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Publicado em 27 de novembro de 2024 às 19:36
Apontado pela Polícia Federal (PF), no relatório que culminou no indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outras 36 pessoas, como um dos responsáveis por atrapalhar as investigações que miram tentativas de golpe de Estado iniciadas após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022, o senador Marcos Do Val (Podemos) citou filme estrelado pelo ator Will Smith como referência para sua atuação nas ações investigadas pela PF.>
As ações de Marcos Do Val são citadas em 53 das 884 páginas do documento da PF, mas o parlamentar não está entre os indiciados. O contexto em que o senador faz referência ao filme com o astro de Hollywood acontece durante troca de mensagens entre o político capixaba e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). >
No diálogo anexado pela polícia no relatório que embasou o indiciamento dos investigados por tentativa de golpe à democracia, o parlamentar celebra o fato de uma revelação sua à revista Veja, no início de fevereiro de 2023, ter causado grande repercussão na imprensa, abrindo caminho para abertura da CPMI visando à apuração dos atos golpistas de janeiro do ano passado.>
Na entrevista, Do Val sustentou ter sido coagido por Bolsonaro, em dezembro de 2022, a gravar de maneira ilegal uma possível conversa com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ex-deputado federal Daniel Silveira também teria participado do plano.>
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A ideia, segundo o senador, era tentar chegar a um ponto do diálogo em que o magistrado, sem saber da gravação, fizesse alguma declaração comprometedora e que pudesse ser usada em seguida para questionar o resultado das eleições de 2022. Objetivo principal era anular a eleição de Lula.>
A Polícia Federal afirma no relatório que nas mensagens trocadas com Zambelli, Marcos Do Val sustenta ter usado "a história de gravar Alexandre de Moraes" para chamar a atenção da imprensa e, com isso, conseguir aprovar a CPMI do 8 de janeiro.
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A troca de mensagens entre os dois parlamentares ocorreu em 26 de fevereiro de 2023, segundo a PF. No texto das conversas, o contato atribuído a Do Val chama atenção para a repercussão de suas declarações sobre o plano para gravar Alexandre de Moraes na imprensa.>
"Bom, acho que consegui chamar a atenção da imprensa, né? Agora vamos para a CPI", afirma o senador em uma das mensagens enviadas para a deputada bolsonarista. Em seguida, Do Val explica a Zambelli, ainda de acordo com o documento da PF, ter feito uso de técnica chamada de "Reação de Goche". O método é associado a técnica de manipulação e priming (relacionado ao modo como um estímulo inicial pode afetar as respostas de um indivíduo a estímulos subsequentes, sem existir consciência do mesmo sobre tal influência).>
A Polícia Federal pontua, no relatório, que após explicar seu método, o senador pede para que a deputada assista ao filme "Golpe Duplo", com o ator Will Smith, onde é demonstrada a utilização da técnica. >
No filme, o personagem Nicky, interpretado por Will Smith, utiliza uma técnica semelhante para "programar" mentalmente uma pessoa, fazendo-a escolher o número 55. Durante o dia, ele expõe a pessoa repetidamente ao número 55, através de vários estímulos visuais e auditivos — desde placas até diálogos, de forma que, ao final, a escolha parece ser do próprio alvo, mas, na verdade, foi manipulada.>
Por fim, a polícia destaca que em 1 de março de 2023, o senador envia para a deputada diversas capturas de tela de matérias jornalísticas relacionadas aos atos de 8 de janeiro de 2023, reiterando a estratégia que teria utilizado (Reação de Goche) para chamar atenção da imprensa.>
“A grande maioria de vocês não estavam entendendo nada do meu comportamento, mas foi feito tudo propositalmente”, teria escrito o senador na mensagem enviada Zambelli. >
Marcos Do Val foi procurado para comentar o relatório. Em conversa com a reportagem de A Gazeta, o senador disse que nunca atuou para interferir nas investigações da PF e que, à época, possuía prerrogativa para convocar autoridades e políticos para prestar esclarecimentos sobre os atos do 8 de janeiro, por meio da CPMI. >
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