Publicado em 7 de junho de 2023 às 18:27
- Atualizado há 3 anos
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), votou nesta quarta-feira (7) contra a tese do marco temporal, mas propôs mudanças em relação à indenização que deve ser paga pela União a proprietários de terrenos em locais ocupados tradicionalmente por indígenas.>
Em seguida, o ministro André Mendonça pediu vista (maior tempo para análise) e suspendeu o julgamento do processo. Moraes havia suspendido o processo anteriormente, em 2021.>
Ele tem 90 dias para devolver a ação para análise da corte, segundo as normas internas do Supremo, mas esse prazo pode ser maior por conta do recesso do Judiciário, em julho.>
O julgamento ocorreu em meio a protestos indígenas pelo país e também na Esplanada dos Ministérios contra o marco. Acompanharam a sessão do Supremo, em plenário, representantes de 21 etnias indígenas. Também estava no local a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara.>
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Na ação, o STF analisa a constitucionalidade do marco temporal, que não é tratada na legislação. A tese afirma que a demarcação dos territórios indígenas deve respeitar a área ocupada pelos povos até a promulgação da Constituição Federal, em outubro de 1988.>
Pelo critério, indígenas que não estivessem em suas terras até a data não teriam direito de reivindicá-las.>
Essa tese é criticada por advogados especializados em direitos dos povos indígenas, pois validaria e legalizaria invasões e violências cometidas contra indígenas anteriormente à data.>
Já ruralistas defendem que a determinação serviria para resolver disputas por terra e daria segurança jurídica e econômica para investimentos no campo>
O julgamento trata em específico de um recurso movido pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) contra uma decisão do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), mas terá repercussão geral reconhecida -quando uma determinação da corte serve de referência para o entendimento de todos os casos sobre o tema.>
Assim, ele serviria de parâmetro para a resolução de, pelo menos, 82 casos semelhantes que aguardam decisão.>
O relator do processo, Edson Fachin, foi o primeiro a votar e refutou a tese do marco temporal, ainda em 2021. Ele disse que a teoria desconsidera a classificação dos direitos indígenas como fundamentais, ou seja, cláusulas pétreas que não podem ser suprimidas por emendas à Constituição.>
Para o ministro, a proteção constitucional aos "direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam" não depende da existência de um marco.>
Já Kassio Nunes Marques reafirmou o marco temporal e votou pelo desprovimento do recurso.>
Ele defendeu que a Constituição de 1988 reconheceu aos indígenas os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, mas essa proteção constitucional depende de um marco temporal.>
Em seguida ao voto de Nunes Marques, Alexandre de Moraes pediu vista. Ele foi o primeiro a votar nesta quarta-feira.>
Moraes seguiu o voto de Fachin em seu voto, mas propôs algumas diferenças em relação ao voto do colega.>
Segundo ele, se não houver esbulho (usurpação da posse), conflito físico ou controvérsia judicial na data da promulgação da Constituição, a União deve indenizar previamente o proprietário de terra localizada em ocupação tradicional indígena, em dinheiro ou em títulos da dívida agrária.>
Além disso, votou Moraes, caso a desapropriação dessas pessoas seja contrária ao interesse público e "buscando a paz social", a União "poderá realizar a compensação às comunidades indígenas, concedendo-lhes terras equivalentes às tradicionalmente ocupadas, desde que haja expressa concordância".>
Moraes afirmou que seu voto é para que não haja "nem oito nem oitenta" em relação à disputa do marco temporal, e para garantir "posse às comunidades tradicionais sem renegar totalmente às pessoas de boa-fé o ato jurídico perfeito".>
Após a leitura do voto, Mendonça disse que diante do novo quadro de julgamento trazido por Moraes, precisava analisar a situação com mais profundidade antes de definir o seu voto, e pediu vista.>
Ao pautar a ação do marco temporal, a ministra Rosa Weber cumpriu uma promessa que fez no ano passado, ao ser empossada presidente do Supremo.>
Nesta quarta, quando André Mendonça pediu vista, Rosa indicou que espera que ele devolva o processo a julgamento antes de ela se aposentar, para que possa votar sobre o caso.>
Rosa completa 75 anos, idade da aposentadoria compulsória de magistrados, no início de outubro.>
Mendonça respondeu a ela: "Peço vista, ao mesmo tempo desde já me comprometendo de voltarmos a essa temática num prazo comum e que nós estabeleçamos, não apenas sob a presidência de vossa excelência, mas também a tempo de uma reflexão".>
A Câmara dos Deputados aprovou no dia 30 de maio um projeto de lei que estabelece o marco temporal. O texto ainda precisa do aval do Senado. Se houver mudanças, retorna para a Câmara.>
Integrantes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avaliaram a criação de um grupo entre o Palácio do Planalto, Congresso e Supremo para tentar resolver da disputa.>
Líderes da bancada ruralista, porém, rejeitaram a sugestão de que a votação fosse adiada até este debate. Já na visão de membros do Ministério dos Povos Indígenas, o julgamento do Supremo é a principal aposta para derrubar a tese.>
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