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É secretário de Estado da Segurança Pública

Precisamos vencer a intolerância e apostar na cultura da paz

Os chamados crimes de proximidade são um grande desafio para a segurança pública. Por suas características, que pressupõem algum tipo de vínculo entre assassino e vítima, são extremamente difíceis de serem previstos e/ou evitados

  • Eugênio Ricas É secretário de Estado da Segurança Pública
Publicado em 27/04/2024 às 04h30

Aquele foi um domingo diferente para as duas famílias. Na casa do Sr. Manoel não teve o tradicional almoço com muita comida, risos e brincadeiras com os netos.*

O domingo foi cinza, de muita tristeza, dor e preparativos para o enterro que aconteceria no dia seguinte.

Sr. Manoel, um empresário de 73 anos, foi morto pelo Dr. Luis, um advogado de 33 anos de idade. Na casa do Dr. Luis, o domingo também foi de tristeza (não tanto quanto na casa do Sr. Manoel, mas também de muita tristeza). Lá também não houve o tradicional almoço de domingo. O passeio na praia com os filhos também não aconteceu*.

Tudo isso foi substituído pela prisão e a realização da audiência de custódia, que culminou com a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, mudando de forma repentina e decisiva a rotina da família do Dr. Luis.

A discussão que levou à morte de Manoel de Oliveira Pepino por Luis Hormindo França da Costa teve início porque o empresário estava com seu cachorro sem coleira, gerando questionamentos por parte do advogado. A discussão evoluiu até o ponto em que, ambos armados, passaram a trocar tiros um contra o outro. Isso tudo no meio do bairro Mata da Praia, em Vitória. Relatos de testemunhas apontam para cerca de 30 tiros, um verdadeiro “faroeste” no coração de um bairro tranquilo.

Essa cena dantesca aconteceu na noite de sábado (20). Em vídeos é possível ouvir os estampidos dos tiros e ver os clarões das armas. Eles foram amplamente divulgados pela imprensa, chocando a todos que, com um mínimo de bom senso, também não conseguem entender como uma discussão por causa de cachorros pode acabar com um ser humano perdendo seu bem mais precioso, a vida.

Um pedido de desculpas teria evitado uma morte estúpida. A decisão de ir para casa e respirar, pensar um pouco mais a respeito dos fatos, teria evitado um assassinato, a cadeia. É imprescindível que apostemos mais no diálogo, na tolerância, na cultura da paz. Decisões precipitadas, tomadas no calor dos acontecimentos, acompanhadas por atos de violência, levam, na maioria das vezes, a resultados extremos e trágicos. O acesso a armas de fogo potencializa o risco dessas tragédias acontecerem.

Os chamados crimes de proximidade são um grande desafio para a segurança pública. Por suas características, que pressupõem algum tipo de vínculo entre assassino e vítima (amizade, familiar, vizinhança, etc) e a ocorrência em locais específicos (dentro ou na proximidade das residências, em festas, etc), são extremamente difíceis de serem previstos e/ou evitados.

Bom que se frise, inclusive, que isso vale para qualquer bairro, com moradores em melhor ou pior situação financeira, e para qualquer pessoa, independentemente da classe, sexo, cor, credo, opção religiosa ou orientação sexual.

Diante desse cenário, é importantíssimo que nunca deixemos de exaltar a necessidade de diálogo. É fundamental que todas as lideranças, pais e mães, professores, líderes religiosos, policiais, empresários e sociedade civil de modo geral reforcem, sempre que possível, a importância da tolerância, da paciência e da cultura da paz.

O Governo do Estado do Espírito Santo tem investido muito na segurança pública. São milhões investidos na contratação de efetivo para as polícias, aquisição de viaturas, investimentos em tecnologia e inteligência, que têm sido decisivos para reduções sistemáticas e consistentes no número de homicídios.

Manoel de Oliveira foi morto com um tiro na cabeça na Mata da Praia, em Vitória
Manoel de Oliveira foi morto com um tiro na cabeça na Mata da Praia, em Vitória. Crédito: Divulgação/Redes Sociais

É importantíssimo, por outro lado, que as pessoas (que são as destinatárias dos serviços públicos) se conscientizem que é fundamental que cada um faça sua parte. Somente assim teremos um Estado e um país efetivamente seguros, onde crimes e mortes banais não façam parte de uma triste realidade que atualmente ainda nos assombra.

*Os detalhes familiares são fictícios/presumidos, utilizados apenas para exemplificar a mudança abrupta de rotina causada pela violência da morte injustificada de um ser humano por outro.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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