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É advogada, conselheira e presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-ES

Casos de assédio no ambiente de trabalho merecem atenção especial

As políticas para combater o assédio precisam andar ao lado das organizações, para que  possam compreender a necessidade urgente de criar um ambiente de trabalho antirracista, antissexista, devendo ser observada a equidade  para todas as mulheres

  • Genaina Ferreira Vasconcellos É advogada, conselheira e presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-ES
Publicado em 20/09/2022 às 11h58

É fato que dezenas de casos de assédio nos ambientes corporativos vêm se tornando públicos nos últimos meses. Um índice que enfatiza a necessidade e a urgência de tornar esses locais mais inclusivos, sobretudo para as mulheres. A questão é que as empresas, em geral, precisam mudar a cultura interna, já enraizada há anos, no que diz respeito à inserção das mulheres no universo corporativo.

O primeiro passo para a criação de um ambiente corporativo seguro, neste caso, é identificar o que é assédio para todos e todas que fazem parte da empresa. Lembrando que o assédio é um dos grandes entraves para o desenvolvimento profissional das mulheres.

Raiva, nojo, impotência, vergonha, medo e humilhação são alguns dos sentimentos já relatados pelas vítimas que passaram por essa situação. O assédio, seja moral ou sexual, atinge as mulheres de forma desigual, tendo uma maior predominância quando se trata de negras (pretas e pardas) e mulheres com rendimento menores, entre dois e seis salários. Mas também não deixam de ocorrer, embora em menor escala, com as profissionais que ocupam posições hierárquicas mais altas.

A cultura organizacional, os valores e a liderança da empresa têm muito a dizer sobre os casos de assédio sexual ou moral. Olhar para o mundo do trabalho com interseccionalidade é fundamental para compreender a origem dessas violências. Segundo estudo do Desigualdades Sociais por Cor e Raça, do IBGE, 32,9% das pessoas pardas e pretas estão abaixo da linha da pobreza. A população branca na mesma condição representa 15,4%.

Por isso, as políticas para combater o assédio precisam andar ao lado das organizações, para que essas possam compreender a necessidade urgente de criar um ambiente de trabalho antirracista, antissexista, devendo ser observado a equidade e a igualdade para todas as mulheres.

Esse processo de conscientização é o único caminho para a chegada de mudanças organizacionais estruturais, que criem ambientes de trabalho livre de violência. O ciclo do assédio traz impactos emocionais e profissionais profundos para a vítima, podendo muitas vezes levar ao suicídio.

O medo da vítima denunciar e não ter uma resposta efetiva é uma das maiores barreiras para a denúncia. O descaso é outro ponto, podendo quem está escutando não dar a relevância necessária ao fato, além do medo de se expor e até ser demitida, entre outros. E muitas vezes, infelizmente, a vítima fica com a responsabilidade da solução do caso, o que gera um ciclo de adoecimento, que pode até resultar no seu afastamento, contribuindo para a descrença em seguir a sua carreira.

É muito importante que além de estimular a denúncia, as empresas públicas ou privadas, as organizações, as instituições, os sindicatos, os conselhos, entre outros, desenvolvam ações preventivas, criando ouvidorias especializadas em casos de assédio e atendimento às vítimas, com a efetiva atuação de profissionais qualificados e comprometidos.

Também é primordial desenvolver mecanismos, para além da punição do agressor, capazes de reparar o dano às vítimas, reconhecer a existência de um problema a ser corrigido e restaurar o ambiente de trabalho, além de outras ações nesse sentido, adotando um processo de denúncia seguro e transparente.

Assédio mata. Denuncie!

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