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Publicado em 30 de dezembro de 2025 às 09:00
O fim do ano chega, as festas surgem, as agendas lotam e, junto com tudo isso, surge um fenômeno cada vez mais comentado: a dezembrite. O termo virou expressão popular para descrever o cansaço extremo físico e mental que muitas pessoas sentem nas últimas semanas do ano. Entre metas acumuladas, balanços pessoais, pressão social e uma rotina que parece correr em velocidade máxima, o corpo e a mente entram em alerta. >
A psicóloga Anastacia Cristina Macuco Brum Barbosa explica que a dezembrite não é frescura e muito menos falta de fé. Segundo ela, trata-se de um acúmulo de desgaste emocional que chega ao limite justamente em dezembro, quando tudo parece urgente e definitivo. “Observo no consultório sintomas como irritabilidade, queda de energia, choro fácil, sensação de incapacidade, esquecimento, dificuldade de concentração e oscilação de humor. Para muitas pessoas, essa sobrecarga desperta emoções antigas e memórias dolorosas. É o corpo pedindo pausa e a mente sinalizando que algo precisa ser olhado com mais cuidado”, afirma.>
O médico Iago Fernandes, especialista em saúde mental, reforça que existe também um componente simbólico muito forte. Dezembro é o mês que carrega o peso do encerramento. É quando as pessoas confrontam o que fizeram e o que não fizeram. “É comum que o indivíduo se compare com os outros, revise fracassos e subestime conquistas. Isso aumenta ansiedade, autocrítica e pressão interna. E tudo isso acontece enquanto o cotidiano exige ainda mais demandas sociais e emocionais”, destaca.>
A psicóloga Karen Scavacini, do Instituto Vita Alere, diz que dezembro costuma intensificar pressões que já existem ao longo do ano. “Existe uma cobrança coletiva para dar conta de tudo, fechar pendências e ainda corresponder às expectativas de produtividade e felicidade, o que pode gerar desgaste emocional significativo”, afirma.>
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Karen Scavacini
PsicólogaA psicóloga diz que metas não alcançadas, projetos inacabados e comparações com outras trajetórias profissionais e pessoais tendem a ganhar mais peso emocional em dezembro. "Ajustar expectativas, reconhecer limites e aceitar que alguns processos podem ser retomados no ano seguinte ajuda a reduzir a pressão interna e a frustração".>
Por isso, a dica é manter rotinas básicas de autocuidado. Alterações no sono, na alimentação e na rotina de exercícios são comuns no fim do ano e impactam diretamente o equilíbrio emocional. A privação de sono e a desorganização dos hábitos tendem a aumentar irritabilidade, ansiedade e dificuldade de concentração. >
"Outro ponto de atenção nesse período é o consumo de álcool, que costuma aumentar nas confraternizações e pode intensificar oscilações de humor, prejudicar o sono e interferir na eficácia de medicamentos psicotrópicos. Para pessoas em uso de antidepressivos, ansiolíticos ou outros remédios de uso contínuo, essa combinação exige ainda mais cuidado. Preservar cuidados básicos, mesmo que de forma simples, funciona como um fator de proteção da saúde mental", ressalta Karen.>
Nesse período, a circulação de imagens idealizadas, como fotos de famílias aparentemente sempre felizes ou viagens perfeitas, cria uma sensação de felicidade irreal, que nem sempre corresponde à realidade e pode aumentar sentimentos de inadequação e frustração. "Diminuir o tempo de exposição a estímulos estressantes, selecionar melhor o consumo de conteúdos e criar momentos de silêncio ajudam a reduzir o ruído mental", diz a psicóloga.>
Pesquisa conduzida pela International Stress Management Association (ISMA-BR), mostra que 72% dos brasileiros relataram um aumento de estresse relacionado à agitação típica do período. Para amenizar os sintomas da dezembrite, especialistas apontam uma aliada importante: a prática de exercícios físicos. >
A psicóloga e nutricionista Gilvânia Araújo explica que esse aumento da ansiedade costuma vir da soma de autocobrança e balanço pessoal típico da virada do ano. “Dezembro marca um ciclo que se encerra e outro que começa, o que naturalmente nos leva a revisitar metas não cumpridas e expectativas acumuladas”, diz. Segundo ela, esse movimento interno pode acionar gatilhos de ansiedade, tristeza e até apatia.>
Outro fator que pesa no emocional é o excesso de comida nas festas. A fartura desperta uma cobrança silenciosa de “aproveitar tudo”, o que aumenta a culpa e a tensão. “Os doces ainda intensificam esse processo, já que há evidências de que o açúcar favorece episódios de compulsão”, explica Gilvânia.>
Para reduzir esses gatilhos, manter uma rotina de treinos — mesmo mais flexível — pode ser decisivo. Atividades como a musculação estimulam neurotransmissores ligados ao prazer, motivação e sensação de bem-estar, como a dopamina. “O importante é encontrar um ritmo possível, sem transformar o treino em obrigação. Ser gentil consigo mesmo é parte do processo”, orienta a psicóloga.>
Para o treinador da Smart Fit Lucas Florêncio, a prática de musculação em períodos de maior estresse deve priorizar qualidade, controle e consciência corporal. Ele recomenda focar na conexão entre mente e músculo, ajustar intensidade e volume, além de incluir exercícios de mobilidade e flexibilidade. “Evitar a exaustão extrema é crucial para não sobrecarregar o sistema nervoso central e não aumentar ainda mais o cortisol”, explica.>
Ele reforça que consistência continua sendo chave: estudos mostram que três a cinco sessões semanais de 30 a 60 minutos são suficientes para gerar benefícios psicológicos reais e duradouros. “Mesmo com mais ansiedade ou cansaço, manter-se ativo, dentro do possível, ajuda o corpo e a mente a atravessarem esse período de forma mais equilibrada”.>
Atravessar o fim do ano de forma mais saudável passa por escolhas conscientes e pela disposição de respeitar os próprios limites. Cuidar da saúde mental não é algo que deve ser adiado para depois das férias, mas incorporado ao cotidiano, especialmente em períodos de maior pressão emocional. Pequenos ajustes na rotina e nas expectativas podem reduzir o impacto do estresse de dezembro e contribuir para um início de ano mais equilibrado e sustentável.
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Dicas para encerrar o ano com mais bem-estar
1. Reduza as expectativas sobre o próprio desempenho. O ritual de revisar metas costuma acentuar a sensação de fracasso. Para Anastacia, é essencial olhar para o ano com mais gentileza. “Nem tudo depende da nossa vontade. A vida é dinâmica e imprevisível. Reconhecer limites não diminui ninguém”, explica.
2. Organize a rotina sem tentar abraçar o mundo. A sobrecarga aumenta quando tudo parece urgente. Iago reforça que o cérebro funciona melhor com previsibilidade. Estabelecer prioridades reais ajuda a diminuir ansiedade e aumenta a sensação de controle.
3. Respeite os sinais do corpo. Cansaço extremo, irritabilidade e lapsos de memória não devem ser ignorados. Esses sintomas funcionam como alertas importantes. Pausas, descanso de qualidade e redução de estímulos podem evitar crises maiores.
4. Estabeleça limites com mais firmeza. Convites, confraternizações e demandas familiares podem criar exaustão social. Dizer não é uma forma de autocuidado. Escolher onde gastar energia é fundamental para preservar a saúde emocional.
5. Desconecte-se de comparações. Redes sociais tendem a amplificar a ideia de que todos estão felizes ou vivendo grandes conquistas. “Comparar a própria vida com recortes idealizados é um gatilho poderoso de frustração”, afirma Anastacia. Selecionar o que se consome e reduzir o tempo de tela já faz diferença.
6. Crie micro ritualizações de descanso. Pequenos respiros durante o dia ajudam a regular o sistema nervoso. Técnicas simples como respiração profunda, caminhadas curtas, meditação guiada e pausas para alongamento podem diminuir a tensão acumulada.
7. Busque apoio emocional. Quando o esgotamento se torna frequente e intenso, a ajuda profissional é essencial. Iago lembra que terapia e acompanhamento médico facilitam o processamento emocional e evitam que o ciclo de exaustão se repita no próximo ano.
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