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Publicado em 6 de julho de 2022 às 20:07
- Atualizado há 3 anos
O pequeno Jorge Teixeira da Silva, de dois anos, foi espancado, torturado e estuprado, segundo aponta laudo feito por médicos legistas que examinaram o corpo do menino no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória. Os pais da criança foram presos nesta terça-feira (5) suspeitos de praticarem os crimes. >
"Os achados no exame físico, as lesões por queimadura, indicam que houve tortura; as lesões encontradas no abdômen, tanto internas quanto externamente, indicam que houve espancamento. A lesão no reto indica que houve introdução de um objeto no ânus da criança", afirmou o médico legista Josias Rodrigues Westphal, em entrevista coletiva nesta quarta-feira (6). >
O menino foi levado pela mãe, Jeorgia Karolina Teixeira da Silva, de 31 anos, para o Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernadino Alves (Himaba), em Vila Velha, na madrugada de segunda-feira (4). A princípio, a mulher chegou dizendo que ele estava com sintomas de pneumonia. Quando os médicos viram o estado da criança, suspeitaram que ele havia passado por torturas e abusos.>
Segundo a Polícia Civil, Jorge chegou ao hospital com a barriga inchada, cheia de líquido. O garoto passou por uma cirurgia de emergência, mas não resistiu: ele estava com uma infecção causada por perfuração intestinal. >
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"Logo que tomamos conhecimento do falecimento da criança, nós nos dirigimos até o Himaba para fazer a primeira coleta de informações. Em conversa com os colaboradores, eles já demonstraram uma grande estranheza com aquela ocorrência", disse o delegado Alan Moreno de Andrade, adjunto da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha. >
O corpo do menino foi levado ao DML e logo nos primeiros exames já foi possível identificar as violências. "Já nos exames físicos externos, a gente encontrou muitas lesões bem sugestivas de maus tratos. Lesões por queimadura, algumas equimoses (hematomas) devido a traumas por pancada. No decorrer do exame, abrindo as cavidades e olhando dentro do abdômen, a gente encontrou outras lesões que corroboravam essa hipótese, além do ânus da criança completamente dilacerado", detalhou o médico Josias. Segundo a polícia, tudo indica que as queimaduras teriam sido provocadas por cigarro. >
De acordo com o legista, não dá para saber como a criança apanhou. "Só dá para falar que ele foi agredido. Já a laceração foi no ânus, no reto e no canal anal. A laceração foi devido à introdução de um objeto dentro do ânus. Pode ter sido o pênis do agressor, um objeto qualquer ou pode ter sido as duas coisas", explicou. >
Após constatar as agressões, a polícia coletou material do menino e encaminhou para análise. Os resultados devem sair em até 15 dias. "Caso dê positivo em um desses exames, confirmará a presença de sêmen no canal anal, que confirma a introdução do pênis", disse Josias. >
Se a presença de sêmen for confirmada, o material vai passar por exame de DNA, para identificar quem teria violentado a criança.>
"A causa mortis foi devido o choque séptico por uma infecção no abdômen. A gente chama de peritonite. O que teria causado a infecção foi a presença de fezes na cavidade abdominal", ressaltou o médico. Ou seja: o intestino da criança foi perfurado pelo objeto introduzido, e as fezes vazaram para a região do abdômen. >
O médico explicou que, analisando as marcas de agressões, é possível dizer que elas tenham acontecido no prazo de 24 a 36 horas antes da morte do menino, o que bate com as investigações iniciais da polícia, que dizem apontam que as torturas teriam acontecido entre a noite de domingo (3) e a madrugada de segunda-feira (4). >
Outro fato que chamou a atenção da polícia foi a frieza demonstrada pelos pais após receberem a notícia da morte de Jorge. "Geralmente, quando falamos de um falecimento de uma criança, os pais estão em prantos, acabados emocionalmente. Segundo nos relataram, não foi essa a questão", disse o delegado. >
Delegado Alan Andrade
Adjunto da DHPP de Vila VelhaMaycon e Jeorgia Karolina foram autuados pelos crimes de estupro de vulnerável com resultado em morte e tortura. Os dois já deram entrada no sistema prisional e, na tarde desta quarta-feira, a Justiça decidiu pela transformação do flagrante em prisão preventiva. >
Jeorgia Karolina e o marido, Maycon Milagre da Cruz, de 35 anos, negaram todas as acusações. Em depoimento, eles disseram que não sabiam como as lesões do filho haviam acontecido. >
"Eles negam veementemente que tenham praticado as lesões. Afirmam que no domingo à noite a criança dormiu com um pequeno machucado na virilha, e no outro dia acordou da forma que acordou. As investigações vão continuar. Não podemos descartar participação de outras pessoas. Quem vai dizer para nós o que aconteceu naquele quarto, de domingo para segunda-feira, são os dois pais presos. Só que eles não falam. Porque só eles estavam na residência", ressaltou o delegado. >
Um dia após a prisão dos pais de Jorge Teixeira da Silva, principais suspeitos do crime, a defesa de Jeorgia Teixeira da Silva se pronunciou sobre o caso, afirmando que ela "não tem nenhum envolvimento com a morte do filho". >
Em nota enviada nesta quinta-feira (7), a defesa considerou que houve "erro na conclusão das investigações, que foram conduzidas de forma açodada e irresponsável".>
Em contato com a reportagem de A Gazeta, os advogados Carlos Bermudes e Lucas Kaiser informaram que estão defendendo apenas a mãe da criança, sem envolvimento com a defesa de Maycon Milagre da Cruz.>
Segundo a nota, a mãe está interessada em saber o que aconteceu com a criança. "A Jeorgia não pode ser julgada e muito menos condenada, antes que todo o processo seja concluído. Os equívocos encontrados serão esclarecidos e temos plena convicção de que iremos provar a inocência dela quanto a morte da criança.">
A reportagem de A Gazeta não localizou o responsável pela defesa de Maycon, mas reforça que este espaço está aberto, caso a parte queira se manifestar sobre o assunto.>
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