Publicado em 25 de abril de 2020 às 12:06
Destoando até de tradicionais apoiadores de Jair Bolsonaro que, nesta sexta-feira (24), manifestaram críticas, o centrão assumiu a linha de frente da defesa do presidente da República e diz não haver, por ora, clima para impeachment.>
Líderes do agrupamento de siglas como PP, PL, Republicanos, PTB, Solidariedade e PSD -esse último nega fazer parte oficialmente- passaram as últimas semanas em encontros com Bolsonaro, que negocia a expansão da distribuição de cargos e emendas para essas legendas com o objetivo de criar uma base mínima que evite, exatamente, o desenrolar de um processo de impeachment.>
Em linhas gerais, a maioria afirma também que a crise aberta agora com a demissão de Sergio Moro reforça a necessidade de uma aliança em torno do presidente.>
"O momento maior é de combate à pandemia, não podemos fazer com que a demissão de um ministro possa parar o país. Essa é a orientação do PL, que sempre preservou as condições de governabilidade", diz o líder da bancada na Câmara, Wellington Roberto (PB).>
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Para o deputado, que integra a legenda comandada por Valdemar Costa Neto, é preciso haver harmonia nesse momento. "O processo de impeachment é um processo complicado, para casos de uma gravidade muito grande, não vejo o país em condições de fazer um processo dentro do parlamento", diz.>
Embora não assuma abertamente, o PL negocia com Bolsonaro, entre outros, o comando do Banco do Nordeste.>
A mesma linha de moderação é defendida pelo deputado Paulo Pereira da Silva, presidente do Solidariedade. "Nossa função neste momento é garantir governabilidade para ele tocar o país. Temos 400 mortes por dia e uma crise econômica sem precedentes. Se alguém imagina que tem que tirar o presidente, não conte comigo", afirma.>
Políticos desse bloco, vários deles alvos de casos da Lava Jato em tramitação no Supremo Tribunal Federal, são conhecidos críticos da atuação de Sergio Moro como juiz da Lava Jato e mantiveram uma atuação contrária a seus interesses depois que ele assumiu o Ministério da Justiça.>
No início do governo Bolsonaro, o centrão participou de articulações para retirar das mãos de Moro o comando do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e esvaziar o projeto com medidas de endurecimento de leis penais conhecido como pacote anticrime, proposto pelo ministro.>
Agora, alguns desses políticos questionam nos bastidores as declarações feitas por Moro ao anunciar sua saída do governo --indício de que o bloco está disposto a rebater o ex-juiz para dar respaldo político a Bolsonaro.>
Eles apontam que a acusação de Moro de que o presidente queria acesso a investigações da Polícia Federal precisa ser provada. Acrescentam que, se o ex-ministro sabia desses fatos, ele teria sido cúmplice do crime que denunciou.>
Um processo de impeachment só tramita com autorização do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que, embora hoje rompido com Bolsonaro, não tem demonstrado disposição, dizem integrantes do centrão, de deflagrar o processo.>
Caso haja essa autorização, é preciso o voto de pelo menos 342 dos 513 deputados para que o Senado seja autorizado a processar o presidente, momento em que ele seria afastado do cargo.>
O centrão reúne um bloco de deputados que, somados aos bolsonaristas remanescentes no PSL, está em torno de 190 parlamentares. Ou seja, pouco mais do que o mínimo necessário para barrar eventual processo (172).>
Presidente do PTB e um dos mais novos defensores de Bolsonaro, o ex-deputado Roberto Jefferson, disse lamentar a saída de Moro do governo, mas também adota um tom de cautela.>
"O presidente tem a versão dele, e o ministro tem outra. Se ele tiver provas, cria uma situação difícil para o presidente, mas é preciso sustentar com provas. Se não houver, são declarações sem valor", afirma.>
Jefferson, no entanto, criticou o momento da demissão. "O Moro deu um banho de água fria no Brasil. A ação dele foi tão ruim como a invasão do vírus da Covid-19. Não era hora de ele sair.">
O presidente do PTB foi escudeiro de Fernando Collor até seu impeachment, em 1992, e disse que Bolsonaro "não é um zumbi" como o ex-presidente em seus momentos finais no poder. Ele afirmou ainda não acreditar em um pacto de governabilidade entre Bolsonaro e o centrão.>
"Isso não existe. Eu vi isso acontecer lá atrás com o Collor. Isso é conversa de esperto para tirar vantagem do governo. Ou tem condição de governar ou não tem. Se não tem, melhor que ele siga o caminho dele", disse.>
Alguns dos líderes do centrão concordam com o diagnóstico de que Bolsonaro sai fragilizado do confronto aberto com Moro e, por isso, precisará ainda mais do apoio desses parlamentares. Isso faz com que o passe do bloco se valorize nas negociações com o Palácio do Planalto.>
Apesar disso, reconhecem que há um alto grau de imprevisibilidade sobre o cenário político dos próximos dias e semanas, o que pode mudar qualquer cálculo feito nesta sexta.>
"?Estão em negociação com o centrão, além do Banco do Nordeste, órgãos como o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e a Secretaria de Vigilância em Saúde, além de discussões sobre a recriação do Ministério do Desenvolvimento.>
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