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Gráfico da apresentação sobre vermífugo era ilustrativo, afirma Pontes

Gráfico da apresentação sobre vermífugo era ilustrativo, afirma Pontes

Sem mostrar dados, ministro afirmou que nitazoxanida, remédio popularmente conhecido como "Annita", afirmou que redução de carga viral era "comprovada cientificamente"

Publicado em 20 de outubro de 2020 às 15:07

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O ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes informou que testou positivo para a Covid-19
O ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes informou que testou positivo para a Covid-19. (Futura Press/Folhapress)

governo federal apresentou em coletiva de imprensa na segunda-feira (19), resultados de um estudo clínico sobre o uso do vermífugo nitazoxanida na fase precoce da Covid-19. O Ministério da Ciência e Tecnologia diz que os testes mostraram eficácia do produto, mas a pesquisa não foi divulgada. Na apresentação, em evento com o presidente Jair Bolsonaro e ministros do primeiro escalão, um gráfico usado no material promocional não tem base em dados reais. A fonte da animação de um gráfico em barras decrescente genérico é um banco de imagens.

É possível ver o momento que o gráfico é usado a partir dos 26 minutos no vídeo que está no ar no canal oficial do próprio Planalto. "A missão dada pelo governo federal ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações foi cumprida. E o resultado comprovou de forma científica a eficácia do medicamento na redução da carga viral na fase precoce da doença", diz o narrador no trecho da gravação em que o gráfico fraudado é usado.

O gráfico em movimento está disponível no banco de imagens Shutterstock pelo ID 1054927550. Procurado pela reportagem, o ministério apenas enviou uma cópia do discurso feito no evento pela coordenadora do estudo, a professora da Universidade Federal do Rio (UFRJ) Patrícia Rocco, que não menciona o gráfico. "Temos um medicamento que é comprovado cientificamente capaz de reduzir a carga viral", disse o ministro da Ciência, Marcos Pontes. "Estamos anunciando algo que vai começar a mudar a história da pandemia", disse.

Posteriormente, em publicação no Twitter, o ministro afirmou que "o gráfico da apresentação de hoje era meramente ilustrativo" e que "os gráficos e números da pesquisa serão apresentados depois do artigo publicado". Ele explicou que todos os números e cálculos, já em posse dos pesquisadores, precisavam ser inéditos para a publicação do artigo, por isso os dados não foram mostrados nesta segunda-feira. "Existem centenas de pessoas morrendo diariamente, o que, obviamente, obriga a divulgação da conclusão antes da divulgação dos cálculos", justificou.

PROMESSA DE PUBLICAÇÃO EM REVISTA CIENTÍFICA

Patrícia Rocco disse que o estudo ainda será publicado em uma revista científica. "Infelizmente, nesse momento não poderei relatar mais detalhe sobre o estudo já que ele foi submetido à uma revista internacional e isso faria com que perdêssemos o ineditismo, limitando a publicação. Entretanto, no Brasil continuam morrendo em torno de 500 indivíduos por dia", disse.

Rocco afirmou que a pesquisa foi submetida à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e também aos conselhos de ética de cada unidade hospitalar onde o estudo foi feito. No comunicado à imprensa do ministério, é afirmado que as pesquisas com a nitazoxanida se basearam em um estudo do Laboratório Nacional de Biociências do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, organização vinculada ao ministério. Segundo o governo, a nitaxozanida foi o fármaco que apresentou a melhor capacidade de inibir a carga viral da covid-19 nesse estudo.

Segundo Patrícia, foram 1.575 voluntários. Foram admitidos os que tinham até três dias de sintomas da covid-19. Parte dos pacientes receberam doses de 500 miligramas do medicamento, três vezes ao dia, por cinco dias. Outro grupo recebeu placebos - um "falso remédio" sem qualquer efeito. Segundo o governo, o estudo foi conduzido em centros de saúde de sete cidades, São Caetano, Barueri, Sorocaba, Bauru, Guarulhos, Brasília e Juiz de Fora (MG). Pontes disse que o medicamento não pode ser usado de forma profilática, ou seja, para prevenir a doença.

O ministro afirmou ainda que ele mesmo foi voluntário nos testes. Ele divulgou ter contraído a covid-19 no final de julho. A iniciativa faz parte das ações da RedeVírus, comitê formado por pesquisadores da saúde criado pela pasta em fevereiro deste ano.

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