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A média de amamentação integral no Brasil é de apenas 54 dias

A média de amamentação integral no Brasil é de apenas 54 dias

A cobrança excessiva da sociedade e a falta de apoio às mães são as principais causas do desmame precoce no Brasil

Publicado em 2 de setembro de 2020 às 16:09

Shutterstock
Em nossa cultura a mulher é estimulada a amamentar, mas pouco apoiada Crédito: Shutterstock

O leite materno é o alimento ideal para os bebês pelo período mínimo de seis meses, conforme orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entretanto, o ato de amamentar ainda é muito romantizado, visto como algo natural e inerente às parturientes. Mas a realidade, é que muitas mulheres possuem dificuldades para aleitar seus filhos, e isso contribui para que a média de amamentação integral no Brasil seja de apenas 54 dias, o equivalente a menos de dois meses, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria.

Por demandar muita entrega e dedicação, a psicanalista e mestre em Saúde Coletiva Bianca Martins explica que a amamentação é um desafio enorme para toda mulher, justamente porque cada uma possui diferentes vivências na hora de amamentar. “Para algumas será muito realizador, e para outras uma demanda aniquiladora. A amamentação não é vivenciado da mesma forma para todas as mulheres. Mas sabemos que as mulheres que são apoiadas em seus percursos de amamentar seus bebês são muito bem sucedidas.”

Bianca faz uma crítica à sociedade que romantiza a amamentação, mas que não dá o suporte devido para que o aleitamento materno aconteça por no mínimo seis meses. “A mulher em nossa cultura é estimulada a amamentar, mas pouco apoiada e isso faz toda a diferença. E só há um modo de apoiar as mulheres em seus processos de amamentação: cuidando delas”, conclui a psicanalista.

"Amamentar é fisicamente e emocionalmente difícil, desafiador e desgastante. A mulher precisa ser apoiada e acolhida na família, precisa ter suas necessidades nutricionais e de cuidado resguardadas, como sono, suporte financeiro, reconhecimento familiar, para poder cuidar de seu bebê. O que vemos são as mulheres lançadas a extrema solidão e desamparo no puerpério"

Bianca Martins

psicanalista e mestre em Saúde Coletiva

A volta ao mercado de trabalho

A enfermeira obstetra Rosana Lima, que trabalha em um banco de leite, esclarece que além da falta de apoio da sociedade às mães, uma das maiores causas de desmame precoce é o retorno ao mercado de trabalho. “Nem toda empresa faz parte do programa "empresa cidadã", que dá à mulher a licença maternidade até os 6 meses. E ao pai, 21 dias. Precisamos de mais apoio da família e sociedade”, reivindica.

Outro fator determinante é que nem todas as mulheres conseguem produzir o leite materno na quantidade necessária para alimentar o bebê. Segundo a enfermeira, as causas desse cenário são as mamoplastias, tanto para redução quanto para o aumento das mamas, além da falta de estímulo à amamentação. “A frustração por não amamentar pode causar até depressão pós-parto nas mães. Por isso é importante a gente empoderar a família, a mãe e o pai para que a amamentação ocorra de forma eficaz”, orienta.

Tempos diferentes

Nesses casos, os bancos de leite são uma alternativa, combinado com a prescrição de algum outro leite por um pediatra. Em tempos de pandemia, Rosana afirma que os bancos de leite continuam recebendo doações por meio de agendamentos telefônicos. E ressalta que o vírus da covid-19 não foi encontrado no leite humano, então não há motivos para interromper o aleitamento por esse motivo.

Acervo pessoal
A pediatra Lívia Borgo entende que a amamentação foi fundamental para fortalecer o primeiro vínculo com seus quatro filhos. Crédito: acervo pessoal

Lívia Borgo é pediatra e mãe da Maria Luiza, de 14 anos, da Maria Clara, de 9 anos, da Maria Alice, de 4 anos, e do João Miguel, de 2 anos. Ela conta que conseguiu amamentar todos eles por tempos diferentes, à medida que foi entendendo que era capaz de alimentá-los somente com o leite materno. “O tempo de amamentação foi aumentando ao longo dos filhos. Amamentei minha primeira filha até os 3 meses, a segunda até os 6 meses, a terceira até os 11 meses e o quarto até 1 ano e 1 mês”, conta.

De acordo com a médica, o leite materno é o alimento mais adequado para os bebês, por conter em sua composição os nutrientes necessários em cada fase da criança, do colostro, após o nascimento, ao leite maduro. Além disso, a amamentação pode evitar doenças como diarreias, alergias, pneumonias e proporcionar uma melhor maturação imunológica e do intestino, fora o efeito positivo no desenvolvimento cognitivo do bebê.

A pediatra ressalta que a amamentação é um dos seus momentos favoritos como mãe. Para ela, durante este período, o vínculo entre mãe e filho é muito evidenciado. “Era o nosso momento de ficarmos juntinhos, de trocarmos olhares e sorrisos, de eu dar colo, fazer carinho, de ser porto seguro e fazer dormir. É uma fase tão intensa que o amor já se fortalece desde os primeiros dias, e ao longo do tempo vai só aumentando”, recorda Lívia com carinho.

"Mas para as mães que desejaram muito amamentar e não conseguiram, não se sintam culpadas. O que importa é que o amor e o cuidado de mãe para filho são os mesmos."

Lívia Borgo

pediatra

O aleitamento materno é um direito da criança segundo o 9° artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Todas as mães têm o direito de amamentar seus filhos no peito independentemente do local em que estiverem, seja em casa, na rua ou no trabalho. É dever do Estado garantir condições propícias para que a amamentação aconteça.

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