Publicado em 13 de agosto de 2021 às 12:51
A Polícia Civil do Espírito Santo concluiu a investigação e indiciou o médico ginecologista Gedison Luis Gonçalves, suspeito de abusar de pacientes durante consultas em São Mateus, no Norte do Espírito Santo. Preso desde o dia 6 de agosto, em meio à investigação, o ginecologista vai ser autuado por violação mediante fraude. A pena é de 2 a 6 anos de prisão, mas, considerando que são múltiplas vítimas, pode ser aumentada.>
A polícia divulgou nesta sexta-feira (13) que, por enquanto, trabalha com pelo menos 15 vítimas, sendo cinco grávidas, mas considera que o número de mulheres abusadas pode ser maior. O médico nega os crimes.>
Segundo a titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de São Mateus, delegada Gabriela Zaché dos Santos, o primeiro relato de abuso é do ano de 2019. A polícia apurou até agora que a vítima mais nova tinha 21 anos na época dos fatos. De acordo com a delegada, as três primeiras denúncias levaram ao pedido de prisão preventiva do médico. Em seguida, surgiram mais denúncias semelhantes.>
"Há um mês a gente recebeu a primeira denúncia de uma paciente desse médico que, durante o exame ginecológico, teria abusado dela. A partir daí, nós começamos a investigar se teriam outras pacientes que tinham relatos de que isso já poderia ter acontecido. A gente conseguiu mais duas vítimas e, a partir desses três primeiro relatos, a gente pediu a prisão preventiva. Depois dessa prisão dele, que foi veiculada na imprensa, chegaram mais 12 vítimas com o mesmo relato", contou.>
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Gabriela Zaché dos Santos
Titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de São Mateus"Quando surgiram as três primeiras vítimas, ele disse que fez o atendimento normalmente. Depois, quando surgiram as outras 12, ele permaneceu calado nos depoimentos. Ele utilizava do fato de ser médico e, durante o exame ginecológico, praticava o crime. Muitas da vítimas chegavam a ficar em dúvida se estavam sendo abusadas ou se aquilo era um exame mesmo. Não houve penetração, mas em duas vítimas ele chegou a colocar a boca", relatou. Todos os casos investigados até o momento aconteceram no município de São Mateus. >
De acordo com o delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Arruda, o médico tinha uma forma de agir com as pacientes, colocando-as em uma situação de vulnerabilidade. Arruda contou que o suspeito falava para as vítimas que elas possuíam alguma lesão na região genital e que o orgasmo poderia ajudar a curar.>
"Ele falava 'você está com um carocinho aqui, mas se você fizer uma estimulação, se você conhecer o ponto g, pode ajudar. Vou te ensinar o ponto g'. Quer dizer, ele coloca a vítima em uma situação de vulnerabilidade", detalhou.>
Gabriela Zaché disse que a primeira vítima foi incentivada pelo namorado a fazer a denúncia. Segundo a delegada, após uma consulta, essa mulher relatou ao companheiro o que havia acontecido e ele a levou até a delegacia de polícia. Ela contou também que os abusos aconteciam apenas em consultas nas quais as mulheres iam sozinhas.>
"O pensamento delas era que, por estarem sozinhas, ninguém ia acreditar nelas por se tratar de um médico. O que encorajou essa primeira mulher a ir denunciar foi ela estar em um novo relacionamento. O namorado dela foi buscá-la após a sua consulta, viu que ela estava estanha. Ela conversou com ele e ele disse 'vamos para a delegacia agora'. Ela mesma, não queria ir, a partir do momento que ela recebeu esse apoio, se encorajou", argumentou.>
O superintendente de Polícia Regional Norte, delegado João Francisco Filho destacou a importância das denúncias das vítimas. "Queremos frisar a importância das vítimas denunciarem e procurarem a Polícia Civil. Não ficaremos inertes a essa situação. Os casos serão analisados e essas pessoas serão presas e punidas. Independente da circunstância, a vítima deve procurar a delegacia", completou.>
Delegado João Francisco Filho
Superintendente de Polícia Regional NorteUma das vítimas que procurou a delegacia também relatou o abuso à repórter Rosi Bredofw, da TV Gazeta Norte. >
Na ocasião da prisão, o advogado constituído pelo médico, Glauber dos Santos Silva, disse que a prisão "ocorreu de forma precipitada e sem qualquer fundamento legal que a justifique".>
" A [prisão] deu-se única e exclusivamente com base em apenas depoimentos pessoais, sem a existência de qualquer tipo de prova pericial que comprove ou justifique-a. O médico há 18 anos não possui qualquer ato na sua vida pregressa que macule a sua conduta, seja na esfera pessoal ou profissional, afirma ainda ser inverídico as acusações a si impostas, o que será esclarecido. Importante dizer que o caso em tela trata-se apenas de Inquérito Policial e não existe nenhuma acusação formal em desfavor do acusado, e por se tratar de caso em que foi decretado o sigilo judicial não há como trazer maiores informações para não prejudicar o andamento das investigações. Em havendo a formulação de uma denuncia por parte do Ministério Público a defesa adotara as medidas cabíveis para provar a inocência do acusado", informou, por meio de nota.>
Dias depois, 9 de agosto, o profissional deixou o caso. No dia seguinte, o advogado Homero Mafra informou que foi procurado pela família do médico para assumir a defesa, mas que não se posicionaria ainda sem ter conhecimento do caso e que ia se inteirar sobre o processo. Procurada pela reportagem nesta sexta-feira (13), a defesa informou que não tinha o que declarar.>
O Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) informou que vai abrir sindicância para apurar os fatos. "No momento, o Conselho está levantado informações sobre as denúncias veiculadas na imprensa, já que, até o momento, não recebeu denúncia formal contra o médico denunciado por assédio", diz a nota enviada pelo órgão.>
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