Publicado em 20 de fevereiro de 2024 às 13:42
SÃO PAULO - No segundo dia de audiências na Corte de Haia para analisar as consequências da ocupação dos territórios palestinos, representantes da África do Sul acusaram o governo de Israel nesta terça-feira (20) de aplicar um tipo de apartheid "mais extremo" do que o imposto no país africano até 1994.>
"Como sul-africanos, percebemos, vemos, ouvimos e sentimos profundamente as políticas e práticas discriminatórias desumanas do regime israelense como uma forma ainda mais extrema de apartheid institucionalizado contra os negros em meu país", disse Vusimuzi Madonsela, embaixador sul-africano na Holanda, onde fica a sede do tribunal.>
A corte, a máxima instância de justiça da ONU, promove até a próxima segunda-feira (26) uma série de audiências sobre as consequências legais da ocupação israelense dos territórios palestinos desde 1967. Além da Faixa de Gaza, hoje palco da guerra de Israel contra o Hamas, o escopo das análises inclui também a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.>
As audiências foram convocadas após um pedido da Assembleia-Geral da ONU, e as opiniões que serão consolidadas não são vinculativas, de modo que espera-se que Tel Aviv as rejeite. Representantes de mais de 50 países, incluindo de potências globais como Estados Unidos, Rússia e China, devem discursar. O Brasil deve ser ouvido ainda nesta terça, a partir do meio-dia no horário de Brasília.>
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"O apartheid israelense deve acabar", enfatizou Madonsela em seu discurso, que abriu o segundo dia de audiências. Ele acrescentou que a África do Sul tem uma "obrigação especial" de denunciar qualquer tipo de segregação, onde quer que ocorra.>
Pretória pediu que a corte emita um parecer jurídico não vinculante apontando que a ocupação israelense dos territórios palestinos é ilegal — segundo os representantes sul-africanos, tal declaração contribuiria nos esforços para que as partes cheguem a um acordo.>
Antes, na segunda (19), representantes palestinos já haviam acusado Israel de impor um apartheid e também pediram ao tribunal que declarasse a ocupação israelense ilegal. Segundo o chanceler da Autoridade Nacional Palestina, que governa parcialmente a Cisjordânia ocupada, o parecer consultivo da corte poderia contribuir para uma solução de dois Estados e, assim, estabelecer uma paz duradoura.>
Israel não está participando das audiências, mas enviou uma declaração por escrito, pontuando que um parecer consultivo seria prejudicial para a obtenção de um acordo negociado com os palestinos.>
"Uma caracterização legal e clara da natureza do regime de Israel sobre o povo palestino só pode ajudar a remediar o atraso em curso e a chegar a um acordo justo", rebateu a embaixadora sul-africana Madonsela.>
No mês passado, após ação apresentada pelo governo sul-africano, a Corte de Haia determinou que Israel adote todas as medidas ao seu alcance para evitar que suas tropas cometam genocídio contra os palestinos em Gaza. O processo movido por Pretória, que teve o apoio do Brasil, não tem relação com as audiências desta semana. >
Já neste mês, Pretória voltou a acionar a Corte de Haia ao pedir que o tribunal avalie a decisão do governo israelense de ampliar suas operações militares em Rafah, no sul de Gaza. >
Israel planeja expandir seu ataque terrestre para a cidade de Rafah, onde mais de 1 milhão de palestinos buscaram refúgio da ofensiva que devastou grande parte da Faixa de Gaza desde que integrantes do Hamas atacaram Israel em 7 de outubro.>
Israel ocupou a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, áreas que os palestinos reivindicam para um Estado independente, na guerra de 1967 e, desde então, construiu assentamentos de colonos na Cisjordânia e expandiu-os continuamente. Neste sentido, o atual governo, o mais à direita da história do país, é também considerado um dos mais radicais na defesa da presença dos colonos judeus.>
As Nações Unidas referem-se desde 1967 aos territórios em questão como ocupados por Israel e exigem que as forças israelenses se retirem, dizendo que é a única forma de garantir a paz na região.>
Espera-se que os juízes da Corte de Haia levem cerca de seis meses para emitir um parecer sobre as audiências desta semana.>
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