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Marcos do Val explica reunião com Bolsonaro para gravar Moraes

Marcos do Val explica reunião com Bolsonaro para gravar Moraes

O plano, segundo o parlamentar do ES, era articulado pelo ex-deputado Daniel Silveira, preso nesta quinta-feira (2). Plano era tentar captar um diálogo comprometedor com o ministro para prendê-lo e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

Publicado em 2 de fevereiro de 2023 às 12:22

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O senador do Espírito Santo Marcos do Val (Podemos) declarou à revista Veja que em reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro e com o ex-deputado Daniel Silveira foi apresentado um plano para gravar uma conversa com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, e tentar usá-la para anular o resultado das eleições. A informação foi confirmada pelo parlamentar em entrevista coletiva (veja acima).

De acordo com Do Val, o plano articulado pelo ex-deputado Daniel Silveira, preso nesta quinta-feira (2), era tentar captar um diálogo comprometedor com o ministro para prendê-lo e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Na entrevista no Senado, na manhã desta quinta-feira (2), no entanto, ele negou que o ex-presidente tenha o coagido, embora tenha afirmado que houve coação em live no Instagram na madrugada desta quinta-feira (2).

Ao falar em seu gabinete, Do Val agora diz que o plano, na verdade, foi do ex-deputado Daniel Silveira, que foi preso nesta quinta-feira por ordem do Supremo Tribunal Federal por violação de decisão judicial.

"Pode até ser que o presidente tava (sic) ali também para escutar, para, de repente, denunciar o Daniel. Porque como eu estava lá e eles também não sabiam que eu ia reportar ao ministro, pode ser que ele (Bolsonaro) também estava lá, via GSI, para reportar ao GSI essa proposta."

Mensagens de Daniel Silveira para o senador Marcos do Val divulgados pela revista Veja(Veja/Reprodução)

À Veja, do Val relatou, anteriormente, que Bolsonaro teria dito que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) daria o suporte técnico à operação, fornecendo os equipamentos de espionagem necessários, e que já estava tudo acertado.

Depois, no início da tarde desta quinta (2), em entrevista ao Estúdio I, da Globo News, disse que pode ter se equivocado e que apenas entendeu que o GSI daria o suporte, mas que não necessariamente seria o caso.

“Na hora, eu disse que aquilo era ilegal. Que gravações sem autorização judicial poderiam configurar crime. Nunca compactuei com atos radicais ou extremistas. Sou um democrata, sempre vou lutar para que a democracia permaneça inabalável. Uma operação como a que estava sendo articulado colocaria o Brasil em isolamento mundial, provocaria uma grave crise econômica, traria mais miséria e pobreza. As consequências seriam imprevisíveis”, declarou o senador à Veja.

Embora a gravação pudesse configurar um crime, ainda não implicava em golpe. Segundo do Val, a ideia era conseguir que o ministro declarasse que agia sem observar necessariamente a Constituição. “Com essa gravação, o presidente iria derrubar a eleição, dizer que ela foi fraudada, prender o Alexandre de Moraes, impedir a posse do Lula e seguir presidente da República. Fiquei muito assustado com o que ouvi”, destacou.

A reunião com Silveira e Bolsonaro teria acontecido no dia 9 de dezembro, com duração de cerca de 40 minutos. Horas antes, Jair Bolsonaro quebrou o silêncio após mais de um mês de uma reclusão voluntária, depois da derrota nas urnas.

O então presidente fez um breve pronunciamento, se desculpando por eventuais erros, disse que seu futuro dependia dos apoiadores (que ainda ocupavam a frente dos quartéis do Exército) e exaltou sua ligação com as Forças Armadas. Não reconheceu a derrota. Lula ainda não havia sido diplomado e Bolsonaro acreditava em uma virada.

Do Val declarou que acredita que o ex-mandatário tenha sido influenciado por Silveira a dar um golpe de estado.

“O presidente (Bolsonaro) nunca mostrou qualquer intenção em atuar fora das quatro linhas. A relação dele com o deputado Daniel acabou ficando muito próxima, principalmente depois que o presidente concedeu a ele a anistia pela condenação naquele processo do Supremo. Sei que o Daniel troca muita informação com o presidente, e talvez isso tenha influenciado de alguma maneira o que aconteceu. O Daniel disse que eu ia salvar o Brasil e o presidente repetiu.”

O senador do Espírito Santo, que, após as declarações, informou que pretende se afastar do cargo e deixar a vida política, disse acreditar que a escolha dele para participar da operação se devia à proximidade com o ministro do Supremo.

“Muita gente sabe que tenho uma ligação com o ministro Alexandre de Moraes. Quando ele foi secretário de Segurança de São Paulo e o Geraldo Alckmin era governador, fui contratado para dar treinamento para a polícia paulista. Não somos íntimos, mas temos um excelente relacionamento. Por isso — e também por dever cívico e de consciência —, relatei a ele o que estava acontecendo. Era a coisa certa a ser feita.”

Do Val:
Do Val: "relatei a ele (Alexandre de Moraes) o que estava acontecendo". (Montagem)

Informações repassadas a Moraes

Do Val disse que pediu um tempo para pensar sobre a proposta e então relatou a Moraes sobre o que tinha acontecido. Em 12 de dezembro, três dias após a reunião, enviou uma mensagem ao ministro solicitando um encontro presencial, de acordo com a Veja.

Na manhã daquele dia, Lula havia sido diplomado pelo TSE. À tarde, bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal no DF para resgatar um preso, resultando em um confronto com a polícia e atos de vandalismo pela cidade.

Do Val justificou a urgência em encontrar o ministro: “Precisava falar como foi o encontro com o PR e o DS”. PR era o presidente da República. DS era o deputado Daniel Silveira.

Segundo informações da revista Veja, o senador relatou que os dois haviam lhe convidado para participar do que ele definiu como “uma ação esdrúxula, imoral e até criminal”. Moraes, que já teria sido alertado sobre uma tentativa anterior de abordagem de Silveira ao senador, agendou o encontro pessoal para dali a dois dias.

Silveira, preso nesta quinta (2), é investigado em um inquérito sigiloso conduzido por Alexandre de Moraes, e já foi condenado e preso por ameaça ao estado democrático de direito, tendo recebido indulto de Bolsonaro. Ele ocuparia um cargo no gabinete do senador Magno Malta (PL-ES), que assumiu o cargo na quarta-feira (1º).

Por mensagens de texto, ele teria pressionado do Val por uma resposta: “Não sei se você compreendeu a magnitude desta ação. Ela define, literalmente, o futuro de toda a nação”. Silveira teria ficado sem resposta até que o senador se encontrasse com Moraes, que teria soltado um “Não acredito”, em tom de espanto, ao ouvir sobre o plano. Horas mais tarde, do Val teria respondido ao contato de Silveira, dizendo que iria “declinar da missão”.

No dia 15 de dezembro, após o encontro entre do Val e o ministro Alexandre de Moraes, Daniel Silveira foi multado em R$ 2,6 milhões. Ele teria desrespeitado as medidas cautelares que é obrigado a cumprir, entre elas, o impedimento de dar entrevistas, a proibição de uso das redes sociais. Além disso, não podia comparecer a eventos públicos, precisava manter distância de outros investigados e era obrigado a usar tornozeleira eletrônica.

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