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É normal comer mais na quarentena?

É normal comer mais na quarentena?

Especialistas explicam os motivos que colaboram para a mudança nos hábitos alimentares e dão dicas sobre como ter uma relação mais saudável e prazerosa com a comida

Publicado em 29 de abril de 2020 às 15:16

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Se liberte da culpa por comer mais neste período e construa uma relação mais saudável com a comida.
Liberte-se da culpa por comer mais neste período e construa uma relação mais saudável com a comida. (Freepik)

Na quarentena o que mais se vê por aí são manchetes e posts sobre culinária saudável e exercícios em casa. Mas se para algumas pessoas já era difícil comer de maneira equilibrada antes do isolamento social, agora que enfrentamos todas as restrições, mudanças na rotina e ansiedades que acompanham uma pandemia, a tarefa é ainda mais desafiadora. A boa notícia é que “tá tudo bem”, que você pode ressignificar a sua relação com a comida e, assim, lidar com sua alimentação de maneira mais saudável e prazerosa.

Karoline Coutinho é fotógrafa e com eventos e alguns ensaios suspensos por conta do isolamento, tem passado mais tempo em casa, ela acredita que a ociosidade e o tempo livre colaborem para um consumo maior de comida. "Eu já tinha uma relação de prazer com a comida , só que agora estando mais em casa eu tenho uma disposição maior para querer fazer e comer coisas diferentes em um curto período de tempo", conta.

A nutricionista Maria Luiza Cometti explica que é normal e totalmente compreensível que os hábitos alimentares tenham mudado neste período. Afinal, as rotinas mudaram drasticamente. Além disso, o momento colabora emocionalmente com a busca pela comida. “A nossa alimentação está muito ligada às nossas emoções e, diante de toda essa situação, estamos mais ansiosos, preocupados, inseguros e com medo do que pode vir a acontecer.  Por conta disso, é comum buscarmos na comida um refúgio para suprir esse sentimento e, geralmente, essa busca é por alimentos mais calóricos”, diz.

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É muito importante não rotular os alimentos como bons ou ruins, como proibidos ou permitidos

Maria Luiza Cometti
Nutricionista
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A profissional afirma que ter uma relação prazerosa com a comida é difícil por uma questão cultural, que envolve restrição e permissão alimentar e que, por isso, muitos já comem com o sentimento de culpa, pensando que aquele alimento é “proibido”. “É muito importante não rotular os alimentos como bons ou ruins, como proibidos ou permitidos - desde que você não tenha nenhuma restrição alimentar -, que engorda ou emagrece, porque isso não existe e você acaba criando uma relação ruim com a comida”, aconselha Maria Luiza.

É muito importante saber diferenciar essa vontade natural de comer mais do hábito de comer compulsivamente. De acordo com a nutricionista, a vontade de comer mais, geralmente, é um desejo aumentado de comer um alimento específico, enquanto a compulsão alimentar é uma situação bem mais grave que precisa ser avaliada e acompanhada por uma equipe profissional especializada, pois é considerada uma doença, um transtorno alimentar -  e não só alguns exageros. “O comer compulsivo ocorre com maior frequência quando a pessoa ingere grandes quantidades de comida ao longo do dia e em uma velocidade superior às outras pessoas. Mesmo estando satisfeita, ela não consegue ter controle sobre isso, chegando muitas vezes a passar mal. Além disso, as combinações de alimentos podem ser as mais estranhas possíveis”, explica.

“Sabe quando você vai ver um filme e come uma barra de chocolate inteira, e não apenas um pedaço? Ou preparou uma refeição que você gosta muito e decidiu repetir? Isso é totalmente normal, é diferente de sair misturando vários tipos de alimentos e comer descontroladamente”, exemplifica a profissional.

Alinhando corpo e mente

A alimentação vai muito além de uma necessidade fisiológica, ela envolve questões culturais, afetivas e, principalmente, psicológicas. Estar ciente disso é o primeiro passo para construir uma relação amigável com a comida.

Luma Zagotto é psicóloga especialista em transtornos alimentares. Ela explica que é importante perceber uma diferença marcante entre o comer influenciado por emoções e o comer emocional, que ocorre quando a pessoa usa a comida para lidar com emoções que não está conseguindo lidar. “A comida entra, então, no lugar dos sentimentos como solidão, vazio emocional, tédio, carência afetiva, ansiedade. Algumas pessoas são mais suscetíveis ao comer emocional do que outras. Se esse for o seu caso e você estiver com dificuldades para lidar com isso, não hesite em procurar ajuda profissional”, sugere.

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As pessoas reagem de formas distintas e cair na armadilha de se comparar com o outro não é saudável

Luma Zagotto
Psicóloga especialista em transtornos alimentares
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“As pessoas reagem de formas distintas e cair na armadilha de se comparar com o outro não é saudável. Filtre e questione as informações que vocês veem e leem por aí. Alimente-se de mídias que acrescentam e não que gerem sofrimento e façam você duvidar do potencial do seu corpo e da sua mente”, salienta a psicóloga sobre a pressão para ser ‘fitness’, que tem se intensificado neste período com incontáveis aulas, receitas e lives de exercícios.

“Precisamos entender que não há um comportamento padrão a ser seguido, que está tudo bem se você não consegue fazer exercício físico todos os dias ou seguir uma rotina completamente organizada”, complementa.

Para se entender melhor com a comida e ter uma relação mais amigável com ela, a profissional reforça que vale a pena fazer uma reflexão sobre essa relação e entender o que motiva essa busca pelo alimento. “Estamos com fome ou com outros sentimentos? Temos que acolher nosso sentir e tentar encontrar outras maneiras para se nutrir, que não apenas com a comida. Seria tédio, ansiedade? Como alimento isso? Qual o sentimento e o que me ajudaria a preencher e a lidar com ele?”, conclui.

Mantenha o foco em você

“Nesse momento a prioridade deve ser manter a saúde mental para que consiga passar por esse momento sem grandes prejuízos na vida” é o que diz Gabriela Bergamaschi, psicóloga especialista em Psicoterapia Comportamental.

Para a profissional, os padrões de beleza impostos pela sociedade cobram a todo momento que nos encaixemos dentro do que é imposto. “Essa cobrança faz com que o sentimento de culpa sempre seja um fantasminha presente, em relação a alimentação, principalmente”, explica.

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Além disso, a recepção de informações que reforcem esses padrões e comportamentos pode ser altamente prejudicial, já que desconsidera as particularidades e coloca todo mundo “no mesmo barco”. “A relação não saudável com comida, pode estar relacionada com várias questões individuais. É preciso refletir individualmente sobre isso, para que assim seja possível provocar mudanças no comportamento alimentar de cada um”, conclui Gabriela.

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