisem as autoridades (incluindo casos de animais oleados). Já em Alagoas, o governo diz que o óleo em praias como Japaratinga e outras 55 é antigo e ainda não foi completamente retirado por exigir uma busca mais "refinada" pelas prefeituras. (Com colaboração de Priscila Mengue, Leonardo Augusto e Lôrrane Mendonça, especiais para o Estado).>
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