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Morte de travesti em Cariacica completa um ano e família cobra respostas

Morte de travesti em Cariacica completa um ano e família cobra respostas

Família também reclama da demora nas investigações. Lara Croft, de 34 anos, foi morta no dia 13 de julho de 2022 por um policial militar no bairro Alto Lage, em Cariacica

Publicado em 1 de agosto de 2023 às 15:50

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Silvana da Costa, mãe da Lara Croft
Silvana da Costa, mãe da travesti Lara Croft, cobra resposta pela morte da filha em Cariacica. (Ronaldo Rodrigues)

No dia 13 de julho completou um ano da morte da travesti Lara Croft, de 34 anos. Ela foi morta com cinco tiros por um policial militar no bairro Alto Lage, em Cariacica. A família pede por justiça e reclamam da demora na investigação.

Na época, a Polícia Militar afirmou que ela tentou golpear, com um barbeador, o PM e o policial que fazia dupla com ele, no momento de uma abordagem. Segundo os fatos narrados no boletim de ocorrência, a travesti não teria respeitado a ordem para soltar o objeto.

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Lara era o amor da minha vida. Foi arrancado um pedaço de mim. Só quem é mãe, que sentiu a dor pelos filhos, sabe o que estou sentindo

Silvana da Costa
Mãe de Lara
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Lara era cabeleireira e tinha o sonho de morar na Europa.

“Acredito que ela estava se preparando para voltar para Europa, para realizar os sonhos dela. Ela era uma pessoa muito sonhadora, tinha sonhos em crescer na vida e me ajudar, como sempre me ajudou”, disse a mãe.

A repórter Any Cometti, da TV Gazeta, esteve no bairro onde a travesti morou e conversou com vizinhos. A vítima havia conquistado a simpatia de quem a conhecia. Em conversa com a reportagem à TV Gazeta, eles afirmam que ela era uma pessoa boa, trabalhadora, alegre e divertida.

Lara Croft
Lara Croft foi assassinada a tiros em Cariacica por um policial. (Acervo Pessoal)

Um ano depois do crime, a família continua aguardando o resultado das investigações. Na época, a PM afirmou que ela morreu em confronto. Ela teria puxado um barbeador e golpeou um militar e foi assassinado com cinco tiros.

Moradores afirmam que ela foi abordada por policiais na calçada que foi baleada. A PM diz que ela estava em um ponto de tráfico. A família e os moradores contestam.

Hoje, a mãe conta com apoio da Defensoria Pública e da Associação de Mães e Familiares Vítimas de Violência e Impunidade no Espírito Santo (AMAFAVV-ES).

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Agora estou sem lágrima para chorar, estou chorando por dentro. Deus sabe como está meu coração. Só Deus e todas as mães que estão vivendo o que estou vivendo. Que tiveram a vida dos seus filhos arrancadas, de uma maneira covarde como eu tive, sabem o que estou sentindo dentro do meu coração

Silvana da Costa
Mãe da Lara
Aspas de citação
Mãe de Lara conta com apoio de associação
Familiares de Lara Croft esperam há um ano por avanços na investigação e pedem por justiça. (Ronaldo Rodrigues)

Em resposta à reportagem da TV Gazeta, a Polícia Civil informou que essa investigação está sendo finalizada pelo departamento que investiga ocorrências envolvendo agentes de segurança. Disse ainda que, no momento, nenhuma outra informação pode ser divulgada e que o prazo da investigação corre dentro da legalidade com acompanhamento do Ministério Público Estadual.

Já a Polícia Militar disse que instaurou um inquérito policial para apurar que um cabo do 7° Batalhão atirou durante a ação policial. Que na data, após diligências, havia indícios de crime militar. Para a PM, os fatos indicam excludente de ilicitude, ou seja, não houve ação ilegal para este caso.

O processo está na Justiça Militar do Espírito Santo e não foi instaurado um processo disciplinar porque não foram identificados indícios da prática de transgressão disciplinar.

Relembre o caso

A versão dada pelos policiais na época do caso aponta que os agentes visualizaram a travesti e outro indivíduo em atitude suspeita no bairro e deram voz de abordagem. Os suspeitos não teriam respeitado a ordem e tentaram fugir. O relato policial informa que a travesti foi alcançada e, ao ser abordada, tentou agredir os militares que participavam da ocorrência.

Durante a abordagem, a suspeita teria retirado um objeto perfurocortante da bolsa, um barbeador, e tentado golpear os militares. Ela ainda teria tentado pegar a arma de um dos militares.

Neste momento, de acordo com o boletim de ocorrência, um policial efetuou cinco disparos contra a suspeita, que foi atingida e caiu no chão. Ela foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não resistiu e morreu. Já o outro suspeito conseguiu fugir e não foi localizado.

A Polícia Militar afirma que a travesti foi morta em um confronto, ao puxar o barbeador para golpear os agentes, por isso o militar atirou cinco vezes.

Moradores conversaram com a reportagem da TV Gazeta na época e contestaram a versão da PM. Para eles, a travesti não atacou os policiais e foi executada durante a abordagem. Segundo um dos moradores, que preferiu não se identificar, Lara tinha o costume de fazer piadas com os policiais quando eles abordavam alguém no bairro e que os PMs não gostavam e já teriam a ameaçado.

"O policial chegou para abordar. Mas não era uma abordagem comum. A Lara falou algo que ele não gostou. Ele partiu para cima dela, deu vários socos na cabeça e vários tiros nela e ela não teve como reagir. Ele matou ela sentada. Ela não tinha ideia certa. Fazia tratamento psiquiátrico, tomava aquele monte de remédio. Ela foi executada porque ela não estava com nada. Eles estão abusando. Ontem foi a Lara e hoje pode ser meu filho. Eu acho que rolou um preconceito também", afirmou o morador, que preferiu não se identificar.

"O policial chegou para abordar. Mas não era uma abordagem comum. A Lara falou algo que ele não gostou. Ele partiu para cima dela, deu vários socos na cabeça e vários tiros nela e ela não teve como reagir. Ele matou ela sentada. Ela não tinha ideia certa. Fazia tratamento psiquiátrico, tomava aquele monte de remédio. Ela foi executada porque ela não estava com nada. Eles estão abusando. Ontem foi a Lara e hoje pode ser meu filho. Eu acho que rolou um preconceito também", afirmou o morador, que preferiu não se identificar.

Com informações de Any Cometti, da TV Gazeta.

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