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Figurinista assediada por José Mayer debate o tema em evento em Vitória

Figurinista assediada por José Mayer debate o tema em evento em Vitória

Su Tonani, que já trabalhou com ator da Globo, é uma das convidadas da Roda de Conversa, promovida pela Revista.ag no dia 4 de março para discutir assédio no ambiente de trabalho

Publicado em 27 de fevereiro de 2020 às 14:05

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Su Tonani, figurinista capixaba assediada pelo ator José Mayer estará em evento da Revista.ag sobre assédio sexual . (Divulgação)

Já se passaram quase três anos desde que a figurinista Su Tonani resolveu acusar o ator José Mayer de assédio sexual. O caso veio a público como uma bomba, revelado em um blog do site Folha de São Paulo, já que Mayer era o galã que protagonizava as principais novelas da TV Globo. Depois da denúncia, ele admitiu o erro, a emissora se desculpou e Su se afastou dos holofotes, das fofocas.

Só mais recentemente que a capixaba de 31 anos está voltando a falar do assunto. Ela acha, no entanto, que cada mulher deve lidar com o problema do seu jeito. Nem todas precisam se expor. Mas devem denunciar o assédio. Sempre.

“Na época, precisava falar do que estava acontecendo, tirar de dentro de mim, dividir com amigos, me trouxe alívio. Mas toda mulher tem que saber o que é mais confortável pra ela e como ela vai querer lutar contra o assédio. Se não isso vira um outro peso. Devemos respeitar a escolha da vítima. Cabe ao outro, não vítima e não assediador, apenas ouvir e ter carinho. Cada mulher lida com o assédio da maneira que consegue. É particular como reagir. Pode ser saindo do trabalho e processando o agressor, pode ser falando, pode ser gravando e expondo. Devemos lembrar que cada uma carrega em si uma bagagem emocional, dado as suas relações com o todo”, defende a figurinista.

Su Tonani é uma das convidadas da Roda de Conversa que a Revista.ag realiza no próximo dia 4, no Auditório da Rede Gazeta, como parte das comemorações pelo Dia da Mulher. O evento, que terá como tema “Um basta ao assédio no mercado de trabalho”, terá ainda como palestrantes Gabriela Moreira, jornalista esportiva e cocriadora do movimento “Deixa ela trabalhar”; e Elda Bussinger, coordenadora do doutorado em Direito da FDV e pesquisadora em questões de gênero e violência contra a mulher.

Aspas de citação

Devemos respeitar a escolha da vítima. Cabe ao outro, não vítima e não assediador, apenas ouvir e ter carinho. Cada mulher lida com o assédio da maneira que consegue. É particular como reagir. Pode ser saindo do trabalho e processando o agressor, pode ser falando, pode ser gravando e expondo. Devemos lembrar que cada uma carrega em si uma bagagem emocional, dado as suas relações com o todo

Su Tonani
Figurinista
Aspas de citação

Após ter denunciado o assédio, a figurinista se tornou uma propulsora do movimento “Mexeu com uma, mexeu com todas”, que contou com adesão de dezenas de atrizes da TV Globo e, por fim, de milhares de brasileiras. “É um ideal, uma batalha pessoal minha. Mas é, acima de tudo, uma bandeira de todas nós”.

Para ela, muitas mulheres estão mais atentas sobre o assédio, que é um caminho sem volta. “Vejo isso principalmente porque, a partir da minha denúncia, as mulheres ficaram muito à vontade para falar de assédio comigo, pessoas da minha família e outras que eu mal conhecia. Elas querem me contar algo que estava guardado dentro delas havia muito tempo. E é aí que você entende que o problema é muito macro mesmo”, destaca a figurinista.

Questão complexa

Elda Bussinger acha que até o fim do assédio sexual há um longo percurso a ser percorrido. Mas concorda com Su Tonani quando ela diz que não é tão simples apenas denunciar o assediador.

“É uma questão realmente muito complexa. As denúncias hoje que se tornam públicas ou que estão escancaradas por Hollywood são de mulheres mais empoderadas. Mas imagine como é para uma mulher do cotidiano, pobre, negra... Como ela vai se posicionar? A própria família vai ficar contra ela! Elas sentem vergonha, se sentem culpadas! Se ela está numa indústria com outras mulheres pobres que dependem daquele trabalho, dificilmente vai haver uma mobilização. Sem falar nas questões religiosas. Então, há muitos elementos a serem considerados”, analisa a especialista.

Para Elda, apesar de todos os movimentos feministas, o que se vê nos últimos tempos é um retrocesso na luta contra o assédio. “Vivemos um problema mais grave, que é quando essas situações são validadas pelo Estado. Quando o presidente da República faz uma manifestação contra uma jornalista respeitada, ele valida essas formas de assédio. Assim, os homens, em geral, se sentem autorizados a fazerem isso, e a situação tende a piorar”, observa ela.

Debates

A solução, segundo a professora, virá com o tempo. “Isso depende de um processo educativo, de meninas e meninos. É algo lento, demorado. Envolve políticas públicas, debates sobre o assunto”.

Para as mulheres, diz ela, resta a união. “Elas precisam se fortalecer mutuamente. Isso não virá dos homens. Elas precisam fazer aproximações, precisam ter espaços de denúncias, criar vínculos, falar sobre assédio. Só assim poderão enxergar caminhos possíveis”.

Serviço

Roda de Conversa: "Um basta ao assédio no mercado de trabalho"

Palestrantes: Gabriela Moreira, jornalista esportiva e cocriadora do Movimento “Deixa ela trabalhar”; Su Tonani, figurinista e propulsora do movimento “Mexeu com uma, mexeu com todas” e Elda Bussinger, advogada, doutora e escritora.

Local: Auditório da Rede Gazeta

Dia 4 de março: 9h

Inscrições: leia.ag/rodadeconversa

Movimento contra assédio sexual. (Ilustração/AG)

SAIBA MAIS

O que é o assédio sexual no ambiente de trabalho? É a conduta de natureza sexual, manifestada fisicamente, por palavras, gestos ou outros meios, propostas ou impostas a pessoas contra sua vontade, causando-lhe constrangimento e violando a sua liberdade sexual.

Quais os tipos de assédio sexual no trabalho? Assédio sexual por chantagem: quando há a exigência de uma conduta sexual, em troca benefícios ou para evitar prejuízos na relação de trabalho; Assédio sexual por intimidação ou ambiental: é o que ocorre quando há provocações sexuais inoportunas no ambiente de trabalho, com o efeito de prejudicar a atuação de uma pessoa ou de criar uma situação ofensiva, de intimidação ou humilhação. Caracteriza-se pela insistência, impertinência, hostilidade praticada individualmente ou em grupo, manifestando relações de poder ou de força não necessariamente de hierarquia. Por vezes confundido com assédio moral

O que fazer se for vítima?

Dizer, claramente, não ao assediador;

Evitar permanecer sozinha (o) no mesmo local que o (a) assediador (a);

Anotar, com detalhes, todas as abordagens de caráter sexual sofridas: dia, mês, ano, hora, local ou setor, nome do (a) agressor (a), colegas que testemunharam os fatos, conteúdo das conversas e o que mais achar necessário;

Dar visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente daqueles que testemunharam o fato ou que são ou foram vítimas;

Reunir provas, como bilhetes, e-mails, mensagens em redes sociais, presentes.

Livrar-se do sentimento de culpa, uma vez que a irregularidade da conduta não depende do comportamento da vítima, mas sim do agressor;

Denunciar aos órgãos de proteção e defesa dos direitos das mulheres ou dos trabalhadores, inclusive o sindicato profissional;

Comunicar aos superiores hierárquicos, bem como informar por meio dos canais internos da empresa, tais como ouvidoria, comitês de éticas ou outros meios idôneos disponíveis;

Buscar apoio junto a familiares, amigos e colegas;

Relatar o fato perante a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e ao SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho).

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Fonte: Cartilha do Assédio Sexual: Ministério Público do Trabalho

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