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Publicado em 7 de outubro de 2021 às 02:20
Gadgets, apps, plataformas virtuais e hiperconexão já são uma realidade na maioria das escolas, e não mais um desenho para o futuro. Muito embora o acesso a essas ferramentas ainda seja desigual, é inegável a transformação que elas trouxeram para o processo de aprendizagem. A pandemia de Covid-19 apenas acelerou a digitalização do ensino, que já estava em curso. >
Mas a tecnologia faz muito mais do que inserir novas metodologias de ensino, como games e visitas virtuais. Ela também impacta o comportamento e as formas de interação no ambiente escolar. Todos esses novos recursos, portanto, têm chamado a atenção para a socialização, a formação de consciência crítica e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.>
Ao contrário dos temores de alguns, a tecnologia, quando bem utilizada, não desumaniza a educação. São mudanças que, segundo a diretora do Centro Lemann de Liderança para Equidade na Educação, Anna Penido, colocam o ser humano no centro do processo. “A pandemia nos mostrou como a tecnologia é útil e pode potencializar a aprendizagem, mas que sozinha não é capaz de promover o desenvolvimento pleno do estudante. É o ser humano que vai mostrar como se adaptar a essa realidade e se relacionar com ela” , afirma.>
Penido ressalta que “não há transformação digital sem transformação humana” e isso envolve trabalhar todas as dimensões do estudante: cognitiva, física, social, emocional e cultural. Também implica repensar o modelo tradicional de aprendizado. “É na vivência de experiências concretas que você vai aprendendo a se relacionar com outro, a equilibrar as emoções, a colaborar”, destaca a especialista.>
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Anna Penido
Diretora do Centro Lemann de Liderança para Equidade na EducaçãoUm exemplo de espaço em que a tecnologia é uma ferramenta poderosa para aumentar o protagonismo do estudante é a escola São Domingos, em Vitória. Por lá, as ferramentas são vistas como uma forma de melhorar a condição humana, principalmente os aspectos socioemocionais, como conta o gerente de Operações do colégio, Henrique Romano.>
“Desenvolvemos um trabalho para garantir acolhimento e aprendizagem dos alunos, que é voltado ao indivíduo. Isso requer um olhar específico do professor, porque é ele que vai auxiliar o aluno a navegar nesse mundo caótico de informação. A tecnologia só está ali para oferecer recursos nesse processo”, afirma. >
O investimento é, portanto, em uma formação integral focada em vínculos humanos, principalmente no que é estabelecido entre o professor e o aluno. A relação mais próxima tem impacto no interesse dos estudantes pelas disciplinas. Segundo Romano, durante a pandemia, a escola observou uma tendência entre os estudantes de preferir vídeos caseiros feitos pelos próprios professores do que conteúdos multimídias disponíveis em diferentes plataformas digitais.>
“Existe uma relação de confiança entre professor e aluno que tecnologia nenhuma vai ser capaz de construir. A conversa, o convívio e o contato continuam sendo os grandes diferenciais no processo formativo nas escolas”, atesta o gerente. >
A opinião é compartilhada pela diretora de conteúdo da Bett Educar, organização que coordena o maior evento de educação e tecnologia da América Latina, Adriana Martinelli. Para ela, a forma como a relação do ser humano com a tecnologia é construída vai influenciar diretamente na aprendizagem. >
Adriana Martinelli
Diretora de conteúdo da Bett EducarMartinelli chama a atenção, por exemplo, para o simples ato de fechar as câmeras nas aulas on-line, algo que foi amplamente debatido durante a pandemia. Na relação presencial, o aluno não tinha a opção “de se esconder”. Mas, neste novo ambiente digital, há muitos alunos que não querem ou têm dificuldade para abrir a câmera durante uma aula. >
“Eu, como professor, tenho que respeitar isso, mas acima de tudo procurar identificar de que forma eu posso ajudar no relacionamento e na sociabilidade do aluno. Isso é qualificar a relação de aprendizagem”, ressalta.>
O problema de sociabilidade exposto pela dificuldade de abrir uma câmera foi identificado por meio de tecnologia, mas não pode ser resolvido por ela. É necessário um olhar humano para pensar em estratégias para ajudar o estudante a superar aquela dificuldade.>
Na avaliação da coordenadora pedagógica do colégio Marista, Jacqueline Dias, esse é o papel da escola. “Esta era tecnológica não vai embora e ela precisa estar a favor do processo de aprendizagem e da formação da criança. A tecnologia precisa servir ao ser humano e não o ser humano servir a ela. Nada vai substituir a presença do professor, o valor dele para entender o indivíduo”, pontua.>
Para a psicóloga e professora da Faesa Caroline Bezerra, o grande desafio ainda é despertar no sistema educacional o entendimento de que desenvolver habilidades socioemocionais é também responsabilidade das escolas, não apenas da família. >
“Precisamos analisar todo o processo de ensino-aprendizagem, voltar o olhar menos para um currículo técnico e mais para uma formação humanizada. É fundamental que a escola atue para assegurar o convívio social dos alunos e professores no ambiente digital, preservar relações e construir uma interação ao longo desse processo. O ser humano precisa mudar junto com a tecnologia, não se tornando refém, mas a tendo como grande aliada”, acredita.>
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