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É secretário-executivo da Câmara Empresarial do Turismo

3 estratégias para o desenvolvimento do turismo no ES

O turismo tem a peculiaridade de ser uma espécie de exportação na qual o importador vem buscar o serviço junto ao fornecedor

  • José Antonio Bof Buffon É secretário-executivo da Câmara Empresarial do Turismo
Publicado em 23/06/2025 às 15h25

O documento intitulado "Direções Estratégicas para 2035", que sintetiza as proposições do Planejamento ES 2035, nos traz uma ampla gama de ações, projetos e iniciativas voltadas ao desenvolvimento do turismo no Espírito Santo. É a primeira vez que turismo comparece com importância econômica estratégica e com grande ênfase em um Planejamento Estratégico do Espírito Santo.

Nesse particular, há pouco a se acrescentar, posto que se trata de um documento bem elaborado, abrangente e detalhado, resultado de uma metodologia bastante inovadora, em termos de Planejamento Estratégico.

Consultada a Fecomércio-ES pelos responsáveis pela elaboração do ES 500 Anos, achamos por bem, além de propor ajustes tópicos, evidenciar as razões mais fundamentais para que o Espírito Santo priorize o desenvolvimento do turismo nos próximos anos, de forma permanente, sem descontinuidades.

Consideramos que devemos ter em mente três dimensões estratégicas para se justificar e orientar o apoio ao desenvolvimento do turismo no Espírito Santo.

1. Instaurar uma dinâmica econômica do turismo “autônoma”, que diversifique a economia, fortaleça o segmento de negócios locais, gere trabalho, emprego, renda e impostos

Essa é a dimensão prevalecente nos documentos oficiais e no pronunciamento de autoridades públicas e empresários, quando se tem em mente a reforma tributária e as possíveis consequências no potencial de arrecadação de impostos.

O turismo tem a peculiaridade de ser uma espécie de exportação na qual o importador vem buscar o serviço junto ao fornecedor, o que gera incremento da renda e do emprego e a concomitante arrecadação dos impostos na origem.

O turismo tem capacidade única de dinamizar a economia local e regional, especialmente em áreas com vocação natural, cultural ou histórica, sem requerer plantas industriais de grande porte, que trazem, em maior ou menor graus, impactos territoriais e paisagísticos.

Ao promover a circulação de pessoas e a valorização de atrativos e produtos locais, o turismo gera demanda para pequenos negócios, ativa cadeias produtivas diversificadas (alimentos, artesanato, transporte, hospedagem, eventos, cultura), e cria oportunidades de trabalho, renda e arrecadação de impostos.

No Espírito Santo, sua integração com segmentos como o agronegócio, a economia criativa e os serviços podem ampliar a base econômica e reduzir a dependência de setores extrativos.

Essa dimensão exige organização do mercado turístico, planejamento, qualificação profissional, infraestrutura adequada e políticas públicas participativas, continuadas, articuladas e cooperativas, que envolvem o segmento empresarial e suas entidades representativas.

Esforços de divulgação e promoção cabem, essencialmente (mas não somente), ao governo, enquanto comercialização, recepção e atendimento são esforços que cabem essencialmente ao segmento privado.

2. Promover sustentabilidade, conservação e recuperação do patrimônio ambiental e cultural

O turismo sustentável é uma resposta concreta aos desafios ambientais e sociais contemporâneos e uma oportunidade para regiões de baixo dinamismo, com vulnerabilidades e riscos ambientais que, em regra, padecem de esvaziamento demográfico.

Nesses casos, o turismo valoriza e protege os ecossistemas e o patrimônio cultural, ao transformar recursos locais em ativos econômicos, gerando renda e emprego sem esgotá-los.

Terço gigante
O Terço gigante do Convento da Penha durante as celebrações da Festa da Penha. Crédito: Carlos Alberto Silva

No Espírito Santo, onde há biodiversidade expressiva, relevo extremamente acidentado, Mata Atlântica, litoral extenso e rica diversidade cultural, o turismo pode contribuir para a conservação de áreas naturais, valorização de comunidades tradicionais e a transmissão de saberes e práticas culturais.

Ao apoiar o turismo de base comunitária, a economia circular e o consumo consciente, promove-se uma lógica de regeneração e corresponsabilidade entre turistas, empresários e moradores locais.

Essa dimensão é estratégica para um modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável.

A nosso ver, essa dimensão é fundamental na estratégia de desenvolvimento do Espírito Santo, de vez que são exatamente as áreas e territórios estagnados ou com vulnerabilidades ambientais as que melhor se prestam, sob essa perspectiva, ao desenvolvimento do turismo, justamente aquelas que se situam distante dos grandes eixos de dinamização e não tão aptas para o crescimento industrial e para a agricultura intensiva em capital.

3. Estimular e promover a cultura de bem-vivência, a paz e proporcionar qualidade de vida percebida

Mais do que promover o desenvolvimento econômico do Espírito Santo, sob condições de sustentabilidade, o turismo possui uma dimensão transcendental, ocasião em que se porta como ferramenta para construção de uma cultura de convivência, paz, hospitalidade e bem-estar coletivo.

Atentar para a “dimensão transcendental” do turismo é reconhecer que ele pode despertar sentidos, emoções, pertencimento e empatia, ao conectar com territórios, culturas, saberes, modos de viver.

Essa dimensão “intangível” ou simbólica é o que transforma uma simples viagem em uma experiência de vida — tanto para o visitante quanto para quem o recebe.

O turismo favorece o encontro entre diferentes, estimula o orgulho do lugar e o senso de pertencimento, fortalece o tecido social e pode contribuir para uma sociedade mais pacífica, diversa e cooperativa.

Além disso, o turismo voltado à saúde, ao bem-estar, à espiritualidade e à reconexão com a natureza pode contribuir para o equilíbrio emocional e físico da população, em especial de idosos, jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade.

No Espírito Santo, onde já há movimentos voltados à qualidade de vida e à promoção da longevidade, essa dimensão reforça a ideia de um turismo transformador e humanizador, capaz de melhorar a vida tanto de quem viaja quanto de quem acolhe.

Essa dimensão representa, por tudo isso, o “metaobjetivo” ou o “objetivo dos objetivos” para se apoiar, promover e desenvolver o turismo.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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