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Publicado em 5 de setembro de 2025 às 12:07
Foi durante uma de suas caminhadas na natureza, em meio a um percurso no município de Castelo, no Sul do Espírito Santo, em maio de 2022, que a técnica educacional e professora Mariana Atallah decidiu que faria sua primeira prova na categoria corrida de montanha. A professora encontrou, no esporte, força e empoderamento para superar o ciclo da violência e inspirar outras mulheres. >
Mesmo sem experiência, Mariana se preparou durante uma semana para participar da competição e teve um resultado melhor do que imaginava. “Eu fui fazer a prova e fiquei em quarto lugar geral. Fui incentivada a continuar nessa modalidade e eu realmente curti muito. Percebi que eu estava me divertindo muito. Eu estava adorando. Era um parque de diversões para mim.”>
A professora relata que praticar a modalidade recuperou o prazer e sua felicidade. “Há muito tempo, eu não sentia aquela felicidade. Até me emocionei no meio do percurso e pensei: ‘O que é isso? O que eu estou sentindo?’ E me viciei nisso.” >
Ela conta que, durante esse período, teve a oportunidade de viajar e conhecer outros lugares para praticar o esporte. “Eu estava de licença na época, então tive a oportunidade de fazer algumas viagens para conhecer montanhas diferentes para correr. Isso foi me chamando muita atenção até que, em dezembro de 2023, eu conheci um coletivo em Minas chamado Minas na Trilha, que era um grupo de mulheres que fazia corrida junto.” >
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Mariana compartilhava os treinos nas redes sociais e relata que recebia mensagens de mulheres interessadas em começar na modalidade. “Eu postava stories nas redes sociais e um monte de meninas me perguntavam como é que eu tinha coragem de ir sozinha, como se fazia, que tênis usar, qual a melhor bolsa…”. >
Foi nessa época que surgiu a ideia de criar um coletivo de mulheres na corrida de montanha no Espírito Santo. “Eu perguntei para um monte de gente sobre a ideia. A maioria disse que eu era doida, que ter muitas mulheres juntas não daria certo. Mas eu preferi ouvir quem falou coisas positivas.”>
E assim nasceu o coletivo Cabritas Capixabas. O primeiro treino, que aconteceu em abril de 2024, contou com a participação de 32 mulheres. “A rota foi em Buenos Aires, em Guarapari. Eu me surpreendi com as pessoas. Nesse primeiro, foram muitas mulheres que já corriam para dar uma força.”>
O coletivo cabritas capixabas reúne mulheres para praticar corrida de montanha
Atualmente, o Cabritas Capixabas conta com quase 400 mulheres unidas por um interesse em comum: a corrida de montanha. “A nossa ideia é conhecer todas as montanhas do Estado. A cada mês, a gente vai para um lugar diferente. Também tem rotas que nós repetimos quando conseguimos firmar parcerias com as provas e damos preferência para alguns percursos.”>
Mariana conta que o grupo organiza treinos e se prepara para provas competitivas. “Como um coletivo que incentiva mulheres a correr, a maioria das nossas integrantes é iniciante. Muitas acabam sempre fazendo a prova pela primeira vez depois que vão ao nosso treinão do coletivo. Quem está começando pega a menor distância, porque a corrida de montanha requer muito preparo, e não tem como você pegar muitos quilômetros de primeira, senão você não vai aguentar e acabar não completando", afirma a professora.>
Para conhecer mais e fazer parte do projeto, acesse.>
Por causa do coletivo, Mariana deu um novo passo na vida profissional e começou a cursar Educação Física. Atualmente, também atua na assessoria Montania, oferecendo estratégia e planejamento de rotina e atividade física exclusiva para mulheres com o seu sócio, Eduardo Saliba. “Eu fico com a parte de análise de dados das alunas. Eu avalio os treinos, passo o rendimento delas e faço o acolhimento. Eu as atendo 24 horas por dia, na hora que elas quiserem e tiverem uma dúvida. Quando eu não consigo responder, porque eu ainda não sou profissional, falo com o meu treinador. Mas o que eu consigo responder, eu já respondo.”>
Quando eu vejo as declarações, os feedbacks delas sobre os treinos, e elas sempre sendo acolhidas, nossa, é incrível! Eu estava com medo de não conseguir, mas a gente realmente consegue. As meninas ficam encantadas, choram depois do treino, me abraçam, sabe? É muito bom, sou muito grata”, relata. >
Mariana Atallah
Fundadora do coletivo Cabritas CapixabasA professora revela que a expectativa é de expandir o coletivo e transformá-lo em uma associação. Atualmente, conta com o apoio de uma equipe que acompanha os treinos e competições. “Um treino, por exemplo, eu preciso de apoio, e eu sempre tenho, graças a Deus. E é por isso que dá certo. Eu tenho muito apoio de amigos, que estão juntos e que já trabalham com isso, já são experientes e também me ajudam como staff.">
"Os fotógrafos também são meus amigos que vão lá para ajudar a ter um material mais profissional, sem cobrar nada. É uma galera que acredita no projeto mesmo e que realmente faz a diferença", completa.>
Mariana acumula vitórias em provas de corrida de montanha e promove treinos coletivos para mulheres de todas as idades. Além disso, o coletivo também realiza ações como caminhadas ecológicas e treinos kids, para incentivar os filhos das participantes. >
Mariana Atallah foi vítima de violência doméstica e sobreviveu a agressões e a cárcere privado. Ela conheceu o ex e agressor em um momento difícil de sua vida. Na época, tinha acabado de ter a sua filha, ao mesmo tempo que perdeu a mãe repentinamente devido a um AVC. Além disso, a professora estava tendo problemas com o pai de sua filha, que chegou a invadir a casa em que mãe e filha moravam juntas.>
Ela conta que, no início do relacionamento, o agressor aparentava ser uma boa pessoa e a conquistou com promessas de que ele cuidaria dela e de sua filha e a convenceu de se mudar para a sua casa. Com o tempo, o homem passou a cometer violência psicológica com ela, além de se mostrar uma pessoa ciumenta e controladora. No terceiro mês de relacionamento, Mariana foi vítima da primeira agressão física. >
Com o passar dos meses, as agressões foram se tornando mais frequentes, o que fez com que Mariana levasse a filha para ficar com o seu pai. Em uma das violências, o agressor chegou a drogá-la e a isolou em um sítio, onde cometeu várias agressões e ameaças a ela.>
Mariana conta que o que salvou sua vida foi ter colocado o celular para gravar as agressões. Quando ele se afastou, a professora conseguiu encaminhar as provas para uma amiga e para a sua irmã. O agressor foi apreendido e ficou preso por apenas 11 dias. O caso de Mariana foi arquivado. >
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