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Gramado sintético realmente gera mais lesões do que o natural?

Gramado sintético realmente gera mais lesões do que o natural?

Saulo Santana, coordenador do Departamento de Saúde e Performance do Rio Branco, Helder Souza, preparador físico do sub-20 do Rio Branco, e Dr. Ricardo Siepierski, referência na fisioterapia esportiva no estado, avaliam os efeitos do gramado sintético na saúde dos atletas

Caio Vasconcelos

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Publicado em 2 de março de 2025 às 08:00

Botafogo e Palmeiras jogão no síntetico
Botafogo e Palmeiras jogão no sintético, enquando Corinthians e Flamengo jogam no gramado natural. Crédito: Botafogo/Palmeiras/Corinthians/Flamengo

A discussão sobre os gramados sintéticos no futebol brasileiro ganhou força nos últimos dias com a manifestação de jogadores como Neymar, Thiago Silva, Lucas e Philippe Coutinho, que pedem o fim desse tipo de superfície nos campos do país. Mas a grama sintética realmente aumenta o risco de lesões? A ciência confirma essa preocupação? Especialistas que trabalham diariamente responderam algumas perguntas sobre a polêmica. 

Saulo Santana, coordenador do Departamento de Saúde e Performance do Rio Branco, Helder Souza, preparador físico do sub-20 do Rio Branco, e Dr. Ricardo Siepierski, referência na fisioterapia esportiva no estado, avaliam os efeitos do gramado sintético na saúde dos atletas.

De acordo com Saulo Santana, existem pesquisas que analisam há anos as diferenças entre o gramado sintético e o natural no que diz respeito ao risco de lesões. No entanto, os resultados variam conforme a qualidade do gramado, a modalidade esportiva, as condições climáticas e as características dos atletas. Algumas pesquisas indicam que os gramados sintéticos podem aumentar o risco de entorses e lesões nos ligamentos, especialmente no ligamento cruzado anterior do joelho.

"Não há um consenso absoluto, mas sabemos que o risco de lesões está mais ligado à qualidade e manutenção do gramado do que ao seu tipo. No entanto, os campos sintéticos, por serem mais rígidos e oferecerem maior atrito, podem sim aumentar o risco de certos tipos de lesões."

Quais lesões são mais comuns nos gramados sintéticos?

Segundo o Dr. Ricardo Siepierski, o gramado sintético oferece maior fricção, o que pode aumentar o risco de entorses, distensões e lesões ligamentares. Estudos mostram que lesões no tornozelo e joelho são mais frequentes devido à menor absorção de impacto e ao risco de "agarrar" as travas da chuteira na grama sintética, causando torções graves. Além disso, escoriações e contusões são mais comuns devido à dureza da superfície.

O fisioterapeuta ainda explica: "O gramado sintético tem uma superfície mais dura e com menor absorção de impacto, o que pode resultar em um aumento no número de lesões articulares e ligamentares. Estudos apontam que tornozelo e joelho são as regiões mais afetadas."

Uma pesquisa publicada na Sports Medicine em 2011 comprova que o número de contusões no tornozelo, joelhos e músculos posteriores das coxas eram maiores em gramados sintéticos, inclusive para jogadores profissionais.

O fisioterapeuta Ricardo Dr Ricardo Siepierski
O fisioterapeuta Ricardo Dr Ricardo Siepierski Crédito: Dr Ricardo Siepierski

A maior rigidez do gramado sintético reduz a capacidade de amortecimento, o que pode sobrecarregar articulações e aumentar a incidência de lesões. Helder Souza pondera: "Muita gente acredita que o sintético aumenta o risco de lesões, mas os estudos mais recentes mostram que não é bem assim. Pelo contrário, em muitos casos, ele pode até ser mais seguro. Lesões de coxa, pelve e ligamentares, por exemplo, tendem a diminuir nesse tipo de superfície."

O calor do gramado sintético aumenta o risco de lesões?

Helder que já passou pelo Botafogo e trabalhou com gramado sintetico explicou sobre o risco em relação a lesões. "Muita gente acredita que o sintético aumenta o risco de lesões, mas os estudos mais recentes mostram que não é bem assim. Pelo contrário, em muitos casos, ele pode até ser mais seguro. Lesões de coxa, pelve e ligamentares, por exemplo, tendem a diminuir nesse tipo de superfície". 

"Muita gente acredita que o sintético aumenta o risco de lesões, mas os estudos mais recentes mostram que não é bem assim. Pelo contrário, em muitos casos, ele pode até ser mais seguro. Lesões de coxa, pelve e ligamentares, por exemplo, tendem a diminuir nesse tipo de superfície"

Helder Souza

Preparador Físico 

Ainda assim, a resistência dos atletas ao sintético continua, muito por conta da adaptação e da sensação diferente que ele proporciona. Isso influencia diretamente na preferência pelo gramado natural.

O gramado sintético absorve mais calor do que o natural, especialmente sob exposição direta ao sol. Materiais como polietileno e polipropileno retêm calor, elevando a temperatura do campo. Isso pode acelerar a fadiga muscular, comprometer o controle motor e aumentar o risco de lesões.

Helder Souza e Saulo Santana
Helder Souza e Saulo Santana Crédito: Foto: Wagner Chaló/ Rio Branco

"O aumento da temperatura do campo pode fazer com que a superfície se torne mais dura, o que pode afetar o impacto nas articulações e aumentar o risco de lesões, como problemas nos ligamentos e nas articulações, devido à falta de amortecimento natural", alerta Saulo.

Como reduzir o risco de lesões no gramado sintético?

Embora o gramado sintético apresente desafios, algumas estratégias podem minimizar os riscos:

  • Uso de chuteiras específicas para gramado sintético, que oferecem melhor aderência e evitam o travamento excessivo do pé na superfície.
  • Adaptação progressiva ao gramado sintético para reduzir o impacto da mudança.
  • Treinamento preventivo com foco no fortalecimento muscular e estabilidade articular.
  • Exercícios que compõem protocolos diários, como: flexão nórdica, flexão nórdica reversa, prancha lateral. 

Dr. Ricardo Siepierski reforça: "A escolha correta do calçado, uma preparação física adequada e a manutenção do gramado são essenciais para minimizar os riscos e preservar a integridade dos jogadores."

Conclusão

A ciência ainda não chegou a um consenso definitivo sobre os riscos dos gramados sintéticos em comparação aos naturais. No entanto, há evidências de que certos tipos de lesões podem ser mais comuns em gramados artificiais devido à sua rigidez e ao maior atrito. A chave para a segurança dos atletas está na qualidade da superfície, no uso de calçados apropriados e em treinamentos preventivos que minimizem os impactos das diferenças entre os tipos de gramado.

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