Publicado em 2 de julho de 2020 às 21:19
Com a alteração do calendário eleitoral das eleições municipais de 2020 devido a pandemia do novo coronavírus, partidos e candidatos vão precisar se adaptar a uma campanha sem corpo a corpo e ainda muito imprevisível. >
O tempo maior de pré-campanha pode ajudar a garantir mais visibilidade para candidatos novos, mas especialistas avaliam que durante os próximos 42 dias, as ações de candidatos que buscam a reeleição também podem ser decisivas para eleitores, que devem levar em consideração as pautas ligadas à pandemia. >
Partidos consideram que o momento de isolamento prejudica a todos que buscam ocupar os cargos eletivos, veteranos e novatos. Nos 78 municípios do Espírito Santo, só 17 prefeitos estão no segundo mandato e não podem disputar a reeleição.>
Para as lideranças partidárias do Estado, o adiamento das eleições foi uma decisão acertada, diante da pandemia do novo coronavírus. Contudo, a eleição, que já teria características diferentes, por ser sem a possibilidade de coligações nas chapas de vereadores, ganha um caráter ainda mais desconhecido com a Covid-19 e a dificuldade, literalmente, de se aproximar do eleitorado. A Gazeta entrou em contato com os partidos do Estado que possuem o maior número de filiados, e com os que têm o maior número de prefeitos e vereadores eleitos. >
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O presidente estadual do Republicanos, Roberto Carneiro (Republicanos), ainda faz projeções com cautela. "A verdade é que ninguém sabe muito bem o que vai pesar na hora do eleitor decidir. Pode ser que a população queira mudar quem está no poder, como pode ter medo de apostar em alguém novo com essa crise toda, queira votar em quem é mais experimentado. O eleitor está pensando em sua saúde e em seu emprego neste momento. Quem quiser largar na frente, vai ter que mostrar desde agora que está acompanhando esse processo", afirma Carneiro.>
Prevendo uma campanha sem muitos apertos de mão nas ruas e caminhadas nos bairros, o presidente do PP no Espírito Santo, Marcus Vicente, acredita que quem já é conhecido pelo eleitor tem uma ligeira vantagem. Ele destaca que na Grande Vitória, era comum a campanha começar meses antes, em visitas a bairros e lideranças comunitárias.>
"A dificuldade do isolamento vale para todo mundo. Vale para o político novo que não é tão conhecido ainda e vale para o político em exercício, que não consegue mostrar seu trabalho. Ainda assim, ao menos as pessoas já o conhecem, o seguem nas redes. Mas é uma vantagem pequena", aponta.>
Quando o adiamento do pleito ainda estava sendo discutido pelos parlamentares em Brasília, deputados federais sofriam pressão por parte de prefeitos contrários à medida. A leitura é de que aquele que está no poder sempre quer que a oposição tenha menos tempo para se fazer conhecer e lançar suas críticas à gestão. >
Em meio à pandemia isso se agrava, uma vez que poucas são as prefeituras que estão conseguindo corresponder às demandas da população e, portanto, tendem a estar em situação frágil para as críticas e consequências da escassez de recursos.>
O consultor em marketing político Darlan Campos aponta que com a tendência de agravamento da crise econômica, a imagem dos que buscam reeleição pode ficar comprometida diante dos eleitores, "que costumam descontar a frustração do momento em quem está no poder".>
Para gestores que gozam de mais recursos, no entanto, o prazo maior pode significar capital político. "Isso se o gestor tiver uma postura de conseguir atender aos anseios da população diante do eleitorado, atendendo a pautas e necessidades relativas à pandemia", ressalta o advogado especialista em direito eleitoral, Ludgero Liberato. Uma das mudanças, por exemplo, foi no prazo para participar de inauguração de obras. Candidatos terão até o dia 11 de agosto para estar presentes nessas entregas.>
É a nova data do 1º turno das eleições no Brasil; o 2º turno está marcado para 29/11
Darlan acrescenta que nunca antes os canais de comunicação das Câmaras e Prefeituras tiveram tanta audiência. "Sob a ótica da comunicação política, a pandemia traz uma atenção maior do público para o que os políticos estão fazendo. A população vai avaliar e buscar uma liderança. Prefeitos que foram vistos assumindo a liderança da situação aumentaram os índices de aprovação. Políticos que não assumiram esse papel, como é o caso de Jair Bolsonaro (sem partido), tiveram uma queda significativa", assinala.>
Já os candidatos menos conhecidos, podem se beneficiar do prazo para ter o nome familiarizado entre o eleitorado. Para estes, o agravamento da crise e o desgaste da imagem dos que buscam a reeleição pode ser um benefício, já que quem não está no cargo não é associado diretamente ao momento difícil enfrentado pelos eleitores.>
Presidente do PSB, Alberto Gavini admite que tomar algumas medidas restritivas por conta da pandemia pode prejudicar alguns prefeitos que querem disputar a reeleição. Ele critica, contudo, candidatos que não estão em mandato que usam do caos sanitário para tirar vantagem eleitoral.>
"Isso é uma insanidade. O candidato que usa esse clamor para tirar vantagem contra um prefeito é insano. Quem está fechando o comércio, está fazendo isso para salvar vidas. Empresas podem ser recuperadas, se uma pessoa morrer não há mais volta", argumenta.>
Embora políticos que já têm mandato tenham o benefício de uma imagem já conhecida, o uso massivo da internet nas últimas eleições, em 2018, sugere que talvez o modelo antigo de campanha, com comícios, santinhos e bandeiras nos semáforos, tenha um peso menor também este ano - por isso, a vantagem dos prefeitos que vão tentar a reeleição pode não ser tão grande. >
Para os especialistas, a internet terá o papel decisivo, assim como a presença nas redes sociais. Embora o mundo digital já tenha prestado um papel importante nos últimos pleitos, neste ele se torna protagonista, o que para Darlan pode ser uma má notícia para quem não se programou anteriormente. "Assim como existe um novo consumidor pós-pandemia, existe um novo eleitor que precisará ser compreendido pelos candidatos. Mas leva tempo para construir uma reputação nas redes sociais, e esses 42 dias não vão fazer diferença para quem não se planejou", afirma.>
Outra mudança aprovada pelo Congresso é a do prazo de descompatibilização de servidores e afastamento de apresentadores e comentaristas de rádio e TV. Servidores teriam de sair dos cargos no dia 4 de julho e agora poderão permanecer até 15 de agosto, enquanto apresentadores e comentaristas deveriam ter saído até o dia 30 de junho, mas agora podem ficar em seus postos até 11 de agosto.>
Secretários e diretores de autarquia, contudo, deixaram seus cargos em abril, quando faltavam seis meses para o pleito marcado para outubro. Para Darlan, quem teve o prazo estendido foi privilegiado e quem já saiu, de certa forma, prejudicado, porque acabaram ficando nove meses fora das cadeiras.>
Liberato, no entanto, acredita que o afastamento de pessoas que ocupam cargos de secretariado foi ainda mais importante diante da crise de saúde. "Para justificar o tratamento diferenciado, acredito que o legislador temia que quem ocupa cargos de secretariado e tem recursos na mão para oferecer, principalmente em meio à pandemia, poderia gerar um cenário muito mais desequilibrado", aponta. >
Nesse sentido, a visibilidade de quem tem espaço nas mídias, como TV e rádio, beneficia esses candidatos, já que para os políticos, quanto mais exposição, mais serão lembrados. Para os especialistas, esse tempo maior concedio a eles nos veículos de comunicação não chega a ser injusto, como seria caso se estendesse prazos de quem ocupa pastas com disponibilidade de recursos.>
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