Publicado em 3 de março de 2020 às 14:54
Esperado como o grande dia das prévias democratas, a Super Terça vai ser a chance de Bernie Sanders consolidar uma liderança que pode ser irreversível rumo à nomeação do partido à Casa Branca.>
Um bom desempenho nesta terça (3), quando 14 estados e um território entram em jogo nas eleições, aumentará expressivamente as possibilidades de o senador se tornar o adversário de Donald Trump.>
Atrás de sua trincheira, porém, pelo menos dois candidatos de centro tentarão mostrar que têm fôlego para chegar à convenção nacional da sigla, em julho, e disputar voto a voto a indicação com o progressista.>
Após as primárias e os caucus em Iowa, New Hampshire, Nevada e Carolina do Sul, Sanders vai à Super Terça embalado pela liderança no número de delegados e na média das pesquisas nacionais até aqui.>
>
Ele aparece com 28,8% nos levantamentos, seguido por dois moderados: o ex-vice-presidente Joe Biden, com 16,7%, e o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, que tem 15,1%.>
Ancorado no voto dos negros, o ex-vice de Barack Obama conseguiu uma vitória esmagadora neste sábado (29) na Carolina do Sul, com 48,4%. Sanders ficou em um distante segundo lugar, com 19,9%.>
A performance fez com que Biden revertesse o pessimismo que envolvia sua campanha após resultados ruins nas três primeiras prévias, também obrigou dois moderados a desistirem de continuar na corrida: Pete Buttigieg e Tom Steyer.>
Com mais musculatura, Biden precisa replicar o bom momento na Super Terça para mostrar capacidade de se viabilizar como alternativa a Sanders.>
O xadrez favorável ao ex-vice-presidente também coloca dúvidas sobre a força com que Bloomberg entra na corrida.>
Numa estratégia pouco ortodoxa, o ex-prefeito de Nova York pulou as quatro primeiras prévias e contava com um Biden enfraquecido na Super Terça para se fincar no terreno de melhor opção a Sanders.>
A votação desta terça vai eleger 1.344 dos 3.979 delegados que vão ao encontro nacional do partido no meio do ano e servirá para afunilar de vez a embaralhada disputa.>
Com diversidade política e demográfica, o quadro nas regiões que entram na corrida nesta semana é bem parecido com o que se vê no resto dos Estados Unidos, contribuindo para nacionalizar a competição.>
Entre os 327 milhões de americanos, 60% são brancos, 18% são hispânicos e 12% são negros, enquanto os 130 milhões que vivem nos estados da Super Terça são 53% brancos, 25% hispânicos e 11% negros.>
Estarão nesta etapa Califórnia e Texas --com 415 e 228 delegados, respectivamente--, além de outros 12 estados e o território de Samoa Americana.>
Ninguém leva a nomeação imediatamente depois de vencer nessas regiões, mas a boa performance garante a continuidade da campanha, enquanto um desempenho ruim pode enterrar uma candidatura.>
A estreia da Califórnia, estado mais populoso dos EUA, em uma Super Terça é um dos fatores que dá ainda mais força às primárias desta semana.>
O bilionário Michael Bloomberg, por exemplo, investiu 35% dos quase US$ 500 milhões que já gastou em propaganda eleitoral nos estados com mais delegados do país, dois deles Califórnia e Texas.>
O aporte é relevante porque, além da enxurrada de anúncios no rádio, na TV e em redes sociais, os outros concorrentes já gastaram grande parte de seus recursos nas primeiras prévias.>
Quem não se sair bem daqui para frente, portanto, tem grandes chances de ficar pelo caminho, já que nos EUA as doações eleitorais acompanham o desempenho dos candidatos.>
Biden e Bloomberg devem disputar com Sanders pelos principais estados a partir de agora, enquanto Amy Klobuchar e Elizabeth Warren devem desidratar e até desistir da corrida, como fez Buttigieg.>
Klobuchar não conseguiu ampliar suas bases moderadas, assim como o ex-prefeito de South Bend. Warren, por sua vez, concorre com Sanders pelo nicho mais à esquerda dos democratas, com propostas que vão da taxação dos mais ricos até saúde e educação grátis para todos.>
Conforme ele ganha terreno, portanto, ela fica mais para trás. O senador por Vermont lidera os três principais estados da Super Terça, ao lado de Biden.>
Na Califórnia, mais diverso e progressista, Sanders tem 32%, seguido por Biden, com 15,4%. Warren tem 14,3%, e Bloomberg, 12,6%. Já no tradicionalmente republicano Texas, o senador tem 29,1%, enquanto Biden aparece com 22,6%, e Bloomberg tem 17,3%. Warren fica em quarto lugar, com 12,1%.>
O bom momento de Sanders tem incomodado o establishment do partido, e figurões democratas já se mostraram dispostos a impedir a nomeação em benefício de um candidato mais palatável ao status quo.>
O temor é que a agenda de justiça social e igualdade econômica de Sanders afaste os moderados que ajudaram os democratas a recuperar a maioria da Câmara em 2018.>
A maneira mais fácil de conseguir a nomeação é ter os votos de 1.991 dos 3.979 delegados escolhidos nas primárias.>
Mas, além deles, há 771 superdelegados --governadores, integrantes do comitê nacional e do Congresso, por exemplo--, que podem entrar em ação caso ninguém atinja o número mínimo e seja necessário realizar um segundo turno na convenção democrata.>
Reportagem do New York Times publicada na semana passada entrevistou 93 dos superdelegados e encontrou uma oposição fortíssima à indicação de Sanders. O senador precisaria chegar à convenção de julho com uma vantagem significativa para tentar impedir um movimento contra ele.>
A Super Terça ganha assim mais um ingrediente crucial: se Sanders não ficar entre os três mais bem colocados, não conseguirá manter o argumento de que pode unir o partido -- e o país-- para vencer Trump.>
Além de Califórnia e Texas, o senador é favorito em Maine, Massachusetts e Vermont, por exemplo, mas disputa de perto com Biden em estados-pêndulo, considerados essenciais nas eleições gerais, como Carolina do Norte e Virgínia.>
Moderados, eles ora votam em democratas, ora em republicanos e são o quarto e o quinto em número de delegados nas primárias desta terça.>
Um dos principais argumentos dos críticos a Sanders é que ele não venceria Trump nessas regiões, mas o senador tem aparecido com vantagem sobre o presidente nas sondagens e tem apelo junto à classe média trabalhadora, que elegeu e reelegeu Obama, mas, em 2016, preferiu o republicano.>
Vencer nesse tipo de estado pode ser a primeira sinalização objetiva de Sanders ao establishment democrata de que é possível formar uma ampla base em torno dele e levar o partido de volta à Casa Branca.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta