Publicado em 27 de fevereiro de 2020 às 19:10
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chegou a compartilhar, via WhatsApp, um vídeo que convoca manifestantes para participar de protestos contra o Congresso Nacional. O episódio foi mais um na escalada de animosidade entre Executivo e Legislativo.>
O chamado do presidente ocorreu durante o carnaval, mas o que levou a isso começou bem antes e envolve uma disputa sobre quem definirá o destino de R$ 30 bilhões. Entenda: >
O Orçamento da União é administrado pelo governo federal, comandado pelo presidente da República. A maior parte do dinheiro, no entanto, já é "carimbada", vai obrigatoriamente para determinadas áreas. Além disso, há as emendas parlamentares, por meio das quais deputados e senadores indicam alguns valores para serem aplicados nos Estados, em obras, por exemplo. >
Desde 2013, no governo Dilma Rousseff (PT), as emendas individuais, ou seja, formuladas por um deputado ou um senador, já são impositivas. Assim, o governo é obrigado a liberar o dinheiro. Essa mudança foi inserida pelo próprio Congresso Nacional. Em 2019, os parlamentares aprovaram tornar obrigatórias também as emendas de bancada, propostas em conjunto pelos deputados e senadores de um Estado. >
>
Os congressistas também alteraram a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), no final do ano passado, para garantir as emendas impositivas, que abarcariam, ainda, as emendas elaboradas por comissões e pelo relator do orçamento.>
O prazo para a liberação da verba por parte dos ministérios, de acordo com o que foi aprovado pelo Congresso, seria de 90 dias.>
Com todas as emendas impositivas aprovadas, o Congresso seria responsável por determinar a alocação de R$ 30 bilhões do Orçamento de 2020, tirando essa prerrogativa do Executivo, tornando o Orçamento mais "amarrado" e dando mais responsabilidades aos parlamentares. >
Bolsonaro, no entanto, vetou alguns pontos da LDO, o que inviabilizaria parte das emendas impositivas.>
Um dos trechos vetados é o que previa que "a execução das programações das emendas deverá observar as indicações de beneficiários e a ordem de prioridades feitas pelos respectivos autores". Na justificativa, após consulta ao Ministério da Economia e à pasta da Casa Civil, o presidente considerou que "o dispositivo proposto é contrário ao interesse público".>
O Congresso pode derrubar o veto e fazer as emendas impositivas valerem, de qualquer forma. >
Um acordo, entretanto, estava sendo costurado. >
Nesse intervalo, no entanto, uma declaração do general Augusto Heleno Ribeiro, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro, colocou lenha na fogueira. >
O ministro disse que o Congresso faz "chantagem" e soltou um "foda-se". O áudio foi captado durante uma transmissão ao vivo do próprio governo. >
Se após as críticas de Heleno o clima ficou mais tenso, o próprio presidente piorou as coisas. Ele compartilhou, durante o carnaval, um vídeo no WhatsApp que convoca manifestantes para um protesto. O ato é contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).>
O fato de Bolsonaro ter compartilhado o vídeo foi noticiado pela jornalista Vera Magalhães, de "O Estado de S. Paulo", que se tornou vítima de ataques coordenados de bolsonaristas nas redes sociais. >
O presidente, por sua vez, não negou ter enviado a mensagem a seus contatos. Disse apenas que no WhatsApp trata de assuntos de "cunho pessoal". Houve reações. Para o decano do STF, ministro Celso de Mello, Bolsonaro não está à altura do cargo de presidente da República.>
No próprio Congresso, no entanto, o tom foi mais brando. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), afirmou nesta quinta-feira (27) que "está tudo tranquilo".>
Nesta quarta (26), publicou, no Twitter, uma mensagem contra a criação de "tensão institucional", sem mencionar a convocação feita por Bolsonaro.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta