O impacto ao ver os 'esqueletos' das árvores do manguezal do rio Piraquê-Mirim, em Aracruz, na Região Norte do Espírito Santo, toca de forma sensível aqueles que respeitam o meio ambiente. A palidez dos troncos mortos contrasta com a lama do mangue morto e forma um cenário desolador. Cerca de 500 hectares da área foram devastados por consequência das mudanças climáticas.
Reflorestar áreas degradadas não é uma tarefa simples, ainda mais quando é um manguezal. O terreno pantanoso por conta da lama e o movimento das marés tornam o trabalho de restauração mais desafiador. A complexidade deste bioma exige estudos, métodos, técnicas, conhecimento das comunidades locais e acima de tudo, resiliência.
Em busca de soluções para reduzir o impacto socioambiental causado pelo fenômeno na região, foi criado o projeto "Manutenção do Estoque Natural: Experiências Compartilhadas com a Comunidade Extrativista" — o Enec, coordenado pela professora Mônica Tognella, do Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas do campus de São Mateus da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Comunidades mobilizadas para salvar o mangue
Como o próprio nome sugere, a essência do projeto é firmada na conexão entre universidade e comunidade. Para Tognella, a iniciativa é uma oportunidade de evidenciar como “o conhecimento empírico junto ao conhecimento científico podem melhorar o mundo”. Ela ressalta que a vivência dos pescadores, catadores de caranguejo e demais participantes da experiência proporcionam tomadas de decisões mais adequadas.
Com profundo conhecimento do mangue, pescadores, catadores de caranguejo, siri e os próprios moradores da região de Santa Cruz participam ativamente do replantio. Antes da degradação ambiental, dali retiravam ostras, lambretas e caranguejos para sua subsistência. "O sustento que a gente tirava daqui já não tira mais. Então, a gente tem que tentar recuperar o mangue, o sustento. A minha família todinha trabalha nesse ramo, direto do mangue. E agora está difícil", desabafou a catadora de caranguejo Esther Vasconcelos.
Mão na massa e tecnologia para o replantio
O processo de restauração é árduo. Todas segundas e terças, pesquisadores e ribeirinhos vão para o campo monitorar e replantar árvores no manguezal. Algumas das atividades acompanhadas pela reportagem são o monitoramento da temperatura e salinidade, além da retirada de mudas de árvores de um bosque sadio para um local atingido. “Nosso desejo é acelerar o processo de recuperação para que o mangue possa voltar a prestar os serviços ecossistêmicos que ele já prestava antes”, relata o doutorando em oceanografia ambiental da Ufes, o biólogo Maykol Hoffmann.
A equipe trabalha com técnicas de restauro com soluções baseadas na própria natureza e conta também com uma ajuda que vem de cima: satélites e drones. “Com cruzamento dos dados de topografia e salinidade junto às imagens aéreas, conseguimos perceber as áreas que a vegetação está vingando muito bem e outras não. E assim vamos monitorando a evolução deste manguezal”, relata Helia Farias Espinoza, doutoranda responsável pelo sensoriamento remoto e Sistema de Informação Geográfica (SIG).
Todos estes esforços estão concentrados para reconduzir a qualidade de vida ambiental do mangue e das comunidades que deles dependem. Quem sabe da importância ecológica, econômica e cultural enxerga esperança em meio à dificuldade. “Graças a Deus a vida já está voltando", comemora o pescador Messac Vasconcelos, 57 anos. (Com informações de Juirana Nobres do g1ES)
Salve o manguezal: como ciência e comunidade restauram bioma no ES
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