Publicado em 1 de setembro de 2020 às 12:27
Funcionários públicos da cidade do Rio de Janeiro fazem "plantão" na frente de unidades de saúde municipais para impedir que jornalistas e cidadãos denunciem problemas nos hospitais ou na gestão da saúde municipal. As informações são do site G1. >
Em duplas ou sozinhos, os funcionários batem o ponto na frente de hospitais municipais mandando fotos para comprovar a presença em um grupo no WhatsApp nomeado "Guardiões do Crivella", criado em março de 2018, numa alusão ao prefeito Marcelo Crivella (Republicanos).>
A função desses servidores é dificultar o trabalho de jornalistas ao contradizer e constranger cidadãos para que desistam de conceder entrevista aos repórteres. Os funcionários são organizados e recebem as escalas por meio de três grupos no WhatsApp: "Guardiões do Crivella", "Plantão" e "Assessoria Especial GBP" [Gabinete do Prefeito].>
Em um vídeo, o repórter Paulo Renato Soares, do site G1, é interrompido por José Roberto Vicente Adeliano, funcionário da prefeitura desde novembro de 2018, enquanto entrevista um homem que perdeu o dedo e havia sido atendido no Hospital Salgado Filho, no Méier, bairro da zona Norte do Rio de Janeiro.>
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Adeliano diz repetidamente que tudo vai bem com a saúde na cidade e chega a perguntar ao entrevistado se ele não foi bem atendido no hospital. Questionado pelo repórter sobre ser funcionário da prefeitura, ele não nega e se reserva a dizer que está trabalhando. Enquanto isso, Ricardo Barbosa Miranda, funcionário da prefeitura desde junho de 2018 e dupla de "plantão" de Adeliano, filma tudo com um celular.>
Adeliano e Miranda recebem, respectivamente, R$ 3.229 e R$ 3.422 para vigiar os hospitais. Ambos aparecem em uma foto confirmando presença em frente ao hospital onde, mais tarde, seriam filmados tentando atrapalhar entrevistas.>
Pelo menos quatro funcionários da prefeitura foram identificados no esquema. Destes, três têm cargo especial e um é assistente.>
Os funcionários são cobrados pela pontualidade. Em uma ocasião, quando uma dupla se atrasa e perde a gravação de um repórter, um contato identificado como "ML" pede para que outro membro do grupo ligue para "a equipe do Rocha", em referência ao Hospital Rocha Faria.>
Após a bronca, além da dupla designada para o local, outra dupla também se apresenta para atrapalhar o trabalho da imprensa. O contato identificado como "ML" diz que a equipe falhou e que isso é "inaceitável". Os funcionários afirmam, em resposta, que conseguiram atrapalhar as entradas ao vivo do repórter.>
"ML" é a identificação de Marcos Paulo de Oliveira Luciano, assessor especial do gabinete do prefeito, com salário de R$ 10,5 mil e homem próximo de Crivella, que chegou a trabalhar com o prefeito como missionário na África e no Nordeste do Brasil. Luciano também foi um dos coordenadores da campanha de Crivella para a concorrer ao cargo.>
Alguns dos funcionários que participam do grupo relatam terem sido intimidados e ameaçados com demissão. Além disso, contam que nas reuniões de equipe, que acontecem na prefeitura, é proibido entrar com celulares e os funcionários são inspecionados até mesmo com detectores de metais.>
A prefeitura do Rio de Janeiro não nega a existência dos grupos e alega que reforçou o atendimento em unidades de saúde municipais para "melhor informar a população".>
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