A exposição da demissão nas redes sociais pode causar prejuízo à imagem do profissional
A exposição da demissão nas redes sociais pode causar prejuízo à imagem do profissional. Crédito: Freepik

Saiba os riscos para a carreira ao postar a demissão em redes sociais

Empresas estão atentas ao comportamento dos profissionais nas plataformas; postagens de demissões ocorridas nos Estados Unidos viralizaram nas últimas semanas

Tempo de leitura: 6min
Vitória
Publicado em 10/02/2024 às 08h53

Expor o local onde trabalha, mostrar a rotina dentro da empresa e até a hora da demissão se tornaram frequentes nas redes sociais nos últimos tempos. O comportamento já é moda nos Estados Unidos. Mas o que seria uma postagem “inocente” pode se transformar em desastre para a carreira no futuro. Isso porque profissionais de recrutamento estão atentos ao conteúdo divulgado nas plataformas digitais. Essa questão viralizou após a divulgação no Instagram, X (antigo Twitter) e TikTok de vídeos gravados no momento em que funcionários recebiam a notícia sobre seus desligamentos. 

Um exemplo de exposição do momento de desligamento tomou conta do TikTok no mês passado com a postagem da norte-americana Brittany Pietsch. A executiva de contas na empresa de Tecnologia da Informação Cloudflare postou um vídeo de nove minutos com a legenda: “Quando você sabe que vai ser demitida e grava.”

O caso aconteceu no dia 12 de janeiro deste ano e mostra a reação exaltada da profissional quando dois representantes da companhia, que ela não conhecia, explicam os motivos do desligamento. 

Neste caso, segundo a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, seccional Espírito Santo (ABRH-ES), Neidy Christo, a razão alegada pela empresa foi o desempenho, mas, na realidade, houve outras 40 demissões naquela companhia no mesmo período.

O momento de uma demissão é difícil, tanto para a empresa quanto para quem está sendo demitido, lembra a presidente da entidade. Neidy alerta que o processo de desligamento precisa ocorrer de forma mais humanizada.

Neidy Christo

Presidente da ABRH-ES

"No caso dessa moça, o gestor que lidava com ela no dia a dia não participou do processo. As pessoas que falaram com ela não tinham respaldo nenhum para fazer qualquer tipo de avaliação. Demissões acontecem o tempo todo no mercado de trabalho, mas a forma de se fazer vai impactar também na reputação da empresa"

Em uma situação semelhante, a também norte-americana Folashade Ade-Banjo, que trabalhava como profissional de marketing em uma gigante da tecnologia de Los Angeles, falou para a câmera enquanto posicionava seu telefone. “Estou prestes a ser demitida e vocês estão prestes a ver isso”. O fato aconteceu no final de janeiro. 

O vídeo, com cinco minutos de duração, passou de meio milhão de visualizações e mostra a profissional sentada em sua mesa, com uma expressão de dor no rosto, enquanto era demitida. Folashade comentou na postagem que uma de suas resoluções para este ano era de ser muito mais aberta e honesta com as coisas com as quais luta em sua própria vida.

“Parte disso é realmente mostrar partes da minha vida que podem não ser tão glamourosas”, complementa.

A psicóloga e diretora da Psico Store, Martha Zouain, avalia que a exposição da demissão nas redes sociais é um processo delicado não apenas para quem deixa a empresa, mas também para quem fica.

Para quem é demitido, o sentimento gerado pode ser ruim, de dúvidas sobre o que fez para ser dispensado. Segundo ela, a maneira como a liderança informa a demissão impacta diretamente na reputação da própria organização e até no estabelecimento de uma relação saudável entre a empresa e os profissionais que permanecem.

Martha Zouain

Psicóloga

"Demissão não é reunião de feedback, mas é o momento de dizer com clareza o porquê do desligamento para que este profissional tenha a oportunidade de rever sua própria posição e não incorrer no mesmo erro em outras empresas"

Consequências para a carreira

Neidy Christo, da ABRH-ES, adverte sobre os perigos que envolvem a prática de postar a demissão nas redes sociais e lembra que casos assim têm ocorrido com uma certa frequência em outros países. A ação é resultado da conduta adotada por algumas pessoas que falam muito de suas rotinas diárias na internet.

Antes de mais nada, Neidy alerta que é preciso bom senso antes de postar qualquer tipo de assunto nas redes. Para ela, não há problema em compartilhar aquilo que é pessoal, mas sim quando a postagem envolve outras pessoas ou a empresa. "Sabemos que, a partir do momento que cair na rede, o assunto vai poder ser usado pelo mundo inteiro."

A executiva explica que, quando você se expõe e coloca uma demissão ou qualquer outra coisa que aconteceu na empresa nessas plataformas, futuramente essa postagem pode te prejudicar. Isso porque os recrutadores estão atentos aos conteúdos postados nas redes sociais. É bom lembrar que, dependendo da postagem, o profissional pode perder uma nova oportunidade.

“É uma prática checar as plataformas antes de contratar. Isso serve para verificar como é a vida da pessoa no dia a dia, o que ela faz fora da empresa, se sua conduta está de acordo com os valores praticados na cultura da organização, entre outros pontos. Por isso, é fundamental ter consciência das coisas que o profissional faz na empresa para que isso não impacte em uma futura contratação”, comenta.

Neidy ressalta que muitas empresas contam com um código de conduta interna pelo qual fica claro sobre o que é permitido ou não falar do ambiente corporativo. Isso serve tanto para assuntos estratégicos da companhia quanto para fazer vídeos mostrando áreas em que a segurança é fundamental.

“Antes de postar qualquer coisa, o profissional precisa avaliar qual o tipo de impacto que aquilo vai ter em sua vida e na sua carreira. Pense nas consequências que qualquer tipo de postagem, independentemente se é em vídeo ou por escrito. Lembre-se que isso vai ficar registrado”, pondera.

Alexia Bisi, advogada trabalhista do Brum Kuster, Marques e Fragoso Advogados, recomenda que o momento da demissão seja feito de forma reservada, sem a participação de outros colaboradores, evitando constrangimentos desnecessários.

Ela observa que, em regra geral, a dispensa sem justa causa é permitida por lei. Contudo, o processo deve ser conduzido com sensibilidade e respeito aos direitos do trabalhador. A sugestão da profissional é que a empresa reserve um momento presencial para comunicar a demissão.

“É fundamental instituir normas internas que proíbam o uso de celular durante esse momento e, dessa forma, garantam o sigilo das comunicações”, destaca.

Para colaboradores, Alexia lembra que há diversas implicações em gravar uma demissão e, pior, para o caso de que um vídeo venha a viralizar nesse sentido.

Segundo ela, esse tipo de vídeo e conteúdo pode gerar:

  • Violação a políticas internas referentes, por exemplo, aos procedimentos internos de RH, em rescisões contratuais.
  • Constrangimento e prejuízos à imagem da empresa diante da viralização dos vídeos, o que, inclusive, cabe reclamação trabalhista contra o ex-funcionário a fim de que sejam reparados eventuais prejuízos, gerando muitas vezes indenizações por danos morais.
  • Fora a própria exposição que esse ex-funcionário faz da sua própria conduta para as demais empresas. Pense: qual é o interesse de uma futura empresa em um colaborador que faz filmagens escondidas, divulgando procedimentos internos em redes sociais?
  • Esse profissional prejudica o seu próprio avanço no mercado de trabalho.

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) entende que o direito à privacidade não é absoluto, considerando a limitação do acesso a provas documentais pelos funcionários, como lembra a advogada. No entanto, Alexia enfatiza que a gravação não autoriza a divulgação pública do conteúdo, isto é, limita-se à utilização como provas judiciais em processos em que há observância da preservação de dados evitando prejuízos à imagem da empresa.

“Alertamos que a divulgação pública de gravações da demissão pode resultar em penalidades legais para o colaborador, uma vez que a empresa pode buscar reparação por danos sofridos. Esperamos que essas orientações contribuam para uma abordagem ética e legal nos processos de demissão”, aponta a advogada.

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