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Publicado em 29 de novembro de 2022 às 17:19
Nos últimos meses, muito tem se falado sobre a Favelinha do Ibes, em Vila Velha, devido a sequentes e frequentes episódios de violência, com ataques a tiros, mortos e feridos, promovidos pela disputa do tráfico de drogas. Em uma das investidas de criminosos foram registrados mais de 40 tiros. De setembro até agora, pelo menos oito ataques ocorreram na área: cinco pessoas morreram e cinco ficaram feridas. Mas, afinal, o que está motivando os conflitos na região?>
Segundo as investigações da Polícia Civil e do setor de inteligência da Polícia Militar, traficantes de grupos rivais ao da Favelinha do Ibes podem ter "crescido os olhos" na região após a fuga e e posterior prisão de Luan Resende Buarque, o Luanzinho, que comandava a venda de drogas nos bairros Ibes, em em partes de Itapuã e Boa Vista.>
Ele foi capturado em uma operação no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, em uma grande operação policial que terminou com mais de 20 suspeitos presos, cinco pessoas mortas e fuzis, pistola, granada e mais de meia tonelada de maconha apreendidos.>
Em entrevista à reportagem, o delegado Tarik Souki explicou que, ao se esconder no Rio de Janeiro, o comando de Luan nos bairros de Vila Velha estremeceu. Afinal, de longe, a comunicação fica mais difícil: foi aí que os primeiros ataques começaram. Tudo piorou com a prisão dele, momento em que os rivais viram uma chance de tomar o território na Favelinha do Ibes.>
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"Luan é investigado pela nossa delegacia por vários homicídios, inclusive foi preso por um no final de 2021, mas foi colocado em liberdade no início de 2022. Continuamos trabalhando e conseguimos outro mandado de prisão dele com relação ao narcotráfico exercido na Favelinha do Ibes. Foram expedidos mandados contra ele e mais oito pessoas do grupo dele. Sabendo disso, ele voltou a se esconder no Rio de Janeiro e foi preso no Complexo da Maré nessa operação", explicou o delegado, que é titular da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha. >
Apenas três dias após a prisão de Luan, em 29 de setembro, dois jovens de 18 e 23 anos morreram e uma mulher de 26 anos ficou ferida após um ataque a tiros na Favelinha. As três vítimas eram amigas e estavam conversando na rua quando foram baleadas. Segundo testemunhas, dois bandidos chegaram atirando, assustando a todos. Jordan Machado Louzada, de 23 anos, morreu na hora com 19 perfurações pelo corpo. Guilherme de Souza Soares, de 18 anos, morreu no hospital. Ele teve 14 perfurações. A mulher de 26 anos foi atingida nas pernas. >
Para o Comandante da Companhia de Força Tática do 4º Batalhão da Polícia Militar, capitão Couto, ainda não está claro quais são os grupos que querem tomar o poder, se facções de Santa Mônica ou Boa Vista, embora haja uma certeza: toda a tensão que envolve ataques na região busca a hegemonia do tráfico na Favelinha do Ibes.>
Capitão Couto
Comandante da Companhia de Força Tática do 4º Batalhão da Polícia MilitarNo dia 18 de outubro, um homem de 20 anos foi executado a tiros pela manhã no meio da rua na Favelinha do Ibes. Dois dias depois, mais uma morte foi registrada na localidade. >
Em 26 de outubro, mais um caso que aterrorizou os moradores: bandidos chegaram de carro e atiraram mais de 40 vezes na direção de uma mulher. Ela foi atingida por três disparos. Pelo menos quatro criminosos participaram do ataque. De acordo com a polícia, a mulher baleada era o alvo dos suspeitos. A corporação disse que ela fazia uso de entorpecentes quando foi atingida. >
Após os tiros, os bandidos abandonaram o carro usado no ataque no bairro Boa Vista II. Em seguida, ainda roubaram o veículo de um mecânico que estava no local. "Eles chegaram em um Renault Clio, pararam do outro lado da rua, um deles saiu e veio apontando a arma para mim. A mão e a arma tremendo, ele estava nervoso com o olho arregalado", disse a vítima à época.>
Outro episódio que chamou a atenção na região aconteceu em 11 de novembro, quando um homem de 23 anos foi baleado e protagonizou uma situação no mínimo surpreendente: ele foi dado como morto pela equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu/ 192) mas, após a chegada da perícia da Polícia Civil, foi descoberto que ele ainda estava vivo.>
Em 12 de novembro ocorreu um dos casos que mais teve repercussão na Favelinha do Ibes: criminosos armados gravaram um vídeo disparando contra casas. Na gravação, é possível ver pelo menos quatro suspeitos (confira abaixo).>
Na madrugada desta terça-feira (29), criminosos invadiram uma casa e mataram uma mulher a tiros na Favelinha do Ibes. Durante o ataque, dois homens também foram baleados. Segundo a Polícia Militar, testemunhas contaram que três suspeitos chegaram armados e realizaram vários disparos. Um dos feridos, que levou um tiro de raspão na cabeça, fugiu do local. O outro homem e a mulher foram socorridos pelo Samu, mas ela não resistiu aos ferimentos de bala e acabou morrendo. O nome da vítima assassinada não foi divulgado. >
Tem um motivo para a Favelinha do Ibes ser tão visada pelas organizações criminosas: a região é altamente lucrativa para o tráfico de drogas. "Eles traficam na Favelinha e, por incrível que pareça, na pracinha do Ibes. Lugar com quadra, relativamente bem iluminado, e são ousados a ponto de traficarem ali. A praça é muito movimentada, e a Favelinha também", pontuou o delegado Tarik.>
Os conflitos envolvendo a guerra do tráfico não acontecem apenas dentro da Favelinha do Ibes. No início do mês, por exemplo, os rivais da Favelinha e de Boa Vista foram trocar tiros em Cocal, também Vila Velha, e terminaram no bairro Residencial Coqueiral.>
Os suspeitos estavam em dois carros quando trocaram tiros. Nos veículos, posteriormente abandonados, havia marcas de mais de 30 disparos de arma de fogo.>
Na verdade, a região conhecida como Favelinha do Ibes fica no limite entre os bairros Ibes e Jardim Guadalajara. "Quando você pega a rua para entrar na Favelinha do Ibes, é de fato o bairro Ibes. Mas em alguns pontos, se você jogar na geolocalização, também sinaliza como bairro Jardim Guadalajara", detalhou o capitão Couto, comandante da Companhia de Força Tática do 4º Batalhão da PM.>
Para tentar frear esses conflitos, a PM atua com as equipes fazendo ronda no local e também com a Força Tática. Em 30 dias (meados de outubro a novembro), sete armas foram apreendidas e cinco suspeitos foram presos na Favelinha do Ibes. "A gente não para de fazer saturação e abordagem, juntamente com a questão da inteligência", afirmou o capitão Couto.>
Um dos seguranças do tráfico da região foi preso no dia 13 de novembro, portando arma e munição. De acordo com a polícia, o suspeito de 35 anos tem passagens por tráfico, porte de armas e também responde por homicídio.>
"Estamos trabalhando para identificar esses narcotraficantes que estão efetuando os ataques, identificar quem são as lideranças locais que estão à frente agora, substituindo o Luan e também os rivais, além de apurar os homicídios e tentativas que têm ocorrido. Nosso foco é esse", finalizou o delegado Tarik.>
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