Uma amiga e a filha de Giovana Bazoni, de 38 anos, têm alergia aos tradicionais absorventes vendidos em farmácias e supermercados. Para atender a necessidade das duas, ela resolveu apostar em produtos feitos de pano. Foi assim que surgiu a empresa Chão de Casa.
Além de estudar sobre os absorventes ecológicos, ela também decidiu aprofundar seus conhecimentos em um assunto pouco comentado, a educação menstrual.
Giovana tornou-se mãe aos 17 anos e, ainda muito jovem, já começou a trabalhar. Seu último emprego com carteira assinada foi como vendedora em um shopping da Grande Vitória, mas, durante a pandemia, foi demitida. Como precisava de uma renda, ela começou a produzir as máscaras de pano, muito usadas logo no início da Covid.
“Foi nessa época que aperfeiçoei a costura. Já tenho a máquina há muitos anos e sou apaixonada por trabalho manual, que herdei das minhas avós. Por ser uma mulher feminista, parei para pensar e percebi que fazia muito sentido trabalhar com a política de diálogo com outras mulheres”, comenta.
Giovana lembra que o absorvente industrializado conta, em sua composição, com o plástico. Ao longo da vida, as pessoas menstruam por cerca de 40 anos, gerando aproximadamente 100 quilos de lixo, como observa a empreendedora.
“É um impacto grande. Costumo dizer que o primeiro absorvente descartável ainda está em algum aterro, pois o plástico demora de 400 a 500 anos para se decompor."
A artesã comenta que foram nove meses de pesquisa, período que, segundo ela, foi uma nova gestação. “Por ser algo muito novo, esse é o tipo de produto que não tem muita informação disponível. Comecei a estudar vários tipos de tecidos, fui melhorando e cheguei a algo 100% confiável”, lembra.
Até por se tratar de um assunto recente, a produção desses itens também esbarra em outro problema, que é o tabu menstrual, como alerta Giovana.
O absorvente ecológico criado por Giovana pode ser usado por qualquer pessoa que menstrua. Segundo ela, a peça consegue cumprir a função de contenção do fluxo menstrual, tem diversos tamanhos e a durabilidade de quatro anos. Toda a produção é artesanal, no quarto de costura que fica na casa dela. Quem compra as peças ainda recebe uma cartilha de como lavar, manter e até como é feito.
Os absorventes reutilizáveis de Giovana são feitos em diversos tamanhos e atendem desde a primeira menstruação até aquelas pessoas com muito fluxo ou que precisam de um kit pós-parto. Os produtos são vendidos de R$ 25 a R$ 40 em feiras com outras mulheres empreendedoras, redes sociais e internet.
Além disso, sempre que pode, Giovana prioriza e contrata serviços de outras mulheres. “Acredito nessa rede de apoio, de uma ajudar a outra. A identidade da minha empresa foi feita por uma amiga, por exemplo. Muitas delas me ajudaram a chegar onde estou”, conta.
Quando Giovana fala que vende produtos menstruais, a reação das pessoas, geralmente, é de espanto. Muitas delas acreditam que há apenas os tradicionais absorventes industrializados.
“Existe uma variedade imensa de opções. Além dos absorventes, também existem as calcinhas, os coletores, entre outros itens. Uma das coisas que me incomodavam muito era o lixo. As questões ambientais também fazem muito sentido para mim. Também falamos muito sobre diversidade, pois não são apenas mulheres que menstruam, têm também os homens trans, as pessoas não binárias”, descreve.
Giovana analisa que nem todas as pessoas que menstruam têm uma boa relação com esse período, pois muitas sentem cólica, têm fluxo intenso, entre outros fatores.
“A gente não precisa amar a menstruação, mas precisamos naturalizar o assunto e a relação com os nossos corpos. E isso pode ser feito com a educação. Os produtos reutilizáveis exercem muito essa função”, finaliza.
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