Priscilla, Dayane e  Marcela com suas filhas
Priscilla, Dayane e Marcela com suas filhas. Crédito: Carlos Alberto Silva e Ricardo Medeiros

Mães viram protagonistas apostando no empreendedorismo

Marcela, Dayane e Priscilla cuidam das filhas e dos negócios com dedicação e acreditam que empreender foi a decisão acertada para conciliar família e trabalho

Tempo de leitura: 4min
Vitória
Publicado em 13/05/2023 às 19h23

A maternidade é uma fase especial na vida de muitas mulheres. O nascimento de uma criança é comemorado com amor e alegria e, depois de meses de cuidados, chega a hora de deixar o filho em casa ou na creche e voltar ao trabalho.

É nesse momento que aparecem as dificuldades. Seja por divergência na hora de conciliar a carreira com a família, seja por desligamentos por parte da empresa, algumas delas apostam no empreendedorismo como forma de se tornarem protagonistas de suas vidas.

Foi o que aconteceu com a artesã Marcela Mello, de 40 anos. Ela é mãe de duas filhas diagnosticadas com espectro autista e faz bonecos de crochê, os chamados amigurumis, arcos e outros itens da linha infantil. 

Marcella Mello e sua filha, Melissa Mello da Vitória, 2 anos
Marcela Mello com a filha Melissa, de 2 anos:. Crédito: Carlos Alberto Silva

Marcela trabalhou muitos anos no comércio, mas, quando engravidou da primeira filha, Maria Alice, hoje com 9 anos, queria ter uma atividade em que pudesse estar perto da criança e não delegar os cuidados a outras pessoas. Foi quando decidiu pelo empreendedorismo.

“A minha ideia era continuar trabalhando e, ao mesmo tempo, ficar perto da minha filha por, pelo menos, dois anos. Entretanto, nem tudo acontece como a gente planeja. Descobri que minha filha tinha espectro autista e transtorno opositor desafiador. Aprendi a fazer crochê ainda pequena, época em que descobri problemas de visão. Agora, o que era distração virou a minha profissão”, comenta.

Marcela conta que, durante a gravidez da segunda filha, se divorciou. E, há pouco tempo, Melissa, de 2 anos e 5 meses, também recebeu o diagnóstico de espectro autista. Então, para dar conta, a carreira de artesã precisa ser conciliada com as necessidades das meninas.

"Para a mulher, as coisas já são mais difíceis, principalmente solteira e mãe, mas encaro meu trabalho como terapia. Me realizo com ele. Com as duas meninas com espectro autista, voltar ao mercado passa a ser uma missão impossível. Entretanto, minha atividade proporciona situações que facilitam conciliar o artesanato, os horários de escola e terapia", destaca.

Apesar das dificuldades, Marcela garante que investir no próprio negócio vale muito a pena.

Marcela Mello

Artesã

"O empreendedorismo é uma boa saída para as mães, pois possibilita acompanhar a educação dos filhos, além de proporcionar renda. Minhas filhas são meu controle de qualidade. Quando produzo as peças e vejo a empolgação delas, sei que vai ser um sucesso. Apesar de não saber o que enfrentaria, sei que minha decisão foi assertiva"

Filha como prioridade

Dayane Soares Moraes, de 36 anos, também começou a empreender após o nascimento de Elisa, hoje com 3 anos. Antes da licença maternidade, ela trabalhava como gerente de uma empresa de material de construção e estava em home office. Quando chegou a hora de retornar para as atividades presenciais, não teve dúvidas: preferiu priorizar a filha.

Dayane Soares Moraes e sua filha, Elisa Soares Correia, 2 anos
Dayane passou a empreender após o nascimento de Elisa, hoje com 3 anos. Crédito: Carlos Alberto Silva

“Como moro em Cariacica e minha mãe, em Vitória, não tinha com quem deixar minha filha e optei por deixar a empresa. Pesquisei algumas opções, mas não pensava que seria na área de alimentos. Fiz uns ovos de Páscoa com a minha tia, testei receitas até que a produção dos cones de chocolate deu certo”, lembra.

Dayane reconhece que, no começo, com criança pequena, foi difícil, mas ela persistiu até ter o resultado esperado. Para ela, empreender é uma forma de ajudar em casa.

Dayane Soares Moraes

Empreendedora

"Quem quer empreender precisa persistir, porque não é fácil, até por questões de fazer tudo e querer que dê certo. Muitas vezes, dá vontade de desistir. Hoje, minha filha já vai para creche e consigo organizar minha rotina para produzir conteúdo para o Instagram e trabalhar com o ifood. Estou feliz com a minha escolha"

Da demissão à volta por cima

Priscilla do Nascimento Silva, de 39 anos, foi demitida, durante a pandemia, da empresa onde atuava no setor financeiro de um laboratório. Mas, como queria ser mãe e ter tempo para cuidar da criança, viu no empreendedorismo uma boa oportunidade para continuar em atividade.

Priscilla do Nascimento Silva, ela fez o escritório dela no quarto da filha Sara, em Vitória
Priscilla fez o escritório dela no quarto da filha Sarah. Crédito: Ricardo Medeiros

“Quando saí da empresa, fui trabalhar com um amigo em uma franquia na área de limpeza e impermeabilização de sofás e vi a possibilidade de comprar uma para mim também”, conta.

Priscilla do Nascimento Silva

Empreendedora

"Uni o útil ao agradável, ou seja, consegui conciliar o lado mãe com a oportunidade de trabalhar. Hoje, meu escritório é no quarto da Sarah, que tem apenas 3 meses"

A abertura da franquia foi incentivada pelo marido. Segundo ela, dar conta da maternidade e da vida de empresária não é muito fácil, é preciso se virar, mas dá certo.

“Realmente empreender dá medo, mas meu conselho para todo mundo é: se puder, faça isso porque vale muito a pena”, orienta.

Use a redes de contato a seu favor

Josy Santos, líder da unidade de empreendedorismo feminino da Semente Negócios
Josy Santos, líder da unidade de empreendedorismo feminino da Semente Negócios. Crédito: Acervo pessoal

De acordo com a líder em inovação social e empreendedorismo feminino na Semente Negócios, Josy Santos, o empreendedorismo feminino é uma consequência da não adequação ao mercado de trabalho para muitas mulheres que passam pela maternidade. Isso acontece porque algumas são desligadas das empresas após serem mães ou pedem para sair por não conseguirem — ou não qurerem mais — conciliar carreira e vida pessoal.

“Elas acabam vendo no empreendedorismo uma possibilidade de gerar renda e ter realização pessoal e profissional. O que ocorre, na maior parte dos casos, é que elas utilizam a vocação, que até então era um hobbie, como uma forma de se manterem ativas. Além de empreender, essas mulheres também influenciam na empregabilidade de outras”, comenta.

Na hora de decidir, Josy Santos alerta que é importante escolher algo que a pessoa gosta de fazer e tem uma melhor familiaridade. Culinária e área de estética estão entre as mais escolhidas.

Josy Santos

Líder em inovação social e empreendedorismo feminino na Semente Negócios

"É muito importante ter habilidade, pois vai ser a sua atividade diária. Empreender não é glamour o tempo todo, mas, para dar certo, é necessário esforço naquilo que está sendo proposto"

Josy orienta pesquisar o que as pessoas gostam, antes de fazer grandes investimentos. Segundo ela, realizar pequenos testes de produtos e serviços podem auxiliar nesse levantamento.

“Também trabalhe sua rede de contatos. Use-a a seu favor. Isso vai ajudar tanto de forma direta quanto chegar a fornecedores e outros clientes. Também é indicado procurar orientações em instituições como o Sebrae e a Aderes e consultorias especializadas em liderança feminina."

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