Publicado em 25 de setembro de 2022 às 16:39
RAQUEL LOPES E LUCAS MARCHESINI>
Grandes empresários, donos de clubes de tiro, proprietários de lojas de armas e CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) ajudam a bancar campanhas de candidatos comprometidos com a pauta armamentista. >
Fazem parte da lista empresários ligados a grupos como Riachuelo, Havan, Três Corações e Localiza, além de nomes do agronegócio.>
As doações citadas são de candidatos que recebem apoio do Proarmas. A entidade se autointitula um movimento pela busca do "direito fundamental" da legítima defesa e apoia postulantes a diferentes cargos na eleição de outubro.>
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Em comum, todos são favoráveis à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), um incentivador do armamento da população. Como a Folha de S.Paulo mostrou, o Proarmas ofereceu apoio a candidatos que querem disputar uma vaga no Congresso em troca de cargos dentro dos gabinetes.>
A reportagem consultou as doações feitas a 91 candidatos, alguns ainda não fizeram a prestação parcial de contas. Juntos eles já receberam mais de R$ 50 milhões, sendo R$ 100,1 mil por meio de financiamento coletivo. As informações são disponibilizadas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).>
O dono da Havan, Luciano Hang, doou R$ 300 mil para Jorge Seif (PL-SC), ex-secretário da Pesca do governo Bolsonaro. A assessoria da Havan divulgou na terça-feira (20) que o empresário fechou sua agenda até a data da eleição para percorrer as cidades catarinenses ao lado do candidato ao Senado. Eles estão sendo recebidos por empresários, prefeitos e lideranças locais.>
Os irmãos Lisiane, Flávio e Elvio Rocha, donos da rede de lojas Riachuelo, doaram R$ 199,8 mil para Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do Desenvolvimento Regional de Bolsonaro.>
Pedro Lima, presidente do Grupo 3 Corações, também doou R$ 75 mil para Marinho. O candidato tenta uma vaga ao Senado.>
Os empresários foram procurados, mas não se manifestaram.>
Salim Mattar, fundador da Localiza e ex-secretário de desestatização do governo Bolsonaro, fez doação para os candidatos Paulo Martins (PSC-PR) e Alexandre Freitas (Podemos- RJ). O primeiro tenta uma vaga para o Senado e o outro para a Câmara dos Deputados.>
Segundo nota enviada pela assessoria de comunicação de Mattar, os nomes apoiados foram escolhidos pelo engajamento às ideias liberais e não para candidatos de movimentos específicos.>
Políticos também fizeram doações para candidatos armamentistas, entre eles o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), contrário à pauta. O parlamentar doou R$ 50 mil para Magno Malta (PL-ES), que tenta uma vaga para senador pelo Espírito Santo.>
"A doação não tem relação com armas, continuo contrário a essa política equivocada. Há pautas com Magno Malta que me identifico, como a defesa da vida desde a concepção, contra a liberação da maconha e jogos de azar. Se você tem 80% dos mesmos ideais com alguém, você já pode se considerar um aliado", disse o senador.>
Donos de clubes de tiro, lojas de armas e CACs também doaram para candidatos apoiados pelo Proamas. Esse grupo enviou quantias principalmente através do financiamento coletivo.>
Foram 913 doadores que usaram essa ferramenta para seis candidatos: César Mello (PSC-PR), Marcos Pollon (PL-RS), Alexandre Freitas (Podemos-RJ), Dárcio Bracarense (PL-ES), Paulo Bilynskyj (PL-SP) e Flávio Pacca (PTB-RJ).>
César Mello lidera o número de doações recebidas por meio da "vaquinha virtual", recebendo R$ 51,6 mil. "As pessoas doam porque acreditam na legitimidade democrática da pauta", disse o candidato.>
Edison Fernandes Cazella, que doou R$ 150 para o candidato, aparece no site da Receita Federal como presidente do Clube Associados do Tiro Esportivo. Procurado pela reportagem, ele não quis se manifestar.>
O sócio-diretor do Espaço Tático W.S, Wilson Saldanha, doou R$ 500 para o candidato Flávio Pacca (PTB-RJ). O empresário disse que a doação foi feita em razão de uma amizade de 30 anos com Pacca e também por causa da pauta armamentista. "Ele me pediu: 'amigo, pode ajudar?'. Ajudei", disse.>
Como a Folha mostrou, candidatos defensores da pauta armamentista e alinhados ao presidente Bolsonaro têm usado clubes de tiro para fazer campanha política.>
Com as flexibilizações de normas armamentistas pela atual administração, o número de clubes cresceu 1.162%, segundo dados do Exército obtidos via LAI (Lei de Acesso à Informação). Até junho, havia no país 1.906 estabelecimentos do tipo, contra 151 no final de 2019.>
Também houve um salto no número de CACs, que são os principais frequentadores dos clubes. Juntos, os membros dessa categoria já têm em suas mãos mais de 1 milhão de armas.>
Os CACs foram grandes beneficiados com a política armamentista da gestão Bolsonaro. Candidatos ligados à pauta pedem votos também para o mandatário.>
Outros candidatos à Presidência já prometeram rever as flexibilizações de normas feitas no atual governo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenção de voto, reforçou seu posicionamento contrário ao armamento da sociedade. Disse ser necessário ter bom senso.>
"Ninguém vai proibir que o dono de uma fazenda tenha uma, duas armas. Agora, se ele tiver 20, não é mais uma arma para defesa. Trinta, pior ainda. É apenas o bom senso", afirmou em entrevista ao Canal Rural, exibida na noite desta quarta-feira (21).>
No governo Bolsonaro, por exemplo, não há mais divisão por nível de atirador desportivo. Qualquer um pode comprar até 60 armas, podendo chegar a adquirir 180 mil munições anualmente.>
Antes, o atirador era dividido em três níveis. O maior nível, aquele que participa de campeonatos nacionais, poderia comprar até 16 armas e 40 mil munições ao ano.>
Nos dois casos, o atirador poderia adquirir armas de uso restrito. Entretanto, com base na em uma decisão monocrática do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, o Exército suspendeu a autorização desse tipo de arma para os CACs. Por nove votos a dois, a corte confirmou posteriormente a decisão de Fachin.>
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