> >
Barroso: 'Voto impresso é retrocesso, é como comprar um videocassete'

Barroso: "Voto impresso é retrocesso, é como comprar um videocassete"

Um dia após Bolsonaro defender, de novo, o voto impresso, como nos EUA, presidente do TSE rebateu a tese. Ele participou de evento em Vitória

Publicado em 6 de novembro de 2020 às 19:18

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Ministro do STF Luís Roberto Barroso em evento do Líderes do Amanhã, em Vitória
Ministro do STF Luís Roberto Barroso em evento do Líderes do Amanhã, em Vitória. (Carlos Alberto Silva)

Um dia após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defender a adoção do voto impresso no Brasil, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou que voltar ao papel seria um retrocesso. Ele esteve em Vitória nesta sexta-feira (06) para participar do 8º Fórum Liberdade e Democracia.

"Retornar ao voto impresso é um retrocesso, é como comprar um videocassete na era do streaming.  Meu único incômodo com as urnas é o custo delas. Temos cerca de 500 mil urnas e elas precisam ser renovadas. A cada dois anos, nós precisamos trocar 100 mil urnas. Isso custa em torno de R$ 700 milhões, em uma licitação que geralmente é tormentosa, complexa, cara e geralmente há judicialização. O sistema de licitação no Brasil impede o administrador honesto de ser eficiente e não impede o desonesto de ser desonesto", afirmou.

"De 1996 para cá nunca se documentou nenhum tipo de fraude associada às urnas eletrônicas. Não tenho paixão pela urna eletrônica, tenho apreço por eleições limpas", ressaltou, em palestra organizada pelo Instituto Líderes do Amanhã.

EUA

Nos Estados Unidos, em que na maioria dos Estados o voto é impresso e pode também ser feito pelo correio, a apuração do resultado demora. E há uma série de questionamentos quanto ao sistema eleitoral, que vão muito além de papel ou máquinas.

O atual presidente americano, Donald Trump, fala em fraudes, sem apresentar provas, e apenas em relação a votações nos Estados em que a apuração não o favorece, por exemplo. Ele também chegou a pedir, sem sucesso, para que os votos parem de ser contados.

Durante a palestra, Barroso evitou comparar os sistemas eleitorais brasileiro e americano. "Não tenho a pretensão de ter algo a ensinar. O que eu acho é que precisamos mudar para o sistema distrital misto com urgência. Mas o nosso sistema de apuração, que vigora desde os anos 90, tem servido muito bem ao país e nós superamos uma época de muitas fraudes. Elas existiam na época do voto manual, impresso", lembrou.

BOLSONARO NUNCA APRESENTOU PROVAS SOBRE FRAUDE

Em março, Bolsonaro disse que houve fraude eleitoral em 2018 e que ele foi eleito no primeiro turno. "Pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu fui eleito no primeiro turno mas, no meu entender, teve fraude", disse na ocasião.

Ele nunca apresentou as provas que disse ter em mãos. Bolsonaro foi eleito em segundo turno, numa disputa com  Fernando Haddad (PT).

COMO FUNCIONARÁ A VOTAÇÃO NA PANDEMIA

O ministro Luís Roberto Barroso detalhou como vai funcionar a votação nas eleições de 15 de novembro, que terão que observar os  protocolos de prevenção para a Covid-19.

DESINFORMAÇÃO

O presidente do TSE também falou, em Vitória, sobre o combate à desinformação nas eleições, o que chamou de "guerra". Para ele, a Justiça Eleitoral tem conseguido conter a onda de conteúdos falsos ou enganosos com a ajuda das plataformas de redes sociais e da imprensa. Foram feitas parcerias com WhatsApp, Twitter, Google, Instagram, Facebook e Tiktok.

"Em 2018, as plataformas tecnológicas e mídias sociais eram totalmente arredias a qualquer tipo de parceria que interferisse na circulação de notícias. Mas depois do que ocorreu nas eleições americanas, nas eleições da Índia, no Brexit, elas começaram a ter um problema grave de imagem, por passar a estar associadas à degradação da democracia. E elas mudaram de atitude e se tornaram mais colaborativas", avaliou o presidente do TSE.

Ele também pontuou a distinção entre liberdade de expressão e a permissão para propagar conteúdo falso.

"Nós nos preparamos para uma guerra e acho que estamos vencendo. O problema não é a opinião. Por mais absurda, é protegida constitucionalmente. Estamos preocupados com grupos hierarquizados, financiados, que têm mercenários que difundem notícias falsas para desacreditar as instituições, o processo eleitoral, ou destruir as reputações covardemente".

"Isso não é liberdade de expressão, são bandidos. A liberdade de expressão reconhece que a verdade não tem dono, mas a mentira deliberada tem dono e ele precisa ser punido. As notícias falsas nesta campanha, até agora, tiveram papel pequeno e quase todas requentadas", concluiu.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais