Publicado em 12 de maio de 2020 às 19:23
Você já imaginou se o momento atual pudesse ter sido descrito com antecedência para que a sociedade pudesse se preparar? Pois é, um livro brasileiro de ficção científica, escrito em 2014, trouxe, ainda que sem querer, uma projeção de uma "pandemia viral psicossomática" que atingiria a Terra em 2020. Um trecho da obra "A Realidade de Madhu" começou, então, a repercutir nas redes sociais. A reportagem buscou compreender, diretamente com a autora, a designer de interiores e ex-naturóloga, Melissa Tobias, de 42 anos, que reside em Brasília, até que ponto a história seria mera coincidência.
Para a autora, a forma como o fragmento do livro surgiu também não é necessariamente clara, mas ela também tem pensado sobre o assunto. Melissa contou que, cerca de seis anos atrás, quando foi lançada a obra, estava em um momento de estudos sobre espiritualidade e misticismo, sendo também praticante assídua da meditação.
"É difícil responder como surgiu a projeção porque eu também não sei. Mas tenho uma hipótese: acredito que quando estou em processo criativo, escrevendo, fico em estado meditativo, a mente se acalma e acabo me conectando mais com a minha alma. Pode ser isso. E nossa alma sabe tudo, somos seres iluminados, é o ego que nos cega. Dei espaço para minha alma falar".
"A Realidade de Madhu" conta a história de uma adolescente comum, como outra qualquer, que é abduzida e vai parar em uma grande nave espacial, que é uma espécie de universo à parte. Lá, ela deverá lidar com os medos mais profundos. "Ela é meu alter ego, tem muito de mim na história", disse a escritora.
Madhu, a personagem principal, deveria, no contexto da ficção, superar os medos que tinha para tornar-se uma "semente estelar", ou seja, alguém que poderia ajudar o planeta Terra em um processo de transição. "Tanto nos Vedas, quanto na Kabbalah e em outras filosofias, fala-se de um processo planetário que estamos passando. Não tem como determinar uma data exata, mas o Chico Xavier teria dado o prazo final de 2019 para o início, então me baseei nessa data para o livro".
Melissa contou que se baseou em variadas filosofias para explicar o porquê do ano de 2020 ser o escolhido para uma pandemia, deixando claro, no entanto, que não teve a pretensão de fazer uma previsão que viesse a se tornar realidade. A data escolhida acabou sendo uma coincidência descrita em um livro de ficção científica.
Melissa Tobias
EscritoraMelissa Tobias, que se viu escritora "por acaso", contou que a ficção sobre a adolescente que é abduzida foi o primeiro livro que escreveu. "Foi com ele que descobri que era capaz de escrever. Foi uma surpresa para mim. Eu tinha o propósito de escrever um sonho que tive, para lembrar dele depois. Fui indo e quando me dei conta já continha mais de 100 páginas. Percebi aí que poderia ser um livro. Depois dele publiquei mais três", contou.
Para ela, a repercussão também foi inesperada, com diversas mensagens sendo recebidas e entrevistas dadas. "Ainda não entendo por que tanta repercussão". Tobias frisou, apenas, que não gostaria que as pessoas interpretassem a obra como um livro religioso ou de auto-ajuda, buscando alguma espécie de "salvação" nele, mas que apenas servisse ao entretenimento e à diversão, como devem ser os livros de ficção. "A arte tem o poder de ajudar, expandindo a consciência, mas não é esse o propósito maior deste livro, é o de divertir", explicou.
Apesar das semelhanças da pandemia descrita no livro e da doença em curso no mundo hoje, a escritora faz questão de deixar claro que há diferenças evidentes entre a narrativa e a realidade: "A Covid-19 não deverá matar tanta gente como colocado no livro, espero mesmo que não aconteça isso, esse número (mais de três bilhões) não acontecerá, não faz sentido".
Reflexiva e preocupada com a responsabilidade que ela teria por ter escrito algo que se aproximou da pandemia do novo coronavírus, Melissa, que gosta de estudar a espiritualidade, desabafou. "Tenho medo de desapontar a Deus. Eu acho que nada é por acaso, tem um motivo para eu ter escrito algo assim, eu ainda não sei qual é o propósito. Mas eu espero fazer o que Deus espera de mim", finalizou.
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