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Publicado em 22 de julho de 2021 às 20:21
O juiz Carlos Alexandre Gutmann, que é investigado pelo Ministério Público Estadual em procedimento criminal que apura uma suposta venda de sentença no Espírito Santo, negou ter participação no esquema. Em nota divulgada nesta quinta-feira (22), Gutmann cita que possui uma "carreira profissional irrepreensível e honrada" e garante que não se comunicou com os outros investigados a respeito de "tratativas, negociações, favores indevidos ou infrações de deveres funcionais".>
Na nota, o juiz alega que sua carreira está sendo "subitamente maculada e colocada sob suspeita" e diz que nunca participou dos diálogos com o ex-policial civil Hilário Frasson. Nas conversas, foram encontradas ligações e troca de mensagens entre Hilário e terceiros, que revelam, ainda de acordo com o MPES, a participação do juiz Alexandre Farina Lopes em um processo julgado por Gutmann.>
Gutmann ainda afirma que tem recebido mensagens de apoio de pessoas de vários setores do Direito, como juízes, membros do Ministério Público e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no que ele classificou como "dias difíceis".>
Por fim, Gutmann se coloca à disposição para esclarecimentos das autoridades e se descreve como "o principal interessado na completa elucidação dos fatos, e da maneira mais ágil". Confira a nota na íntegra abaixo:>
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Tenho um histórico pessoal e profissional de reputação ilibada>
Diante das investigações em curso e dos fatos recentemente divulgados, venho a público esclarecer que tenho 18 anos de uma carreira profissional irrepreensível e honrada, que está sendo subitamente maculada e colocada sob suspeita em razão da aparição de meu nome em diálogos dos quais jamais participei.>
Garanto que não há e não surgirá uma única comunicação minha com os demais investigados que possa ser associada a tratativas, negociações, favores indevidos ou infrações de deveres funcionais.>
Nesses últimos difíceis dias, tenho recebido mensagens de apoio de pessoas das mais diversas áreas do Direito, entre juízes, membros do Ministério Público e da Ordem dos Advogados do Brasil. São profissionais que me conhecem e confiam no meu trabalho. A todos eles, e também a mim, escandaliza a menção a meu nome.>
O único elemento concreto que me diz respeito é a sentença a que se referem as conversas. Proferi decisão consciente, com embasamento legal e jurídico, confirmada posteriormente, à unanimidade, pelos Excelentíssimos Desembargadores da Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, a respeito dos quais certamente não paira qualquer suspeita (Processo 0020366-58.2016.8.08.0048).>
Sou o principal interessado na completa elucidação dos fatos, e da maneira mais ágil. Por isso, desde o início, coloquei-me prontamente à disposição para todos os esclarecimentos perante quaisquer autoridades em quaisquer instâncias. >
Tenho confiança de que a Justiça vai apurar todos os fatos, considerando todo o meu histórico pessoal e profissional de reputação ilibada. A Justiça, com competência e sensibilidade, vai chegar à verdade, distinguindo entre onde existem fatos e onde existem apenas aparências e conjecturas.>
Os juízes Alexandre Farina Lopes e Carlos Alexandre Gutmann, investigados pelo Ministério Público Estadual em procedimento criminal que apura uma suposta venda de sentença no Espírito Santo, podem ser presos e perder o cargo caso sejam condenados judicialmente. Até lá, contudo, o trâmite é longo.>
O caso precisa transitar em julgado, ou seja, quando não é mais possível apresentar recurso. Como os magistrados têm foro por prerrogativa de função, mais conhecido como foro privilegiado, eles são julgados inicialmente pelo Tribunal de Justiça (TJES) e a última Corte a que podem recorrer para reverter uma decisão é o Supremo Tribunal Federal (STF).>
Paralelamente e independentemente do processo criminal, os dois juízes também podem responder a um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD). Nesse caso, a punição é por meio de sanções administrativas, que são consideradas "mais brandas", vão de advertência a aposentadoria compulsória, com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço.>
Farina e Gutmann foram afastados cautelarmente das funções por decisão do TJES na última quinta-feira (15). A medida, chamada de cautelar processual penal, foi um pedido do Ministério Público para impedir que os magistrados atrapalhassem as investigações relacionadas a uma possível venda de sentença, proferida em 2017 por Gutmann, com ajuda e intermediação de Farina, segundo o MPES. >
Além dos juízes Alexandre Farina, que atuava como diretor do Fórum, e Carlos Alexandre Gutmann, que era da 1ª Vara Cível da Serra, a apuração do MP indica que três advogados, que trabalhavam para o empresário Eudes Cecato, beneficiado pela sentença supostamente vendida; um homem responsável por levar o dinheiro para a compra das decisões judiciais; um ex-funcionário da Associação de Magistrados do Espírito Santo (Amages), apontado como intermediário entre os juízes e o empresário; e o ex-policial civil Hilário Frasson, que também fazia a ponte entre o empresário e os juízes, tiveram participação no suposto crime.>
O caso ainda está em fase de investigação. Estava sob sigilo, que foi derrubado na sessão do TJES do último dia 15, quando houve o afastamento dos magistrados.>
No início de julho, o Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) cumpriu mandados de busca e apreensão na casa do empresário e um dos intermediários do suposto esquema, Davi Ferreira da Gama, que era funcionário da Amages. Para o MPES, há indícios que a operação, chamada Alma Viva, foi vazada e que os investigados se prepararam para a apreensão. >
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