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É gerente-geral de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Samarco

Cultura inclusiva: onde o assédio não tem vez

não houve um aumento no número de casos, mas uma sensibilização da sociedade sobre o tema e um nível de consciência que não tolera atitudes que eram normalizadas no passado e que agora estão cada vez mais expostas

  • Vera Lucia É gerente-geral de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Samarco
Publicado em 02/05/2023 às 15h13

Com os pés no chão e sem romantizar, precisamos mergulhar nas dores e cicatrizes de nosso tempo, assimilar os desafios e entender que a evolução e transformação demandam tempo, mas, sobretudo, ações concretas e imediatas. Com isso, compreender que em uma sociedade complexa, as soluções não são únicas e que na beleza da diversidade estão algumas de nossas respostas.

Como diversidade, equidade e inclusão devem andar lado a lado, ao refletir sobre o assédio, trago comigo uma certeza: a cultura inclusiva é um alicerce para o combate a este tipo de comportamento, que deixa marcas profundas.

Antes de tudo, é sempre oportuno reforçar que o assédio de qualquer tipo é um ato criminoso, que fere e viola os Direitos Humanos. Ainda que recente em nossa história, termos uma legislação que tipifica estas condutas como crime é um avanço, que nos permite sair da barbárie e aumentar o nosso nível de civilização.

Sabemos que a caminhada ainda é longa e as lições aprendidas nesta jornada não devem ser desconsideradas, pois são elas que fazem a sociedade evoluir e nos encorajam a seguir adiante. Cito com intencionalidade a coragem, pois enfrentar e propor mudanças em realidades adversas, romper barreiras, denunciar e falar sobre assédio é um ato que, infelizmente, ainda exige força.

Acredito que um dos fatores que estimula esta força é a conscientização. Neste sentido, datas como o 2 de maio, dia de Combate ao Assédio Moral, são importantes gatilhos e um convite ao amplo debate e à reflexão. Notamos, por exemplo, um espaço maior na imprensa e redes sociais para denúncias e pautas sobre assédio.

Em minha percepção, não houve um aumento no número de casos, mas uma sensibilização da sociedade sobre o tema e um nível de consciência que não tolera atitudes que eram normalizadas no passado e que agora estão cada vez mais expostas.

Para romper paradigmas, fortalecer um ciclo virtuoso e promover uma transformação cultural, todas as organizações, têm uma função social e um papel essencial. Como disse ao iniciar esta conversa, creio, fortemente, que esta atuação está diretamente ligada com a promoção de uma cultura inclusiva. Pois, em um ambiente inclusivo não há espaço para o assédio, muito pelo contrário, é um lugar de segurança psicológica.

Jovens fazendo planejamento de tarefas em escritório
Jovens fazendo planejamento de tarefas em escritório . Crédito: Foto de Christina Morillo no Pexels

Entres os atributos desta cultura está dar espaço para as pessoas serem quem elas são, com o devido lugar de fala e de escuta ativa. Está também oferecer oportunidades de desenvolvimento de forma equânime. Trata-se de uma cultura que acolhe e adapta às necessidades das pessoas.

Para construção desta cultura, deve-se entender, primeiramente, que a diversidade existe na sociedade. Afinal, somos múltiplos e únicos. Como parte da sociedade, percebemos que há uma lacuna e a necessidade de aumentar essa representatividade dentro das instituições. Entretanto, permita-me fazer um alerta: uma cultura inclusiva não é aquela em que há diversidade. Precisamos ir além e, para fazer esse movimento de maneira exitosa, é necessário romper barreiras que impedem o acolhimento e a participação efetiva da diversidade.

Desta forma, o assédio é um dos principais elementos ofensores de uma cultura inclusiva e está arraigado no machismo, no sentimento equivocado de supremacia racial e de gênero, por exemplo. É o comportamento de quem não aceita e não respeita as diferenças e discrimina o que considera como passível de agressões, de ofensas.

É importante dizer que o assédio não acontece somente com grupos minorizados. Qualquer pessoa pode sofrer ou assediar, estabelecendo uma relação abusiva, humilhante e constrangedora. Nas várias formas de manifestação do assédio moral, o assediador pode estar em um nível hierárquico superior ou ser um colega de trabalho. Já o assédio sexual ocorre quando há uma relação de poder estabelecida. Caso contrário, trata-se de uma importunação sexual, que vale lembrar, também é crime.

Quando esses casos ocorrem, vivenciamos o exato oposto da cultura inclusiva, experimentamos um ambiente tóxico, com graves prejuízos às vítimas. Não queremos que situações de assédio aconteça em nosso ambiente, mas entendemos que além de ações preventivas, devemos sensibilizar as pessoas para que estejam atentas e saibam como agir ao presenciar o ato, não somente no ambiente organizacional, mas em qualquer lugar.

Por isso, outro aspecto essencial na cultura inclusiva e combate ao assédio são os meios de acolhimento e canais de denúncia. É necessário que as equipes envolvidas estejam preparadas para atuar caso ocorram essas situações, com uma apuração criteriosa e atendimento humanizado, que preserve a vítima. Na Samarco, incentivamos que todo ato que fere a dignidade da pessoa deve ser relatado, independente de quem seja a vítima ou o assediador.

Nas empresas as normas de conduta e valores devem ser amplamente divulgadas, de forma compreensível e acessível. Uma pessoa consciente de seus direitos e deveres é uma forte aliada e guardiã da cultura inclusiva. Por isso, lançamos este ano, na Samarco, a nossa Política de Direitos Humanos e avançamos diariamente em nosso Programa de Diversidade, Equidade e Inclusão.

Para além das políticas e diretrizes, é necessário um esforço de sensibilização para que elas sejam exercidas na prática e incorporadas como cultura. Nesta jornada, percebemos a importância do envolvimento da liderança. Somente é possível avançar na cultura de inclusão com o engajamento de todos (as) empregados (as), ampliando a consciência e capacitando sobre o que causa dor no outro.

Mais do que tratar a outra pessoa como eu gostaria de ser tratada, é entender como a outra pessoa deseja ser tratada e respeitá-la. Por isso, reitero: a cultura inclusiva é a melhor forma de combater o assédio. Apesar de uma longa jornada pela frente, acredito que o caminho já está apresentado e pavimentado. Seguimos, sempre, um passo de cada vez.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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