Publicado em 3 de março de 2020 às 18:29
Celso Pinto, um dos mais influentes jornalistas de economia do país e criador do jornal Valor Econômico, morreu na tarde desta terça-feira (3) em São Paulo. >
Afastado das redações desde maio de 2003, quando sofreu uma parada cardiorrespiratória, Celso foi internado com pneumonia há duas semanas e não resistiu a complicações decorrentes da doença. Ele tinha 67 anos.>
Nascido em São Paulo, formado em ciências sociais pela Universidade de São Paulo e jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, Celso começou na profissão em 1974, contratado pela Folha de S.Paulo como repórter de economia.>
Tinha 22 anos de idade e apenas cinco meses de experiência como jornalista quando foi destacado para cobrir uma reunião da Organização Internacional do Café, em Londres.>
>
Saiu-se tão bem que foi recompensado na volta ao Brasil com o primeiro aumento de salário, como lembrou tempos depois o jornalista Matías Molina, que editava a seção de economia da Folha de S.Paulo na época.>
Após alguns meses, Celso foi convidado para trabalhar na Gazeta Mercantil, então o principal diário econômico do país. Ele foi editor de finanças e assuntos nacionais, trabalhou em Brasília e como correspondente em Londres. O jornal deixou de circular em 2009.>
Em 1996, Celso voltou à Folha de S.Paulo como colunista, a convite do publisher do jornal, Octavio Frias de Oliveira (1912-2007). Escrevia quatro vezes por semana, e seus artigos, publicados no primeiro caderno, tornaram-se leitura obrigatória para ministros, banqueiros e empresários.>
Celso foi um dos primeiros jornalistas a apontar os riscos criados pela política de valorização cambial adotada pelo governo Fernando Henrique Cardoso para conter a inflação na década de 90, abandonada em meio a uma crise no início do segundo mandato do tucano na Presidência.>
Nos almoços para discussão de editoriais da Folha de S.Paulo, Celso marcava presença defendendo com veemência suas posições, sempre alicerçadas pelas informações que recolhia com suas fontes. Costumava polemizar com o jornalista Clóvis Rossi (1943-2019), com quem discutia até quando o assunto era a temperatura do ar condicionado da sala dos editorialistas.>
Em 2000, quando os grupos Folha e Globo se uniram para lançar um jornal especializado em economia, Celso foi chamado para liderar o projeto. Ele o desenvolveu com uma equipe que chegou a reunir 160 jornalistas, incluindo vários colegas que tinham trabalhado com ele na Gazeta e na Folha de S.Paulo.>
O Valor chegou às bancas em maio de 2000 e logo se tornou a publicação mais relevante do país em sua especialidade. Celso foi seu diretor de Redação e manteve uma coluna semanal no jornal até 2003, quando passou mal durante uma partida de tênis e teve a carreira interrompida abruptamente.>
Em 2016, o grupo Globo comprou a parte da Folha no Valor e passou a controlar o jornal sozinho. Celso foi membro do Conselho Editorial da Folha de S.Paulo até 2019.>
Uma amostra representativa do trabalho do jornalista foi reunida numa coletânea de 90 artigos editada pela Publifolha em 2007, "Os Desafios do Crescimento: dos militares a Lula". Seus textos eram precisos, didáticos e desprovidos de adornos estilísticos.>
Como o economista Persio Arida contou no prefácio do livro, Celso chegou a ser convidado para trabalhar com a equipe que formulou o Plano Real, em 1994. A ideia era que acompanhasse as discussões do grupo para depois documentar num livro o processo de construção do plano econômico.>
Celso, que trabalhava para a Gazeta Mercantil em Londres nessa época, disse que achava a proposta fascinante, mas recusou o convite. Argumentou que sua credibilidade como jornalista dependia de sua independência e temia perdê-la associando-se a um projeto do governo.>
Tocava piano, usava suspensórios e tinha um humor que os leitores de seus artigos sóbrios ficariam surpresos em conhecer.>
Semanas antes do lançamento do Valor, ao receber da gráfica os primeiros exemplares do número zero numa reunião, passou os olhos pela edição e atirou os jornais para o alto com alegria. A cena foi registrada por um fotógrafo e publicada pelo Valor em 2010, na edição de seu décimo aniversário.>
Casado com a jornalista Célia de Gouvêa Franco, editora-executiva do Valor, Celso deixa dois filhos, Pedro e Luis.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta