Publicado em 13 de novembro de 2019 às 18:43
Esta semana, o Espírito Santo recebeu a sua primeira cirurgia fetal, que é feita com o bebê ainda dentro da barriga da mãe. O procedimento foi realizado nesta segunda-feira, 11, na bióloga Ana Heloísa de Carvalho, que está grávida de gêmeos idênticos, e passou pela cirurgia após descobrir que sofria da Síndrome de Transfusão Feto Fetal. >
Segundo a fetologista Flávia Mameri, que realizou a cirurgia com o também fetologista Maurício Saito, de São Paulo, a síndrome é o resultado do desequilíbrio no fluxo de sangue entre os dois bebês. Ou seja, um deles recebe maior fluxo sanguíneo do que o outro. Ela acontece em gestações monocoriônicas, quando os bebês dividem a mesma placenta, porém estão em bolsas diferentes. Apesar de ter duas bolsas, uma pode ficar maior do que a outra, e os bebês também podem ficar um mais pesado do que o outro. E foi isso o que diagnosticamos na Ana, ainda estava em estágio inicial, afirmou Flávia. >
De acordo com o médico Maurício Saito, essa é uma patologia grave, pois um bebê passa a ser o doador e o outro o receptor de sangue. Nesses casos, um dos bebês tem um cordão que entra na placenta e joga o sangue dele para o outro. E, assim, o feto que recebe menos sangue fica anêmico, e o que recebe mais se torna cardíaco. Ainda segundo o fetologista, sem o tratamento, em mais de 80% dos casos, os dois bebês evoluem para óbito. >
Essa intercorrência acomete entre 5 a 10% desse tipo de gestação, e a cirurgia é uma das únicas maneiras de tratamento. A cirurgia consiste na coagulação - através de laser - dos vasos sanguíneos que estejam alimentando demais o outro feto. É como se queimássemos esses vasos que estão fazendo essa comunicação além do normal, na tentativa de que os bebês voltem a crescer na mesma proporção, esclareceu Flavia Mameri. >
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A cirurgia leva cerca de 1 hora e é invasiva, mas apresenta baixo risco para a mãe e os bebês. É feito um furo de menos de 1 centímetro na barriga da gestante, que recebe uma cânula, que chega ao útero. A partir dessa cânula são inseridos uma câmera, para achar os vasos, e o laser, para cauterizar os vasos com fluxo anormal. A chance desse procedimento dar certo é de 70%, porém, deve-se ser feito o acompanhamento com ultrassons semanais na gestante, avaliou o fetologista Mauricio Saito. >
Apesar das grandes chances de sucesso, Flávia alerta para a importância do diagnóstico precoce, já que o procedimento tem um prazo de até 26 semanas de gestação. É necessário ter um acompanhamento correto durante a gestação, complementou ela. >
A bióloga Ana Heloisa de Carvalho estava com 16 semanas de gestação quando descobriu a síndrome, e após o diagnóstico começou a pesquisar as opções: Como sou do meio acadêmico já tinha ouvido falar sobre o tema, mas não sabia muito bem dos riscos. E depois de saber da possibilidade da cirurgia, entendi que as escolhas que eu tinha eram: operar antes do nascimento ou correr o risco de um parto prematuro com possibilidade de óbito, contou ela. >
E a partir daí é que começaram os trâmites para a cirurgia acontecer aqui no Estado. Segundo a médica Flávia Mameri, após Ana aceitar a cirurgia, ela fez o convite ao fetologista Maurício Saito para que operasse no Espírito Santo. >
Eu cogitei ir pra fora para operar, mas após saber da possibilidade do procedimento ser feito aqui achei melhor, pois poderia ficar mais perto da minha família e de amigos. Facilitaria na hora da recuperação, avaliou a bióloga. Dois dias depois da cirurgia, e com 23 semanas de gestação, ela contou que já se sente recuperada, e sem dores. Estou fazendo o acompanhamento certinho, está tudo certo, e os bebês já estão até mexendo, finalizou.>
A obstetra Patrícia Furieri, quem acompanha e irá realizar o parto da gestante, ressalta que o tratamento continua após o procedimento, sendo feito, semanalmente, uma ultrassonografia obstétrica com doppler - um adicional capaz de identificar e visualizar o fluxo de sangue no local. >
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