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7 anos após desastre de Mariana, moradores do ES ainda lidam com marcas da lama

7 anos após desastre de Mariana, moradores do ES ainda lidam com marcas da lama

Catástrofe permanece impactando diretamente a vida de quem mora no vilarejo, no litoral de Linhares. As dificuldades ainda são sentidas no dia a dia

Publicado em 5 de novembro de 2022 às 17:40

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Barco abandonado no cais de Regência
Antes usados na pesca, barcos foram abandonados após a lama chegar pelo Rio Doce, em Regência. (Heber Thomaz)

Barcos abandonados em uma vila de pescadores. Ainda é possível ver essa cena em Regência, no litoral de Linhares, no Norte do Espírito Santo, como uma marca da chegada da lama, sete anos depois do rompimento da barragem de Fundão, na cidade mineira de Mariana. A tragédia, que aconteceu no dia 5 de novembro de 2015, ainda é sentida pelos moradores do pacato vilarejo onde o Rio Doce encontra o mar do Oceano Atlântico.

A tragédia matou 19 pessoas e causou danos ambientais em Minas Gerais e no Espírito Santo. O Rio Doce, que no Espírito Santo corre pelos municípios de Baixo Guandu, Colatina, Marilândia e Linhares, recebeu cerca de 40 milhões de m³ de rejeitos de minério. O material levou cerca de 15 dias para chegar à Regência no dia 20 de novembro.

O lamento

Lourdes Pereira, dona de pousada, foi ver a lama chegar
Lourdes Pereira, dona de pousada, foi ver a lama chegar. (Heber Thomaz)

Lourdes Pereira, dona de uma pousada na vila, disse que foi ver a lama chegar. “Eu estava lá, chegou por volta das 15h. Foi muito triste, eu chorei. Tentaram evitar, mas a lama entrou e entrou feio para o mar”, relatou.

Ela conta que também tinha um restaurante e uma lanchonete, mas foi preciso se desfazer dos negócios. “Eu tenho essa pousada há 22 anos, mas está difícil hospedar pessoas aqui. Turista mesmo, só na época de festa. Eu espero que as coisas possam melhorar para nós, para mim e todos da comunidade”, falou Lourdes.

Já a artesã Eliá Moraes, que fazia redes de pesca e tinha uma loja de artesanato, pensa em um futuro mais pessimista, sem acreditar em mudanças. Ela contou como era a vida antes e a realidade de agora.

A artesã relata como a vida dela foi impactada pela tragédia
A artesã Eliá Moraes relata como a vida dela foi impactada pela tragédia. (Heber Thomaz)

“Eu tinha a minha rede, que eu dava para os pescadores pescar, eu tinha a minha loja de artesanato, que fechei. Hoje só faço para o Projeto Tamar e produzo menos do que antes. A situação não está fácil. Para falar a verdade, eu não tenho expectativa de que mude. Para mudar a situação, eles teriam que oferecer educação, alguma coisa que ocupe a mente dos jovens que estão nas drogas. Aqui é um lugar que as pessoas só sabem pescar. Como mudar um vilarejo desse?”, lamentou a moradora.

Situação da água

Ao longo desses sete anos, estudos foram feitos para identificar e dimensionar os impactos sofridos no lado capixaba. O maior deles reúne diversas instituições, incluindo universidades federais do país, e busca descobrir quais foram os danos causados à biodiversidade aquática.

“Nós não conseguimos ainda afirmar que vamos encontrar o rio e o mar como estavam antes da lama. Podemos dizer que o manguezal já está funcionando como um elemento filtrante e colaborando para que haja menor contaminação nas áreas atingidas hoje. Ainda não é possível afirmar o nível de toxicidade do ferro e manganês encontrados na água, porque há ainda uma carência de estudos nesse aspecto”, disse a oceanógrafa Monica Tognela.

Paralelo aos estudos, a Fundação Renova, entidade criada para compensar os danos do rompimento da barragem, também realiza pesquisas. Segundo os últimos relatórios, as condições do rio melhoraram.

“Nós fazemos um monitoramento sistemático da água. A gente monitora 82 pontos ao longo de todo o rio e a região costeira, com mais 100 parâmetros, e coletas feitas todos os meses. O que observamos é uma melhora consistente na qualidade da água e o retorno gradativo das condições que tinha antes do rompimento. Já podemos dizer que a água está em condições semelhantes”, disse Juliana Bedoya, gerente Socioambiental da Fundação Renova.

Bedoya conta que está sendo finalizado um processo de assistência técnica, que vai fornecer cursos de capacitação na área da pesca ou alternativas, como amparo aos pescadores.

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