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Fim da desoneração da folha ameaça mais de 130 mil empregos no ES

Fim da desoneração da folha ameaça mais de 130 mil empregos no ES

Benefício permite que empresa substitua recolhimento de 20% de imposto sobre sua folha de salários por alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta em 17 setores da economia

Publicado em 29 de novembro de 2023 às 15:20

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Carteiro de trabalho
Carteira de trabalho: em todo o país, os 17 setores impactados com o fim da desoneração são responsáveis por 9 milhões de empregos. ( Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O veto presidencial ao projeto que estendia por mais quatro anos a desoneração da folha de pagamento — espécie de incentivo fiscal destinado a 17 grandes setores da economia — ameaça mais de 130 mil empregos no Espírito Santo. 

A medida foi implantada em 2011 e vinha sendo prorrogada, atendendo a uma demanda dos setores que mais empregam no país. A desoneração atual tem validade até 31 de dezembro de 2023. Em todo o país, os 17 setores impactados com o fim da desoneração são responsáveis por 9 milhões de empregos.

A desoneração da folha substitui a contribuição previdenciária patronal de empresas que são intensivas em mão de obra, de 20%, por alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta. Essa troca reduz custos com contratações para atividades como têxtil, calçados, construção civil, call center, comunicação, fabricação de veículos, tecnologia e transporte. Se o veto do presidente não for derrubado, a medida terminará no fim deste ano. Mas já há uma movimentação de derrubada do veto no Congresso Nacional.

Fim da desoneração da folha ameaça mais de 130 mil empregos no ES

A estimativa do total de postos de trabalho impactados nos setores de indústria, serviços, transportes e construção foram feitas com base no painel de informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego, de 2021, último com informações completas disponíveis. Na época, nos setores afetados pela medida, havia 136 mil pessoas empregadas. Em todo o Estado eram mais de 941 mil pessoas empregadas ao fim de 2021.

Entre as 17 categorias de que trata o projeto estão:

  • Indústria (couro, calçados, confecções, têxtil, proteína animal, máquinas e equipamentos);
  • Serviços (TI &TIC, call center e comunicação)
  • Transportes (rodoviário de cargas, rodoviário de passageiros urbano e metroferroviário)
  • Construção (Construção Civil e Pesado)

A justificativa do governo federal para o veto da medida, após serem ouvidos os Ministérios do Planejamento e Orçamento e da Fazenda, é de se tratar de uma proposição inconstitucional por “criar renúncia sem apresentar demonstrativo de impacto orçamentário-financeiro para o ano corrente e os dois seguintes, com memória de cálculo, e sem indicar as medidas de compensação".

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, alegou que a proposta é inconstitucional e se comprometeu em apresentar alternativas após a aprovação da reforma tributária e dos projetos que aumentam a arrecadação, como a taxação das apostas esportivas e dos investimentos de brasileiros no exterior – offshore – e de fundos exclusivos.

Impactos

Para o advogado tributarista Samir Nemer, um dos impactos da medida, caso o veto seja mantido, é colocar empregos em risco.  Além disso, lembra que as mudanças podem se refletir também no valor dos serviços no futuro, prejudicando o cidadão. "O transporte público passa a ser onerado. Uma hora ou outra isso vai se refletir no preço da passagem", diz.

O custo da contratação estando mais alto com a medida também diminuiu a competitividade do setor produtivo do Brasil, na sua avaliação. "Foi uma matéria aprovada amplamente pela Câmara e pelo Senado pela importância do tema. A gente tem um exército de desempregado do Brasil, não é razoável onerar as contratações", detalha.

Nemer destacou ainda que um estudo do Caged apontou que os 17 setores beneficiados pela desoneração da folha tiveram aumento de 15,5% de geração de emprego, contra 6,8% dos outros.  

O advogado lembra que a desoneração da folha de pagamento foi um assunto em que representantes dos trabalhadores e patrões acabaram do mesmo lado. Na semana passada, a Central dos Sindicatos Brasileiros, Força Sindical e União Geral dos Trabalhadores emitiram uma nota conjunta afirmando que a decisão se deu sem debate com o movimento sindical, sobretudo dos setores mais afetados.

"O veto coloca milhões de empregos em risco, estimula a precarização no mercado de trabalho e levará ao fim do ciclo, conduzido pelo Ministério do Trabalho, de redução do desemprego. O resultado será perda de arrecadação, insegurança e empregos de menor qualidade", afirmaram as entidades.

Prejuízos

Os setores diretamente impactados com as mudanças apontam que a decisão do governo federal implica na redução de postos de trabalho e vai na contramão da necessidade do país de geração de emprego.

Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) se manifestou de forma divergente ao governo federal, por entender que a manutenção da desoneração é fundamental para garantir a competitividade das indústrias nacionais e a preservação de empregos. A Findes destaca que os setores atualmente desonerados são fundamentais para a economia capixaba. E acrescentou que, dos 130 mil empregos formais nas áreas, 85.879 são ligados ao segmento industrial. 

A Findes informou que, segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no geral, a cada 10% de desoneração da folha de salários, estima-se um aumento de 3,4% do emprego formal. De acordo com estudos do Ministério da Economia, a desoneração também aumenta a probabilidade de ingresso no mercado de trabalho em cerca de 3%. Ou seja, os setores desonerados apresentaram maior probabilidade de contratação de mão de obra.

"Diante disso, para a Findes, medidas que comprometem a competitividade nacional prejudicam o crescimento econômico e o fortalecimento da indústria. Dessa forma, o veto presidencial e o consequente fim da desoneração podem resultar na redução de oportunidades e investimentos privados no país", afirma Cris Samorini, presidente da Findes.

Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Espírito Santo (Sinduscon-ES), junto à Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), lamenta o veto presidencial sobre o projeto que prorroga a desoneração da folha de pagamento até 2027.

"Para a construção, uma das atividades que mais emprega no país, é essencial manter o processo de desoneração vigente desde 2011. A construção é intensiva de profissionais e deixar a tributação sobre a mão de obra limita as possibilidades de contratação e induz a perda de postos de trabalho. O setor produtivo precisa de segurança jurídica e previsibilidade para contribuir com a geração de emprego e renda e com a competitividade do país", informou a entidade. 

A presidente do Sindilojas de Vila Velha, Glenda Amaral, também defendeu a manutenção do benefício. “O veto à desoneração da folha de pagamento impacta diretamente nos custos que as empresas têm no geral com os tributos. A desoneração da folha estimula o aumento do emprego na economia, estimulando as atividades produtivas”, aponta.

E acrescenta que não ter a desoneração faz com que as empresas tenham dificuldades em estarem competitivas quanto aos mercados interno e externo.

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