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'Agora só falta contarem o que fizeram com o corpo do meu pai'

"Agora só falta contarem o que fizeram com o corpo do meu pai"

Desabafo é de Fabrício Freitas, filho do advogado Carlos Batista, cujo assassino foi preso no último dia 7, no estado do Acre. O crime aconteceu há 27 anos, tempo em que o executor João Henrique  Filho estava foragido

Publicado em 17 de outubro de 2019 às 22:01

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"Agora só falta contarem o que fizeram com o corpo do meu pai". O desabafo é de Fabrício Freitas, filho de Carlos Batista, ambos advogados. Muito emocionado, ele relata que foram foram décadas de espera por Justiça e pela prisão dos condenados por assassinarem o seu pai.

Freitas relata que foi surpreendido na tarde desta quinta-feira (17) com matéria de A Gazeta relatando que o motorista João Henrique Filho, o Joãozinho, foi preso no estado do Acre, no último dia 7. Foragido desde o ano 2000, ele foi condenado pelos assassinatos do advogado Carlos Batista de Freitas e de mais duas pessoas.

Fabrício Freitas, advogado, filho do advogado Carlos Batista de Freitas. (Divulgação / Arquivo Pessoal)

A prisão ocorreu após cumprimento do mandado de prisão, fato já comunicado aos Juizados da 1ª Vara Criminal de Vitória e o da 3ª Vara Criminal da Serra. Foi informado ainda que Joãozinho foi encaminhado para a Unidade Prisional Francisco de Oliveira Conde, em Rio Branco.

O filho, que ainda mora no apartamento que pertenceu a Carlos Batista, já adiantou que vai solicitar à Justiça que o executor seja trazido para o Espírito Santo. "Ele precisa retornar, cumprir pena aqui. E tem que confessar onde sepultou o meu pai. É a única coisa que falta para fechar este ciclo", desabafou.

EMOÇÃO COM NOTÍCIA

Fabrício Freitas recebeu a informação da prisão do assassino de seu pai por intermédio de um amigo. "Um policial militar que sempre me ajudou. Corri muito atrás desta prisão, para que fosse cumprida a decisão da Justiça", explicou.

Ele conta ainda que, ao longo dos anos, a sua luta por Justiça foi mal interpretada por muitas pessoas. "Chegaram a avaliar que eu estava com problemas psicológicos. Mas isso nunca foi verdade. Minha luta sempre foi pela realização do julgamento, condenação dos executores e mandantes, e pela prisão deles. Agora sinto que a Justiça está acontecendo", disse.

Carlos Batista de Freitas, advogado, morto em 24 de janeiro de 1992. Seu corpo nunca foi encontrado. (Ailton Lopes - 23-01-1985 )

O filho estava com dez anos quando Carlos Batista desapareceu. Brincava em uma praça com amigos quando uma vizinha o chamou e mostrou um jornal com a notícia de que ele tinha sido morto. Naquele dia, Fabrício correu para casa e se trancou no quarto. "Jurei que faria Direito para lutar pela condenação daqueles que tiraram o meu pai", relata.

Dos tempos de infância, ele se lembra de um pai amoroso e sempre presente na vida do único filho. "Uma semana antes dele morrer, me presenteou com dois sacos de bola de gude. A minha história poderia ter sido outra se ele ainda fosse vivo. Provavelmente, estaríamos trabalhando juntos, advogando juntos. Ele não pôde me ver crescer e nem conhecer o neto", conta Fabrício, muito emocionado, acrescentando que agora espera seguir com a sua vida.

SEQUÊNCIA DE CRIMES

O assassinato do advogado Carlos Batista de Freitas - cujo corpo nunca foi encontrado - teve origem com o duplo assassinato do ex-prefeito da Serra José Maria Feu Rosa e do motorista dele, Itagildo Coelho, em 8 de junho de 1990, em Itabela, Bahia.

João Henrique Filho, o Joãozinho. Assassino de Carlos Batista . (Sérgio Cardoso - 26/05/1985)

Os dois foram executados a tiros quando seguiam para a fazenda de Feu Rosa por um grupo de pistoleiros, em sua maioria policiais e ex-policiais militares. Logo após o duplo homicídio, ocorreram pelo menos oito crimes e a suspeita era de queima de arquivo.

No ano seguinte, em 24 de janeiro de 1992, o advogado Carlos Batista de Freitas foi assassinado. Segundo o Ministério Público Estadual (MPE), ele tinha sido contratado pelos mandantes do assassinato do ex-prefeito da Serra e de seu motorista para defender os acusados. Mas como os seus honorários não foram pagos, havia o temor de que ele divulgasse um dossiê contando os detalhes da morte. Joãozinho foi um dos condenados por este crime, como executor do advogado.

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Pelo assassinato de Carlos Batista foram condenados, além de Joãozinho, o soldado da PM Geraldo Antônio Piedade Elias, que está preso, e o ex-prefeito da Serra Adalton Martinelli, que cumpre pena em regime aberto. Joãozinho foi julgado à revelia, por ter fugido da Casa de Custódia de Vila Velha pela porta da frente, no ano 2000.

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