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Mindful Eating: movimento ensina a comer com calma

Mindful Eating: movimento ensina a comer com calma

A ordem é colocar toda sua atenção no momento da refeição. Embora não seja o objetivo, hábito acaba ajudando a emagrecer. Entenda como pôr em prática

Publicado em 6 de dezembro de 2019 às 18:00

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Caroline Ronchetti é universitária e pratica o Mindfull Eating, que é a atenção plena na hora de comer. (Ricardo Medeiros)

Chegou a hora do almoço. Você pega seu sanduba, senta na frente do computador e vai revezando entre uma mordida e uma teclada. Em cinco minutos devora tudo. Bom, você de fato ingeriu alguma coisa, colocou calorias para dentro. Mas pode apostar: enquanto sua boca comia, sua cabeça estava em outro lugar.

Você não é o único. A pressa nossa do dia a dia fez surgir um movimento mundial que propõe justamente o contrário. No Mindful Eating, a ordem é colocar toda sua atenção no momento da refeição. Em resumo: é parar tudo o que está fazendo para comer com calma, prestando atenção em cada garfada. E parar tudo significa tudo mesmo. Até usar o celular, entendeu?

A técnica vem do conceito do Mindfulness, termo que tem origem na prática da meditação e que significa algo como consciência plena. Assim, gente do mundo todo percebeu que o ato de se alimentar é mais do que ficar abrindo e fechando a boca no modo automático, mastigando apressadamente qualquer coisa sem nem sentir o gosto de verdade daquilo.

“O mindful eating nada mais é do que o comer com atenção plena, prestando muita atenção no sabor, no cheiro da comida, na textura, no barulho que ela faz. Por exemplo, um legume ou uma fruta. Com isso, você desacelera e tira do ‘automático’ o processo de comer”, explica a psicóloga do Instituto Hope Petra Ehrenbrink.

Saúde

Essa prática é indicada para todo mundo e não faz mal, não tem contraindicação. Pelo contrário, pode ser uma boa pedida, principalmente para quem vive na correria e tem mania de engolir a comida. O que parece bobo, perda de tempo, na verdade faz um bem danado para sua saúde ao ajudar a aliviar a ansiedade, por exemplo, e até no controle de distúrbios alimentares, como a compulsão. De quebra, pode te ajudar a perder aqueles quilinhos que estão sobrando.

Sim, embora não seja seu objetivo principal, o Mindful Eating pode ser útil na dieta. “Muitas vezes, a consequência desse comer com a atenção totalmente voltada para a comida pode fazer com que a pessoa se sinta mais satisfeita com menos comida, pois o cérebro leva um tempo para processar que o estômago está cheio. Com isso, ela acaba emagrecendo. Entretanto, não é esse o objetivo”, comenta Petra.

A lição é outra, segundo ela: “Todo mundo gosta de comer. E é normal! Comer é pra ser gostoso mesmo! É adaptativo. E foi isso que manteve nossa espécie por muito tempo. O Mindful Eating visa a transformar o ato de comer em um ato totalmente consciente e prazeroso, tirando a pressa e desligando o botão de ‘automático’ que muitas vezes nem percebemos que está ligado”.

A psicóloga diz que sempre sugere aos pacientes que façam a refeição como se estivessem em um programa de culinária, desses que passam na TV. “Sempre falo com eles para que ‘avaliem’ o prato que estão comendo como se estivessem em um programa de culinária, tentando prestar atenção no máximo de detalhes possíveis. Caso a pessoa termine o prato e ainda esteja com fome, não tem problema se servir mais. Mas na maioria das vezes não é necessário”.

Com isso, diz, a pessoa vai aprendendo a conhecer o próprio corpo. “Nosso cérebro tem o mesmo mecanismo de detecção da fome e da sede. Muitas vezes, a pessoa acha que está com fome, porém não bebeu água o dia inteiro. É sempre bom estar atento se está sentindo a fome fisiológica; a vontade de comer, que dá muitas vezes independentemente de ter se alimentado ou não; ou a sede”.

A prática não está ligada apenas à alimentação saudável, como explica a nutricionista Beatriz Gaudio. “É qualquer tipo de comida, visto que não somos 100% saudáveis o tempo todo. O importante é escutar e respeitar a saciedade”, observa.

Um exercício interessante, diz Beatriz, pode ser feito com o chocolate. “Em vez de mastigar e engolir rapidamente, deixe o chocolate derreter na boca antes de engolir. Você ficará satisfeito com muito menos!”, orienta.

Aspas de citação

É importante ter uma orientação de um profissional da área comportamental, seja nutricionista, seja psicólogo. Muitas vezes, existe a necessidade de quebrar crenças limitantes e distúrbios alimentares, que nos fazem separar os alimentos como ‘bons’ e ‘ruins’

Beatriz Gaudio
Nutricionista
Aspas de citação

No Mindful Eating você não precisa necessariamente meditar à mesa. Não precisa levar isso ao pé da letra, ou melhor, ao prato. Mas há algumas regrinhas que ajudam nessa conexão mente e corpo com o ato de se alimentar (veja no quadro).

No começo, você pode precisar de uma certa ajuda, afinal, é difícil mudar (maus) hábitos que praticamos rotineiramente há anos.

“É importante ter uma orientação de um profissional da área comportamental, seja nutricionista, seja psicólogo. Muitas vezes, existe a necessidade de quebrar crenças limitantes e distúrbios alimentares, que nos fazem separar os alimentos como ‘bons’ e ‘ruins’”, destaca Beatriz.

A universitária Caroline Ronchetti, 22 anos, já foi dessas de comer com as mãos ao volante, em pleno trânsito louco da cidade. Mas já tem um tempinho que a jovem mudou a forma de encarar a refeição. “Sempre tive uma rotina muito agitada. A alimentação era só para passar uma vontade momentânea. Então, eu comia o que tinha pela frente”, conta ela, que é estudante de Medicina.

Foi aí que Carol conheceu a ideia do Mindful Eating. “Eu senti que precisava parar. Busquei orientação com a nutricionista, fui pesquisar, ler sobre o assunto. E vi que faz muita diferença quando a gente está presente na hora da refeição”.

Não que ela tenha eliminado a correria do dia a dia. “Às vezes até como no estacionamento na faculdade. Mas eu não como dirigindo. Eu paro o carro, deixo o celular de lado, desligo o som. É um momento de paz. É estar presente mesmo. Depois faço as outras coisas corridas do dia”, diz.

Para Carol, não tem segredo: “Não precisa respirar dez vezes”, brinca ela. “É um momento de calma do meu dia, um momento de prazer, em que estou cuidando de mim. Preparo a mesa, faço um prato bem feito, deixo com visual bonito e me entrego. E nem leva muito tempo. Antes, ficava 20 minutos olhando o celular e demorava muito mais para terminar a refeição. Agora eu olho o prato, olho o que estou colocando para dentro de mim”.

Uma pequena mudança que fez grandes transformações na vida dela. “Hoje em dia sinto o sabor. Passei a me preocupar com a qualidade do alimento, com a origem dele, se é orgânico, se é nutritivo. Passei até a comer coisas que não comia só de observar a textura delas. E brinco com isso, preparando algo cru, cozido, picado...”, relata a jovem.

Muita calma nessa hora

- Escolha um local tranquilo. Se possível, esteja à mesa. Monte um prato com um visual bonito

- Respire, levando os alimentos à boca devagar e se lembrando de não engolir sem pensar, sem sentir

- Aproveite, saboreando, mastigando várias vezes, prestando atenção ao sabor, à textura, à temperatura. Perceba os sons, cada sensação

- A cada garfada, pouse os talheres ao lado do prato. Vá de-va-gar

- Não se distraia comendo: sente-se para comer longe da TV, sem laptops, ipads, celulares ou quaisquer outras distrações. Se possível, curta o momento com alguma companhia

- Observe seu corpo: seja curioso com relação a si mesmo e pergunte-se: “Como eu me sinto? Meu estômago está roncando? Estou cansado? Feliz? Com fome?

- Sentindo um vazio?” Preste atenção aos seus sinais antes e depois de comer

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- Comece com uma refeição do dia pelo menos. Escolha aquela para a qual você terá mais tranquilidade. Faça desse momento um momento de calma, de prazer, de se cuidar. Não deixe que nada nem ninguém atrapalhe. Só dura alguns poucos minutos

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