Publicado em 28 de setembro de 2020 às 19:41
O governo federal divulgou nesta segunda-feira (28) a proposta para o novo programa social que substituirá o Bolsa Família. Em poucas horas, o projeto do Renda Cidadã que antes era chamado de Renda Brasil foi alvo de críticas, não pela ampliação da ajuda financeira à população mais pobre, mas sim pela maneira como o governo pretende financiar essa despesa extra. >
Segundo o senador Márcio Bittar (MDB-AC), que participou da reunião de apresentação da proposta com o presidente Jair Bolsonaro e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), há previsão de duas fontes de receita. >
Uma delas é o Fundeb (Fundo Nacional da Educação Básica), que teria 5% dos novos recursos destinada ao programa social. Hoje, o fundo é o principal mecanismo de financiamento federal da educação básica. >
A outra são os precatórios, ou seja, o recurso que o governo destina anualmente para pagar indenizações a empresas e pessoas físicas determinadas pela Justiça. A ideia é que esse montante fique limitado a 2% da Receita Corrente Líquida, que é o somatório que de tudo que o governo recebe sob forma de imposto deduzido das transferências previstas na Constituição. O que ultrapassar os 2% também iria abastecer o Renda Cidadã.
>
>
Para especialistas, os meios de financiamento do novo programa federal fere preceitos jurídicos e lesa parte da população, seja atrasando ainda mais o pagamento dos precatórios, direito já concedido pelo Judiciário, seja privando a Educação de parte de seu financiamento. >
"Entendo que essa medida fere algumas disposições legais e até preceitos de natureza constitucional, na medida em que os precatórios são uma ordem de pagamento que deriva de ação judicial que o cidadão ganhou em face da União. Quanto ao Fundeb, o Brasil é tão carente em investimento em educação e o calendário orçamentário que destina verba para essa área não pode ser violado", avalia advogado e especialista em Direito Público Eduardo Sarlo.
>
A economista e professora da Fucape Arilda Teixeira afirma que, com a proposta, o presidente mostra desprezo pela responsabilidade fiscal e dá um "carrinho por trás" na política econômica. A expressão foi usada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, após ser criticado por Bolsonaro pelas proposições anteriores de financiamento do programa social, quando ainda era chamado de Renda Brasil.
>
"Bolsonaro descobriu que os pobres também são eleitores, também votam, também avaliam governo. Ele resolveu então garantir esse beneficio e, para fazer isso, está passando por cima dos limites fiscais. O benefício que esse gasto pode trazer em relação aos menos favorecidos pode ser anulado com o custo que o desequilíbrio fiscal traz. Se furar o teto do gasto, a política econômica para", avalia.
>
Em poucos minutos, a proposta também foi alvo de críticas por parte da cúpula do Congresso. À Folha, auxiliares do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), consideram que financiar o programa com recursos destinados ao pagamento de precatórios é inadmissível e classificaram a medida como calote.>
Além disso, disseram considerar que o uso de recursos do Fundeb para abastecer o programa desrespeita o teto de gastos. Isso porque o dinheiro do Fundeb não está sujeito a esse limite.>
Pelas redes sociais, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, chamou os meios escolhidos pelo governo para financiar o Renda Cidadã de "manobra" para "esconder fuga do teto de gastos".
>
Bittar, que é relator do Orçamento do ano que vem, disse que as regras serão incorporadas à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial, que traz medidas do pacto federativo e de ajuste fiscal. Ele também é o relator desse texto.>
Com o Renda Cidadã, Bolsonaro tem buscado sustentar seu recente aumento de popularidade na esteira do auxílio emergencial criado na pandemia da Covid-19. >
Veja abaixo o que já se sabe sobre o projeto de cria o programa Renda Cidadã:>
Segundo o governo, o Renda Cidadã terá mais beneficiários que o Bolsa Família, pois incluirá os brasileiros mais pobres, chamados de "invisíveis", e que não constam atualmente em nenhum dos cadastros de programas sociais do governo. Essa parcela da população foi "descoberta" a partir do pagamento do auxílio emergencial. O Bolsa Família atende atualmente a 14,28 milhões de famílias no Brasil.
>
O Orçamento do Bolsa Família para 2021 está previsto em R$ 34,9 bilhões. Segundo entrevista de Bittar ao Estadão, "a proposta que foi desenhada traria pelo menos R$ 30 bilhões a mais". Ou seja, com a reformulação, o valor gasto pela União pode passar dos R$ 60 bilhões no próximo ano.
>
A proposta do governo é que o Renda Cidadã seja bancado parte com dinheiro hoje destinados ao pagamento de precatórios e parte com recursos do Fundeb. Especialistas questionam a legalidade dessas fontes.
>
A expectativa é que o valor recebido por cada beneficiário fique entre R$ 200 e R$ 300, segundo entrevista de Bittar para o colunista do G1 Gerson Camarotti. Esse valor, contudo, ainda não foi anunciado oficialmente. Inicialmente, quando o programa ainda se chamava Renda Brasil, Bolsonaro planejava que o benefício tivesse valor de R$ 300. Integrantes da equipe econômica disseram que, para chegar nessa cifra, deveriam ser feitos cortes em outros benefícios sociais, o que desagradou ao presidente. No dia 15 de setembro, ele chegou a dizer que estava proibido se falar de Renda Brasil no governo, mas retrocedeu e mudou o nome do programa.
>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta