Morta pelo primeiro namorado, Karolina era órfã e sonhava em formar família
Morta pelo primeiro namorado, Karolina era órfã e sonhava em formar família. Crédito: Acervo pessoal

Morta com corte no pescoço, Karolina era órfã e sonhava ter família

Aos 17 anos, a jovem foi assassinada com um corte no pescoço. O ex-namorado, com quem ele mantinha uma relação conturbada, entre idas e vindas, foi preso e confessou o crime

Tempo de leitura: 6min
Vitória
Publicado em 24/09/2020 às 23h33

Aos 13 anos, Karolina de Souza Silva iniciou o primeiro namoro. Órfã, a adolescente sonhava em constituir uma família. Mas esse e outros planos não chegaram a ser concretizados. Aos 17 anos, a jovem foi assassinada. O ex-namorado, com quem ela manteve  uma relação conturbada nos últimos quatro anos, entre idas e vindas, confessou o crime. Gustavo David Coutinho, de 19, foi preso logo após contar que cortou o pescoço da vítima com uma serrinha de aço, em São Pedro, Vitória, na madrugada desta quinta-feira (10). 

Segundo a família, o acusado sempre mostrou-se ciumento e não aceitava o término do namoro. Por medo de represálias, os familiares da vítima entrevistados nessa reportagem preferiram não se identificar. 

Aos 13 ANOS: PRIMEIRO NAMORO MARCADO POR VIOLÊNCIAS

Depois que o pai morreu de câncer, Karolina deixou a mãe, que vivia em Linhares, no Norte do Estado, para realizar o desejo de morar na Capital. A menina passou a ficar na casa dos irmãos, na região de São Pedro, Vitória, desde muito nova. Foi quando, no início da adolescência, Karolina conheceu Gustavo, que na época tinha 15 anos. Os dois eram vizinhos.

Mas o primeiro namoro da jovem, que sonhava em casar e ter filhos, transformou-se em pesadelo. Logo, o namorado passou a mostrar sentimento de posse com Karolina. Sempre ciumento, Gustavo era agressivo quando contrariado. Ele chegou a ficar internado em um centro socioeducativo, por bater na namorada.  

"Nesse primeiro momento, eles ficaram juntos por uns dois anos. Mas ele era muito ciumento e a Karol resolveu terminar no dia do aniversário dela de 15 anos. Ele não aceitou e bateu muito nela. Foi quando descobrimos que ela estava vivendo uma relação violenta. A família se mobilizou, ele foi detido, ela pediu uma medida protetiva, e o namoro acabou. Desde então, não falamos mais sobre ele. Karol voltou a viver a vida dela, conheceu outras pessoas e começou a trabalhar como menor aprendiz", contou uma familiar, que preferiu não se identificar. 

AOS 15: AMEAÇAS E MEDO APÓS TÉRMINO 

Em janeiro de 2020, a mãe da adolescente teve morte natural. Órfã, ela permaneceu vivendo na casa de parentes. Mas após conseguir o trabalho como menor aprendiz, começou a pagar um aluguel para morar sozinha. Atuando no escritório de uma empresa de engenharia, em Vitória, Karolina planejava fazer cursos para conseguir um emprego na área.

"Mesmo separados, o ex-namorado não deixava a Karol em paz. Fazia mensagens de ameaças chegar até ela, dizendo que a mataria quando fosse solto. Ela tinha medo. Tanto que chegou a mudar de número de telefone, mudou o próprio nome nas redes sociais e ficou um tempo morando com a avó em Linhares. Depois de uns seis meses, ela retornou para Vitória, onde começou a trabalhar e retomar a vida", contou a familiar. 

Karolina de Souza Silva, de 17 anos, foi assassinada com um corte no pescoço
Karolina de Souza Silva, de 17 anos, foi assassinada com um corte no pescoço. Crédito: Reprodução/Redes Sociais

AOS 16 ANOS: O REENCONTRO COM O EX-NAMORADO

Mas cerca de 1 ano e meio depois, quando Karolina tinha 16 anos, ela reencontrou Gustavo. O rapaz havia voltado para a casa dos pais, em São Pedro, após ser internado e passar por medidas socioeducativas - já que cometeu o crime de agressão quando ele também era menor de idade. 

De acordo com os irmãos da adolescente, eles não tiveram nenhuma informação de que os dois teriam voltado a namorar. Mas uma familiar próxima à vítima, que prefere não se identificar, contou que em momentos de desabafos Karolina confessou que retornou para a relação porque Gustavo se disse arrependido, prometendo mudanças.

Há cerca de dois meses, o contrato da adolescente como jovem aprendiz acabou. Sem ter como bancar o aluguel, ela voltou a ficar hospedada na casa de parentes. Foi quando, de acordo com uma familiar próxima, Karolina passou a morar com Gustavo. O pouco tempo que os dois viveram na mesma casa, porém, foi repleto de abusos e violência. Até que os pais do acusado teriam pedido para que a jovem saísse da residência, temendo pela segurança dela. 

"Ele dizia que a amava muito, que estava arrependido de tudo, que queria ficar com ela. Ela dizia que o amava também, que acreditava que ele tinha mudado no tempo que ficou detido e deu uma nova chance. Mas aí ela me disse que ele voltou muito pior, mais ciumento e mais violento. O último término aconteceu quando ele exigiu ver o telefone dela. Ela disse que não tinha nada demais no aparelho, mas que não ia entregar para ele, porque era a intimidade dela. Ele quebrou o celular dela em pedacinhos. Depois pegou um pedaço de caco de vidro e foi pra cima dela, fazendo um corte no peito dela, ameaçando. Ele ainda cortou todas as roupas da Karol, picotou todos os documentos, e jogou na cara dela", contou a parente de Karolina. 

Após um mês e meio na casa do namorado, Karolina terminou a relação mais uma vez e, apenas com a roupa do corpo, pediu ajuda para familiares em Linhares. A jovem voltou a morar no Norte do Estado e estava se recuperando das violências que sofreu ao lado dos parentes, mas Gustavo continuou insistindo para voltar com ela. 

AOS 17 ANOS: ASSASSINADA COM UM CORTE NO PESCOÇO

No dia 14 de agosto, Karolina fez 17 anos. A família de Linhares preparou um bolo e a adolescente estava feliz com a nova idade. Porém, ainda sonhava em voltar a morar na Capital, ter filhos e constituir família. Com saudade dos amigos de São Pedro e dizendo que precisava distrair um pouco a mente, a jovem foi para Vitória no último sábado (5).

"Ela falava que queria fazer os cursos, trabalhar e ter um filho. Falava o tempo todo de Vitória, que queria voltar. Eu ainda brincava, que ela era nova demais pra pensar em filhos. Mas ela tinha esse sonho de constituir família. Queria casar, mas principalmente ter um filho, mesmo que sozinha. Ela falava: 'eu vou trabalhar, alugar uma casa, me estabilizar e ter um filho em 2021. Você pode morar comigo e me ajudar'. Aí no sábado ela colocou na cabeça que ia ver os amigos em Vitória. Pedimos muito pra ela não ir, aí ela dizia que precisava espairecer", lembra. 

Mas no sábado (05), a adolescente já não deu mais notícias para os familiares de Linhares. Apenas no domingo (06), quando uma parente mandou mensagem perguntando como estava o fim de semana, que Karolina respondeu que tinha ido em uma festa com os amigos sábado à noite e que no domingo estava "arrumando a casa".

"Por volta das 3h me ligaram dizendo que ela foi morta. Comecei a chorar e na hora eu já sabia que tinha sido o Gustavo. Karol era uma pessoa incrível, muito querida por todos e cheia de sonhos. Mas infelizmente se envolveu em uma relação de violência ainda muito nova, que terminou da pior forma porque Gustavo era possessivo e não aceitava o fim do namoro", lamenta.

Gustavo David Coutinho foi preso após assassinar a namorada
Gustavo David Coutinho foi preso e confessou ter assassinado a namorada. Crédito: Reprodução/TV Gazeta

O QUE SE SABE SOBRE O CRIME

Karolina e Gustavo foram vistos conversando e consumindo bebida alcoólica na escadaria que fica a poucos metros da casa onde o crime aconteceu. Logo depois das 23 horas, eles entraram na residência e, por volta de meia-noite, os vizinhos ouviram apenas um grito de vítima. Depois disso, Gustavo correu em direção à rodovia Serafim Derenzi, mas foi detido por moradores. 

Quando a polícia chegou ao local, por volta de 0h30, o rapaz ainda era contido por populares. Foi o próprio Gustavo, depois de confessar o crime, quem mostrou aos militares a casa onde Karolina estava morta. De acordo com vizinhos, a residência pertence à família do rapaz e a adolescente já havia morado com ele no local. Atualmente a casa está vazia. 

Gustavo David Coutinho foi conduzido para o Plantão Especializado da Mulher (PEM), em Vitória. Ele foi autuado em flagrante por feminicídio e levado para o Centro de Triagem de Viana (CTV). A Justiça capixaba, em decisão da juíza Raquel de Almeida Valinho, determinou que Gustavo tenha a prisão em flagrante convertida em prisão preventiva. Desse modo, ele vai responder pelo assassinato na prisão.

Originalmente publicada em: 10/09/2020

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