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TJES vai adotar medidas contra decreto que suspende integração de comarcas

TJES vai adotar medidas contra decreto que suspende integração de comarcas

Tribunal de Justiça destaca suposta "violação dos princípios de separação de Poderes" no decreto aprovado pela Assembleia Legislativa, que suspende a extinção de 27 fóruns no Estado

Publicado em 26 de maio de 2021 às 21:38

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Desembargador Ronaldo Gonçalves de Sousa, presidente do TJES, na cerimônia de homenagem a Bourguignon
Desembargador Ronaldo Gonçalves de Sousa, presidente do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES). (Divulgação/TJES)
Autor - Iara Diniz
Iara Diniz
Repórter de Política / [email protected]

Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) vai adotar medidas legais contra o projeto aprovado pela Assembleia Legislativo que suspende a integração de 27 comarcas no Estado. No entendimento da Corte, o decreto é inconstitucional e trata de um assunto de competência exclusiva do Judiciário.

"Dentro das balizas estabelecidas pelas Constituições Federal e Estadual, especialmente diante da independência e harmonia entre os Poderes, as medidas legais estão sendo estudadas e serão devidamente adotadas face à suposta violação dos princípios da separação dos Poderes e da hierarquia de normas, denotando uma inconstitucionalidade do referido ato normativo", disse o tribunal, por meio de nota enviada à reportagem. 

TJES vai adotar medidas contra decreto que suspende integração de comarcas

O relatório apresentado pelo deputado estadual Marcelo Santos (Podemos), relator do projeto na Comissão de Justiça da Assembleia, é citado pelo TJES.  Durante sessão na última segunda-feira (24), o parlamentar afirmou que o texto que suspendia a integração de comarcas era inconstitucional. Apesar disso, ele deu parecer pela constitucionalidade, permitindo que a proposta tramitasse na Casa.

"Destaco que o próprio relatório da Comissão de Constituição e Justiça lido no Plenário da Assembleia destacou por inúmeras vezes a inconstitucionalidade do Decreto Legislativo. Mas, face à sua aprovação, a inconstitucionalidade agora será analisada pelo órgão competente", frisou o presidente do TJES, desembargador Ronaldo Gonçalves, em nota encaminhada.

O relatório de Marcelo Santos deixou outros membros da Comissão de Justiça confusos. O deputado Fabrício Gandini (Cidadania) chegou a pedir cinco minutos para consultar a Procuradoria da Casa sobre a validade do parecer. Já Vandinho Leite (PSDB) tinha dúvidas sobre como proceder, já que o parecer do relator contradizia o relatório.

A solução encontrada por alguns parlamentares foi não anexar o relatório de Marcelo Santos e considerar apenas o parecer oral. De acordo com o deputado, o parecer dele foi uma decisão política. 

AUTONOMIA ADMINISTRATIVA

O Tribunal de Justiça também destacou a autonomia administrativa que é dada ao Judiciário pela Constituição Federal e também pela Lei Complementar aprovada em 2014 pela própria Assembleia Legislativa. Foi graças a essa lei, inclusive, que o tribunal pôde realizar a integração de comarcas.

Na época, o presidente da Casa era o deputado Theodorico Ferraço (DEM), autor do projeto aprovado na Assembleia na última segunda-feira (24). Embora o decreto suste os efeitos da medida adotada pelo TJES, A Corte frisou que essa competência é do CNJ.

"Sempre é conveniente lembrar que a reorganização do Poder Judiciário é de competência administrativa do Tribunal de Justiça, sendo sua autonomia afirmada nas Constituições Federal e Estadual, bem como na Lei de Organização Judiciária do Estado do Espírito Santo [...] Além disso, a questão de fundo (integração de Comarcas) está atualmente em análise junto ao Conselho Nacional de Justiça, quem vai de fato decidi-la na próxima semana", registrou o TJES em nota.

A extinção de 27 fóruns no Estado foi determinada pelo TJES em maio do ano passado, após  recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Na época, todos os desembargadores foram favoráveis à medida para reduzir gastos e adequar a situação fiscal do tribunal.

A decisão, contudo, está suspensa provisoriamente pelo CNJ atendendo a um pedido da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Espírito Santo (OAB-ES), que alega erros no estudo que embasaram a integração, além de prejuízos à população.

O julgamento do mérito da matéria, que é o conteúdo da medida adotada pelo tribunal, está em andamento no CNJ. A previsão é que ele seja retomado na próxima terça-feira (1º). Até o momento, apenas a relatora do procedimento, conselheira Ivana Farina, votou. Ela foi favorável à integração de comarcas.

RELAÇÃO ENTRE PODERES

O voto da relatora, que no ano passado havia sido responsável pela decisão liminar que suspendeu provisoriamente a integração de comarcas, gerou reação na sociedade civil.

Prefeitos e vereadores das 27 cidades onde os fóruns serão extintos, além de membros da OAB-ES e deputados estaduais, passaram a pressionar o Judiciário a voltar atrás. Foi nesse contexto que o decreto legislativo foi aprovado na Assembleia. 

Nos bastidores, teme-se um estremecimento na relação entre o Legislativo e o Judiciário capixaba. Representantes dos dois Poderes, contudo, negam qualquer crise institucional e afirmam que há busca pelo diálogo. 

"O interesse de ambos os Poderes é convergente, no sentido de prestar um serviço cada vez mais ágil ao cidadão capixaba", destacou o presidente do TJES em nota. 

"INTEGRAR COMARCAS É IMPRESCINDÍVEL PARA MELHORAR SERVIÇO", DIZ TJES

Um dos principais prejuízos apontados pela OAB e por outras instituições que se manifestam contra a integração de comarcas é o acesso limitado à Justiça que a população das cidades sem fóruns terão. Com isso, muitos moradores vão ter que percorrer vários quilômetros para realizar procedimentos judiciais, o que, entre outros fatores, demanda gastos financeiros do cidadão. 

O Tribunal de Justiça, contudo, afirma que o serviço em muitos fóruns não atende com qualidade a população, já que não há juízes titulares e faltam servidores. 

Aspas de citação

De nada adianta ter um fórum se lá não tiver juiz ou servidor. Será apenas um prédio vazio, improdutivo, desrespeitando o dinheiro do contribuinte

Tribunal de Justiça do Espírito Santo
Em nota encaminhada
Aspas de citação

"Nem tão cedo poderemos dar concurso por impeditivo legal para contratar novos juízes e servidores, a cada dia mais se aposentam, muitas comarcas não têm juízes e outras em breve também perderão os seus, por isso não fazer a integração de comarcas agora significa, na verdade, negar atendimento à população, ao contrário do que se tem reclamado", complementa.

Segundo o tribunal, a extinção de comarcas é imprescindível para a melhoria do serviço prestado e pela própria sobrevivência do Judiciário, que precisa manter o equilíbrio fiscal. 

"O que vai aumentar é a eficiência, a produtividade, a velocidade na resposta e, inclusive, o efetivo acesso à justiça, ao passo que no lugar dos prédios físicos haverá uma estrutura tecnológica disponível às Comarcas Integradas, cujo benefícios para o cidadão e o advogado são incomensuráveis."

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