Publicado em 2 de agosto de 2024 às 09:51
O Espírito Santo está entre os estados do Brasil que registrou maior aumento na incidência de doenças inflamatórias intestinais (DII) em oito anos, com 38,2 casos a cada 100 mil habitantes, ficando atrás de São Paulo, que tem uma média de 52,6 casos para essa mesma proporção. Em todo o país, a quantidade de diagnósticos de DII aumentou 233% nesse período, passando de 30 casos por 100 mil habitantes em 2012 para 100,1 em 2020 e, desta forma, deixaram de ser consideradas doenças raras. >
Os dados, publicados na revista The Lancet Regional Health Americas, são de uma pesquisa considerada uma das mais extensas sobre o tema no contexto brasileiro, envolvendo a participação de 212 mil pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).>
Mas, o que são as doenças inflamatórias intestinais? Com mais de 5 milhões de pessoas afetadas em todo o mundo, as DIIs são caracterizadas pela inflamação crônica do trato gastrointestinal. Entre as principais estão a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, que afetam principalmente adolescentes e jovens adultos. Com relação a essas condições especificamente, a pesquisa aponta que os casos de Crohn aumentaram 167,4%, passando de 12,6 em 2012, para 33,7 casos por 100 mil habitantes em 2020. Já a retocolite ulcerativa disparou ainda mais: 257,6%, passando de 15,8 para 56,5 casos por 100 mil pessoas, no mesmo período.>
A gastroenterologista Ana Paula Hamer, da Reuma, explica que as causas das doenças inflamatórias intestinais não são completamente conhecidas. "Acredita-se que a interação entre diversos fatores contribua para seu surgimento. Entre eles, os genéticos (predisposição genética e história familiar); ambientais (dieta, tabagismo, uso de antibióticos e anti-inflamatórios); imunológicos e microbianos (microbiota intestinal e infecções). Assim, o nosso principal objetivo é o diagnóstico precoce, pois, apesar de ainda não termos uma cura definitiva, um tratamento eficaz e precoce pode promover uma melhor qualidade de vida ao paciente, levando à remissão dos sintomas, normalização de exames laboratoriais, em especial os biomarcadores inflamatórios, cicatrização da mucosa, evitar complicações, e, no caso das crianças, que elas possam ainda crescer e ganhar peso”.>
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Existem alguns sinais e sintomas que podem ser considerados “red flags” (bandeiras vermelhas) para as doenças e indicam a necessidade de uma avaliação médica mais aprofundada. Veja alguns deles: dor abdominal persistente ou recorrente, diarreia crônica que não melhora com o tempo; perda de peso significativa e sem motivo aparente; cansaço persistente e falta de energia; sangramento retal, fezes com sangue, muco ou pus. Algumas pessoas com doença inflamatória intestinal podem apresentar dores articulares, úlceras na pele, inflamação nos olhos ou outras manifestações fora do intestino.>
Assim, quem apresenta esses sintomas de forma recorrente, não deve ignorar os indícios. O diagnóstico requer avaliação clínica, exames laboratoriais que evidenciem inflamação, exames endoscópicos, especialmente ileocolonoscopia, anatomopatológicos e, em alguns casos, exames radiológicos, como enterotomografia, enteroressonância, ressonância de pelve e ultrassonografia intestinal.>
As doenças inflamatórias intestinais (DII) não têm cura, no entanto, o tratamento adequado pode levar à resolução dos sintomas e ao controle do processo inflamatório, permitindo a cicatrização das lesões, o que é uma remissão. Isso se dá por meio de um tratamento multidisciplinar e de medicamentos como corticoides, aminossalicilatos, imunossupressores, imunobiológicos e pequenas moléculas. Podendo ser, em alguns casos, de forma associada. A depender da doença, de sua localização, da forma como se apresenta e da gravidade há opções de medicamentos tópicos, orais e injetáveis. Existe também, em algumas formas da doença, a necessidade de cirurgia.>
Os imunobiológicos têm desempenhado um papel significativo no tratamento das doenças inflamatórias intestinais, proporcionando avanços notáveis no controle da inflamação e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes. >
Ana Paula Hamer
GastroenterologistaA médica aponta ainda que alguns dos imunobiológicos utilizados para o tratamento dessas doenças são o infliximabe, o adalimumabe, o certolizumabe pegol, o golimumabe, o vedolizumabe e o ustequinumabe. Além do tofacitinibe que é uma pequena molécula. “Em breve, no Brasil, teremos ainda a disponibilidade de mais medicamentos para o tratamento das DII, como o risanquizumabe e o upadacitinibe”, adiantou a gastroenterologista.>
Os imunobiológicos e as pequenas moléculas são geralmente indicados quando os chamados tratamentos convencionais, como os aminossalicilatos (usados apenas para retocolite) e os imunossupressores (que podem ser usados em ambas) não são eficazes ou causam eventos adversos significativos ou ainda quando a doença já se manifesta com critérios de gravidade, como a presença de fístulas (trajetos que se formam do intestino para outra parte do corpo) no caso da doença de Crohn ou quando se diagnostica a colite aguda grave, no caso da retocolite ulcerativa. “Os imunobiológicos têm mostrado eficácia em reduzir os surtos da doença, promover a cicatrização do tecido intestinal e melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, destacou a médica.>
É importante ressaltar que o tratamento é individualizado e a escolha do medicamento depende de características específicas de cada paciente. Além disso, a pesquisa e o desenvolvimento de novos imunobiológicos e terapias continuam, com o objetivo de melhorar ainda mais os resultados clínicos e reduzir potenciais efeitos colaterais.>
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