Amarildo Lima, chargista de A Gazeta, venceu o coronavírus depois de 8 dias internado. Foto: Bernardo Coutinho/ A Gazeta
Amarildo Lima, chargista de A Gazeta, venceu o coronavírus depois de 8 dias internado. Foto: Bernardo Coutinho/ A Gazeta
Amarildo Lima

Curado, chargista de A GAZETA conta como venceu a Covid-19

Após sentir dores no corpo e dificuldades na respiração, Amarildo ficou internado durante 8 dias. O vírus atingiu 50% do pulmão, ele chegou a ficar na UTI semi-intensiva e perdeu seis quilos. Já em casa, o capixaba conta que a solidariedade foi fundamental para vencer a batalha

Amarildo Lima, chargista de A Gazeta, venceu o coronavírus depois de 8 dias internado. Foto: Bernardo Coutinho/ A Gazeta
Publicado em 23/07/2020 às 10h21
Atualizado em 23/07/2020 às 11h04

O chargista de A GAZETA, Amarildo Lima, é mais um capixaba a vencer a covid-19. Depois de ficar 8 dias internado - chegou a ir para a UTI semi-intensiva e perdeu seis quilos neste período -  ele agora está em casa. Durante este tempo sempre teve pensamentos positivos de que iria vencer. Mas sabia que a batalha seria grande. E a vitória só foi possível, ele diz, com a solidariedade de muitas pessoas. "Passei a acreditar um pouco de novo no ser humano", conta. 

Referência do traço que há 34 anos conta a história do Estado, do Brasil e do mundo, ele continua se emocionando e se colocando no lugar do outro para exercer o seu trabalho. Aos 58 anos, casado e pai, relata nesta entrevista como foram os momentos durante o período em que ficou internado num hospital de Vitória. Vencido o coronavírus ele passou a valorizar ainda mais as coisas simples da vida. "Fiquei com saudades de ver o pôr do sol da minha varanda".

Quando você percebeu que não estava bem?

No dia 31 de maio, um domingo, acordei sentindo o corpo um pouco doído e tossindo. No dia anterior tinha feito uma faxina, então achei que os sintomas eram resquícios da limpeza. Estava tentando me enganar. Eu e a minha família estávamos cumprindo o isolamento social, só saíamos de casa para pegar as encomendas que chegavam na portaria – sempre de máscara e usando álcool em gel. Estava tomando todos os cuidados.

Você procurou um médico?

Não procurei. Só tive esses sintomas e não senti mais nada. No outro dia a dor foi diminuindo, a tosse ficou bem leve. A coisa foi progredindo muito devagar. Usava o oxímetro e monitorava o estado febril. Na quinta-feira, mesmo insistindo para trabalhar, senti o baque. Nesse momento fiquei fraco e a respiração começou apresentar complicações. A sensação era muito estranha. Falava duas palavras e tinha que puxar mais ar. Fui piorando gradualmente.

Você chegou a fazer o exame para ver se estava com a covid-19?

Eu e minha filha fizemos o exame. O meu foi o conhecido como swab nasal e o dela o de sangue. Dois dias depois saiu o resultado positivo. Liguei para o editor de produção de A Gazeta pedindo para não divulgar a notícia, porque a minha mãe estava com chikungunya e em estado muito grave. Não queria deixá-la ainda mais preocupada.

E quando teve que ir para o hospital ficar internado?

Uma semana depois das primeiras dores. Cheguei durante a noite, fiz alguns exames e o médico constatou um pouco de infecção no pulmão, uma pneumonia bacteriana. Foi preciso entrar com o antibiótico para tratar a pneumonia. Fui orientado a voltar para casa acompanhado da minha filha. No dia seguinte foi aniversário da Ana Cláudia, a minha esposa. Pelo menos consegui curtir o dia com ela, que também passou a sentir os sintomas do vírus. Mas eu já não conseguia falar e não telefonava para ninguém. Na terça-feira fui internado. Foi colocado um cateter de oxigênio no  meu nariz para eu respirar. E a tomografia do pulmão mostrou que em 8 dias a doença atingiu 50% dele.

Foto de quando recebeu alta, com a equipe de enfermeiros. Na mão o certificado
Foto de quando recebeu alta, com a equipe de enfermeiros. Na mão o certificado "Eu venci a covid-19". Crédito: Arquivo pessoal

Como foi despedir da sua filha Camila (ela que levou Amarildo para o hospital)?

Me despedi da Camila e tive a sensação que iria ficar sozinho e sem saber o que ia acontecer. Neste momento a ficha caiu que eu dependia de um equipamento para viver. Já não respirava sozinho. Mas mesmo com a situação num estágio grave fiquei tranquilo.

O tempo todo da internação você ficou lúcido?

Nos 8 dias internados eu não fui entubado em nenhum momento. No primeiro dia piorei e tive que ir para UTI semi-intensiva, mas durante todo período de internação estive lúcido e acordado. E como levei o celular pude ter contato com a minha filha e esposa. Mas não foi fácil, fiquei muito combalido. Não conseguia ficar em pé e respirar era muito difícil. Também não me alimentava, fazia um esforço para comer 1/3 das refeições. Perdi seis quilos nesse tempo.

Nos momentos isolado no hospital o que pensava?

Sempre estive confiante porque sou positivista. E estava seguindo as recomendações dos médicos. Tinha quase a certeza de que não seria entubado. Não ficava pensativo, mas o que posso relatar é o tratamento dos profissionais do hospital. Essa solidariedade é que me deu a força para vencer. As enfermeiras parecem anjos.

Amarildo Lima

Chargista de A Gazeta

"A solidariedade dos profissionais de saúde me deu a força para vencer o vírus. As enfermeiras parecem anjos."

O isolamento total também é muito difícil de encarar. Enfermeiros, técnicos de enfermagem e médicos estão todos paramentados e só é possível ver os seus olhos...

É isso. As pessoas que iam limpar o quarto, as enfermeiras, mesmo com a máscara a gente sempre conversava. Uma delas estava com a mãe e a sogra internadas em hospitais da Grande Vitória. E ela estava ali cuidando de mim. Todo dia anotava os nomes das enfermeiras no celular para chamá-las pelos nomes. Quando tive alta enviei uma mensagem agradecendo pelo carinho e dedicação de cada um.

Tudo isso sem poder receber a visita de sua esposa e filha….

A minha filha foi me visitar uma vez, porque ela é médica. E o meu irmão, que também é médico, fez visitas. Durante esses 8 dias eu fiquei preocupado com o estado de saúde da minha esposa, que também foi contaminada, mas estava em casa. Outra coisa bacana foi a solidariedade das amigas médicas da minha filha. Tinha uma que ia ficar 20 minutos comigo, outras enviavam mensagens.

E sua mãe, como soube?

Liguei antes de ir para o hospital e disse: “Estou com covid”. Falei fazendo um esforço danado. Disse que estava indo para o hospital. Ela chorou, se apavorou. Mas o que deu a tranquilidade foi que eu tinha ligado.

E como foi receber alta?

Foi uma surpresa e aconteceu na véspera do meu aniversário. Consegui comemorar em casa. Na saída do hospital teve palmas representando a vitória. Tirei foto com os enfermeiros e na hora do agradecimento a voz embargou. Não tem como não se emocionar. Fiquei numa situação muito ruim e eles me ajudaram a sair. Fico muito agradecido.

Amarildo Lima

Chargista de A Gazeta

"Foi uma surpresa e aconteceu na véspera do meu aniversário. Consegui comemorar em casa. Na saída do hospital teve palmas representando a vitória. Tirei foto com os enfermeiros e na hora do agradecimento a voz embargou. Não tem como não se emocionar."
Na saída do hospital ele recebeu uma muda de Ipê.
Na saída do hospital ele recebeu uma muda de Ipê. "Vou plantar no sítio do meu irmão", diz. Crédito: Arquivo pessoal

Diante de tudo que viveu, o que você aprendeu com essa doença?

Que a gente desacredita da humanidade e da solidariedade. A maior lição foi ver que as pessoas têm um lado muito bom. A solidariedade dos amigos, dos meus colegas de trabalho, dos vizinhos, dos familiares, dos profissionais do hospital… Passei a acreditar um pouco de novo no ser humano. É a sensação de chegar perto da morte e voltar. Sempre valorizei as coisas simples. Tinha saudades de ver o pôr do sol da varanda da minha casa. Voltei uma pessoa melhor. 

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