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Publicado em 30 de agosto de 2021 às 18:05
Seis anos após ser solto, Antúlio Gomes Pinto — que ficou conhecido como “maníaco da Ilha do Boi” — foi preso nesta segunda-feira (30) em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo. Segundo a Polícia Civil, ele foi autuado por manter em cárcere privado uma idosa que o ajudava com atividades domésticas. O homem possui um histórico de crimes envolvendo tortura e cárcere privado de mulheres, além de tentativas de assassinato de delegado e juiz, de acordo com condenações na Justiça e relatos do delegado Danilo Bahiense.>
Antúlio e a mulher de 65 anos viviam em um apartamento na cidade. A polícia recebeu denúncias de que a vítima era mantida em cárcere privado e em péssimas condições de moradia. Em entrevista à TV Gazeta Noroeste, a titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança, ao Adolescente e ao Idoso (DPCAI) de Colatina, Jaciely Favoretti, informou que a idosa não recebia nenhum pagamento e não tinha acesso a celular para se comunicar com os familiares. >
Os dois viviam no sexto andar do prédio, no Centro de Colatina. O apartamento era dos pais dele, já falecidos. No depoimento, ele negou todas as acusações. Antúlio é dono de uma distribuidora de alimentos na cidade. De acordo com a polícia, em 2019, ele foi indiciado por constrangimento ilegal porque tentou impedir uma mulher de voltar para casa. Mas na época, foi liberado. >
Segundo a delegada, quando a polícia chegou à residência encontrou o local em péssimas condições de higiene e de conservação. “Tinha muito lixo, entulhos, fezes de animais e não haviam alimentos adequados”, relatou Jaciely. >
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A titular da DPCAI explicou que Antúlio Gomes Pinto foi autuado por cárcere privado, violência psicológica e maus-tratos e encaminhado para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Colatina, transportado em uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) por ser cadeirante. >
Por telefone, o advogado Felipe Prata Pravato Rangel, que defende Antúlio Gomes Pinto, afirmou para a reportagem que está a caminho de Colatina para tomar conhecimento sobre as denúncias. Ele destacou ainda que a defesa nega as acusações de cárcere privado. >
Antúlio Gomes Pinto ficou conhecido como "maníaco da Ilha do Boi" após torturar — com ferro quente, socos e pancadas — e manter em cárcere privado a esposa e três filhos em um apartamento no bairro de Vitória. No mesmo período, ele fez o mesmo com mais cinco mulheres, sendo que apenas duas conseguiram fugir. Os corpos de outras três nunca foram encontrados. >
Os crimes dele vieram à tona em 2005, quando a esposa dele conseguiu fugir do apartamento onde era mantida em cárcere privado. A jovem, que na época estava com 29 anos, conseguiu escapar por uma janela de um apartamento da Ilha do Boi, onde o casal morava com os três filhos. A vítima revelou à polícia a macabra história vivida por ela na última década e por outras cinco jovens — sendo que duas conseguiram e uma delas foi morar no Japão.>
Após as investigações, Antúlio foi acusado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e condenado a mais de 101 anos de prisão pelos crimes de tortura, cárcere privado, maus-tratos, estelionato, lesão corporal e rufianismo — que é viver de aliciamento de mulheres.>
Em janeiro de 2010, ele conseguiu um habeas corpus que o permitiu ir para a prisão domiciliar na casa de parentes, em Colatina. O argumento foi o de que um acidente vascular cerebral (AVC) o havia deixado em uma cadeira de rodas, com parte do corpo paralisado.>
Mesmo nessa condição, Antúlio fugiu para Minas Gerais, onde acabou preso em flagrante, em 2013, acusado de manter outra mulher, de 30 anos, com quem teve um filho, à época com 1 ano e meio, em cárcere privado. No local, também foram encontradas três adolescentes trabalhando para ele em condições inadequadas.>
Pelos crimes cometidos em Minas Gerais, ele também foi condenado e a pena total, somada à capixaba, totalizou quase 106 anos. No início de 2015, a Justiça lhe concedeu indulto humanitário, com o argumento de que sua saúde estaria precária. Segundo o advogado de Antúlio na ocasião, Lécio Silva Machado, “ele não mexia o corpo do pescoço para baixo”. >
Por duas vezes, Antúlio Gomes Pinto tentou matar o delegado Danilo Bahiense, que investigou os crimes por ele cometidos, e o juiz que o condenou. A informação foi revelada pelo próprio Bahiense, ainda em 2015. Atualmente, o delegado ocupa o cargo de deputado estadual. >
Segundo relatos da época, as tentativas para matar Danilo Bahiense e o juiz Paulino José Lourenço ocorreram em 2006, logo após o então comerciante de pedras preciosas ser sentenciado pela Justiça, e em 2008. “A última vez, ele já estava na prisão e em uma cadeira de rodas”, contou o delegado.>
As informações sobre a primeira tentativa de assassiná-lo, de acordo com Bahiense, foram descobertas pela área de inteligência da polícia. Antúlio teria contratado, por R$ 300 mil, dois pistoleiros paulistas para fazer o serviço.>
Os dois contratados chegaram a vir ao Estado e se hospedaram na casa de um traficante em Jacaraípe, na Serra. “Desistiram por não terem recebido e porque matar um delegado e um juiz chamaria a atenção”, contou.>
Na ocasião, Bahiense acrescentou que a ex-modelo, mãe dos três filhos de Antúlio, já estava no Programa de Proteção a Testemunhas (Provita). “Ele não a encontrou”.>
A segunda tentativa de assassinato ocorreu em 2008, quando Antúlio estava preso e já havia sofrido o AVC que o deixou na cadeira de rodas. Segundo o delegado, nesta ocasião ele contratou um preso que era ex-policial civil e ex-policial militar de outro Estado e estava para deixar a prisão no Espírito Santo.>
“Um outro preso nos informou. Colhi depoimentos de todos”, disse Bahiense, informando que toda a documentação foi enviada para o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES). “Havia risco de morte de um juiz e eles precisavam tomar providências”.>
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