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Publicado em 23 de dezembro de 2025 às 15:10
A médica Laís Caldas, 34, compartilhou nas redes sociais um momento marcante de sua vida. A ex-BBB publicou um vídeo no Instagram mostrando como os amigos reagiram com a notícia de sua gravidez.>
Na gravação, Laís começa revelando que decidiu refazer o exame para ter certeza do resultado. "O dia que fiz o segundo teste de gravidez para confirmar, porque o primeiro eu tinha certeza que estava errado.. SQN (só que não)". Em seguida, ela exibe o teste positivo, confirmando a gestação. >
A revelação de Laís Caldas de que engravidou mesmo usando anticoncepcional oral, após iniciar um protocolo com Mounjaro para emagrecer antes do casamento, trouxe o tema para o centro das discussões médicas e das redes sociais. “Eu realmente estava tomando anticoncepcional oral direitinho, mas eu casei em setembro e eu fiz o protocolo com Mounjaro, a tizerpatida. Eu queria estar mais sequinha no casamento e fiz o protocolo. O Mounjaro retarda o esvaziamento gástrico e isso diminui a absorção de alguns medicamentos orais e um dos mais afetados é o contraceptivo oral. O caso, que rapidamente ganhou o apelido de “bebê Mounjaro”, levantou dúvidas sobre a relação entre medicamentos para perda de peso, fertilidade e falhas contraceptivas. >
Medicamentos como o Mounjaro atuam, entre outros mecanismos, retardando o esvaziamento gástrico. Na prática, isso significa que o alimento, e também outros medicamentos ingeridos por via oral, permanecem mais tempo no estômago antes de serem absorvidos no intestino. Esse atraso pode comprometer a absorção de hormônios presentes na pílula anticoncepcional.>
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Estudos clínicos mostram que, no caso da tirzepatida, pode haver redução expressiva do pico hormonal no sangue, além de diminuição da quantidade total do hormônio absorvido. Em termos práticos, o organismo recebe menos hormônio do que o necessário para garantir a supressão da ovulação, o que aumenta o risco de gravidez.>
Para a endocrinologista Alessandra Rascovski, da clínica Atma Soma, o caso ajuda a esclarecer um ponto essencial: não se trata de falha da paciente, mas de uma interação farmacológica que ainda é pouco compreendida fora da comunidade médica.>
“O Ozempic e o Wegovy oferecem menor risco de interferência nos anticoncepcionais orais do que o Mounjaro. Além disso, o emagrecimento contribui para a melhora da resistência insulínica e para a regularização do ciclo em mulheres com ovário policístico, favorecendo o aumento da fertilidade”, explica a médica. >
De acordo com o ginecologista e obstetra Cesar Patez, o medicamento não age diretamente anulando o anticoncepcional, mas pode tornar o organismo mais fértil. “A tirzepatida melhora o metabolismo, reduz o peso e a inflamação sistêmica. Em muitas mulheres, especialmente aquelas que não ovulavam regularmente, isso pode levar ao retorno da ovulação. Se a paciente confia apenas em um método que já não estava 100% eficaz para aquele novo contexto hormonal, a chance de gravidez aumenta”, explica.>
A especialista em Reprodução Humana Taciana Fontes afirma que o principal mecanismo está ligado à sensibilidade à insulina. “A melhora metabólica reduz a hiperinsulinemia, diminui o hiperandrogenismo e favorece a maturação folicular. Em mulheres com síndrome dos ovários policísticos e resistência insulínica, isso pode significar a retomada da ovulação e da regularidade menstrual”, afirma.>
Ela acrescenta que o excesso de peso costuma estar associado a um estado inflamatório crônico. “Quando o peso diminui, a inflamação também cai. O corpo passa a ficar mais adequado do ponto de vista hormonal e endometrial, tornando-se mais receptivo a uma gestação”, diz.>
Outro ponto de atenção envolve o uso do medicamento durante a gravidez. “Os dados em animais mostram toxicidade reprodutiva e alterações no desenvolvimento fetal, por isso o Mounjaro é contraindicado na gestação. Em humanos, os dados ainda são limitados, então a recomendação é suspender imediatamente o uso ao descobrir a gravidez”, alerta Taciana Fontes.>
Para mulheres que pretendem engravidar ou iniciar tratamentos como indução de ovulação ou fertilização in vitro, o uso prévio desses medicamentos exige planejamento. “Não há evidência de prejuízo direto à reserva ovariana, mas o impacto metabólico é relevante. Por isso, orientamos um período de suspensão de um a três meses antes de tentar engravidar ou iniciar um tratamento de fertilidade”, explica a especialista.>
Taciana também destaca que as rápidas mudanças no peso podem alterar o padrão do ciclo menstrual. “Em algumas mulheres, o ciclo fica irregular temporariamente; em outras, ele se regulariza depois de anos. Isso pode dificultar a previsão da ovulação sem monitoramento adequado”, afirma.>
Para Cesar Patez, o caso da ex-BBB reforça a importância da orientação médica individualizada. “Toda mulher em idade fértil que inicia medicamentos para emagrecimento precisa revisar seu método contraceptivo. O corpo muda, os hormônios mudam e a fertilidade pode aumentar. Informação e acompanhamento são essenciais para evitar surpresas”, conclui.>
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