Editor do Se Cuida / gusilva@redegazeta.com.br
Publicado em 25 de julho de 2025 às 09:00
O inverno nos demanda certas adaptações e, em alguns casos, até mudanças de hábitos. Muito além da sensação térmica, que nos obriga a tirar os casacos do armário, a queda das temperaturas também pode influenciar o funcionamento do organismo. Um exemplo disso, muitas vezes despercebido, é o aumento da pressão arterial. Apesar de pouco perceptível, essa alteração é mais comum do que se imagina e pode representar um risco para a saúde, principalmente, das pessoas hipertensas.
Segundo o cardiologista Augusto Neno, da MedSênior, durante o inverno é importante monitorar mais de perto os níveis de pressão arterial. “De forma geral, todos nós podemos sofrer com um ligeiro aumento da pressão arterial nos dias mais frios. Isso acontece porque, quando exposto a baixas temperaturas, nosso corpo passa por um processo chamado vasoconstrição, que é a contração dos vasos sanguíneos. Com os vasos mais estreitos, o coração precisa fazer mais esforço para bombear o sangue e garantir a circulação adequada. Esse esforço extra pode aumentar consideravelmente a pressão arterial, especialmente em pessoas já diagnosticadas com hipertensão”, explica o especialista.
O cardiologista acrescenta que, além da vasoconstrição, o sistema nervoso simpático, uma parte do sistema nervoso autônomo que prepara o corpo para situações de emergência ou estresse, também é ativado em temperaturas mais baixas, o que contribui para o aumento da frequência cardíaca e, consequentemente, da pressão arterial. “São reações naturais do nosso corpo e fazem parte do esforço do organismo para conservar calor e proteger órgãos vitais”, esclarece.
Outro ponto importante é a retenção de líquidos e como ela pode influenciar o processo de circulação sanguínea. "Com as temperaturas mais baixas, as pessoas tendem a suar menos, se movimentar menos e, muitas vezes, sentir menos sede, o que reduz a ingestão de água".
Augusto Neno
CardiologistaNo frio, as pessoas tendem a ficar mais sedentárias, já que a disposição para atividades físicas diminui. "A alimentação, por sua vez, costuma ficar mais calórica e volumosa. É normal, por exemplo, sentir mais fome e desejo por comidas menos saudáveis durante essa estação. Esse desequilíbrio no cuidado com a saúde, ainda que por um curto período, pode aumentar o risco de hipertensão”, alerta.
O cardiologista orienta que o ideal é prevenir essas alterações e seus efeitos na saúde cardiovascular, redobrando os cuidados e a atenção. Isso vale, principalmente, para os pacientes hipertensos.
“A recomendação principal é manter, o máximo possível, um estilo de vida saudável durante o ano todo, independentemente das mudanças de temperatura. Manter-se em movimento, fazer escolhas alimentares equilibradas, evitar o excesso de sal, temperos industrializados e alimentos muito condimentados é fundamental. Hipertensos, sobretudo, não podem abrir brecha para o descuido”, alerta.
Neno também recomenda que os pacientes que já convivem com a hipertensão façam a aferição da pressão com mais frequência. “É importante lembrar que a pressão alta, na maioria das vezes, não apresenta sintomas. Por isso, o monitoramento é a única forma de perceber alterações precocemente e evitar complicações”, reforça.
O médico destaca alguns sinais de alerta que indicam a necessidade de buscar atendimento médico, como dor de cabeça forte, tontura, visão embaçada, dor no peito ou falta de ar. “Esses sintomas demandam atenção e cuidado médico. Não hesite em buscar atendimento”, orienta.
Ele também reforça a importância de manter o corpo aquecido nos dias mais frios e cuidar da saúde como um todo. “O inverno exige mais atenção com a saúde cardiovascular, especialmente de idosos e pessoas hipertensas. Pequenas atitudes fazem diferença e ajudam a evitar picos de pressão que podem levar a problemas sérios, como infarto e AVC”, conclui.
A cardiologista Fernanda Bento, da Rede Meridional, também diz a hipertensão pode piorar com as baixas temperaturas. Ela explica que o fenômeno acontece porque, em baixas temperaturas, para manter o calor, o corpo reage contraindo os vasos sanguíneos por meio do mecanismo chamado vasoconstrição (estreitamento dos vasos sanguíneos), reduzindo o fluxo sanguíneo.
A cardiologista afirma que, com o estreitamento dos vasos, as pessoas precisam de mais pressão para fazer o sangue circular, liberando mais de adrenalina e elevando a pressão.
Outros fatores também contribuem para o aumento da pressão arterial no inverno. “A redução do fluxo sanguíneo, associada a redução na ingestão de líquidos comum nos dias mais frios, favorecem a retenção hídrica e reforçam o aumento da pressão arterial. Contribuem ainda o sedentarismo, o consumo excessivo de comidas calóricas, salgadas e o consumo maior de bebidas alcoólicas. As práticas inadequadas fazem com que haja aumento de peso e retenção de líquido, com consequente aumento da pressão”, explica Fernanda Bento.
Para minimizar esses riscos, a cardiologista orienta que as pessoas se mantenham aquecidas, principalmente os pés e mãos. Também recomenda evitar o consumo excessivo de calorias, mantendo uma dieta com alimentos pobres em sódio e não calóricos, seguir praticando atividades físicas, mesmo nos dias de frio, e manter o uso das medicações conforme prescrição médica.
A cardiologista alerta aos capixabas, ainda, para, caso a pressão se mantenha acima dos níveis estipulados pelo médico, ou acima 140 por 90, associado a dor de cabeça, visão turva e mal-estar, a recomendação é de procurar atendimento médico para avaliação, diagnóstico e orientação adequada.
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