As fotos e os vídeos registram apenas uma parte de um momento grandioso: o reencontro do Theatro Carlos Gomes com sua cidade, o brilho do palco restaurado, a praça viva, a música ocupando o ar com a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo e o cantor Silva. Mas não mostram o caminho até aqui: os meses silenciosos de trabalho, as decisões difíceis, as mãos que, com precisão e afeto, devolveram ao teatro sua dignidade histórica.
Quando chegamos à gestão, em 2019, encontramos um teatro ferido. Infiltrações, risco elétrico, adornos históricos comprometidos, ar-condicionado parado. Diante disso, existiam dois caminhos: um reparo imediato, paliativo, que adiaria o problema, ou um restauro profundo, demorado, minucioso. O governador Renato Casagrande escolheu o caminho da responsabilidade: não o mais simples, mas o mais necessário. E foi essa decisão que nos conduziu até o dia em que as portas se abriram novamente.
O restauro, realizado pelo Instituto Modus Vivendi, com investimento de R$ 20 milhões (BNDES e EDP, via Lei de Incentivo à Cultura), começou bem antes. Primeiro um minucioso levantamento conduzido pela Secretaria da Cultura seguiu para licitação que encontrou forma no projeto arquitetônico primoroso da Arquistudio.
Todo esse processo revelou preciosidades escondidas: douramentos originais no proscênio, nos camarotes e nos capitéis; a pintura marmorizada orientada pelo professor Nelson Porto; e a cor histórica do prédio, o tom camurça revelado pela prospecção estratigráfica, aprovada pelo Conselho Estadual de Cultura. Foram instalados novos elevadores, climatização moderna, banheiros acessíveis e a estrutura que receberá a nova cafeteria com vista para a praça.
A reabertura trouxe, além do concerto e da visitação pública, a intervenção artística de Flávia Junqueira e o anúncio da temporada de reinauguração, que seguirá até março de 2026, além do programa de visitas mediadas, que começará nas próximas semanas.
Escrever sobre o Theatro Carlos Gomes é falar de memória e de futuro. É lembrar que este é um patrimônio do povo capixaba, um espaço onde a arte, a história e o afeto se cruzam. Sua restauração não é apenas a entrega de uma obra: é a reafirmação de uma política cultural que entende que conservar o que somos também é construir o que podemos ser.
Agora, de volta à cena, o teatro nos convoca novamente. A ocupar, a sentir, a viver a programação que chega. Cultura é feijão com arroz. E o nosso palco maior retorna como um prato cheio de arte e pertencimento para o Espírito Santo.
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