Publicado em 29 de fevereiro de 2024 às 18:05
Elas atingem aproximadamente 13 milhões de pessoas somente no Brasil, estão divididas em cerca de 6 mil a 8 mil tipos, são crônicas, progressivas, degenerativas e incapacitantes e, em alguns casos, o diagnóstico pode levar até 15 anos pela falta de profissionais especializados, pesquisas e exames. Estamos falando das Doenças Raras, um grupo de enfermidades ainda desconhecidas por grande parte da população. >
Segundo a alergista e imunologista Faradiba Sarquis Serpa, da Reuma, a Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que uma doença é considerada rara quando ocorre em até 65 pessoas a cada 100 mil indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas para cada 2 mil indivíduos.>
“Embora sejam individualmente raras, como um grupo elas acometem 8% a 10% da população, o que resulta em um problema de saúde pública relevante. Essas doenças se apresentam como condições progressivas, degenerativas e incapacitantes. Assim, é fundamental que sejam diagnosticadas o mais precocemente possível para instituição de tratamento adequado”.>
Faradiba ressaltou que o diagnóstico tardio contribui para a ocorrência de danos irreversíveis ao organismo, sequelas, baixa qualidade de vida, sofrimento individual e familiar.>
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Faradiba Sarquis Serpa
Alergista e imunologistaA primeira delas, de acordo com a médica, é que as doenças raras são pouco conhecidas. Então, é comum os pacientes passarem por muitas consultas até acontecer a suspeita diagnóstica. A segunda barreira é que parte dessas doenças são diagnosticadas por meio de exames genéticos, nem sempre disponíveis.>
Segundo dados da Rede Nacional de Doenças Raras, projeto de pesquisa que engloba 40 instituições de todo o Brasil, mais de 80% dos pacientes começam a ter sintomas antes dos 18 anos e o tempo entre o início dos sintomas e diagnóstico varia entre as diferentes doenças.>
Um estudo recente feito no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Vitória sobre uma dessas doenças raras, o Angiodema Hereditário, por exemplo, apontou que o tempo médio entre o início dos sintomas e o diagnóstico foi de 15 anos. “Esse achado foi concordante com o observado em outros estados brasileiros e nos mostra que ainda temos que avançar no sentido de estabelecer o diagnóstico o mais precocemente possível”, comentou Faradiba.>
Mas, quando desconfiar de uma doença rara? A reumatologista Lídia Balarini explica que quando existe um conjunto de sintomas que persiste sem diagnóstico bem definido; quando os exames solicitados não mostram alterações que justifiquem os sintomas; quando o paciente faz várias consultas e não consegue fechar o diagnóstico; quando a pessoa já tentou vários tipos de tratamento e a doença não respondeu.>
Lídia Balarini
ReumatologistaJá a reumatologista Valéria Valim ressalta que a doença rara também é chamada de doença-órfã, pela escassez de especialistas, pela falta de tratamentos e de acesso a eles. “A raridade da doença torna mais difícil o desenvolvimento de estudos para novos tratamentos. São os chamados ensaios clínicos, essenciais para o licenciamento de qualquer medicamento. E quando esses medicamentos são desenvolvidos e, finalmente, licenciados têm custo elevadíssimo, tornando o acesso muito restrito, tanto para a rede pública quanto privada. Por exemplo, o tratamento das criopirinopatias pode chegar a R$ 1 milhão por ano, para tratar um único paciente”.>
Essas doenças têm características degenerativas e progressivas. A demora no diagnóstico pode levar a uma grave perda da função de algum órgão ou até mesmo da vida. "Mesmo que não tenha cura, algumas têm tratamento que podem prolongar significativamente o tempo de vida e evitar a perda de função", diz a médica Valéria Valim.>
Porém, é possível ter qualidade de vida tendo uma doença rara. Muitas delas têm tratamento eficiente e que permite a resolução dos sintomas e se ter uma vida normal. Algumas, infelizmente, ainda não têm tratamento.>
A oferta de tratamentos gratuitos é um grande desafio para o Sistema Único de Saúde (SUS), para a saúde suplementar e para a sociedade. Existem poucos centros no país e a tabela do SUS ainda é subfinanciada. "Ou seja, são centros que geram alto custo, que são deficitários. Os hospitais universitários são naturalmente vocacionados para a estruturação de centros de referência e, na verdade, já oferecem atendimento para muitas doenças raras. Mas, é necessária uma política pública nacional, que possa direcionar a estruturação da linha de cuidado e destinação de recursos. No entanto, isso é realmente desafiador, porque precisa equacionar a sustentabilidade dos sistemas de saúde", finaliza Valéria Valim.>
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